O CENTRO ESPÍRITA
A
Doutrina Espírita, ou Espiritismo, tem como lema a liberdade de expressão.
Assim, não há um órgão centralizador, como ocorre, por exemplo, na Igreja
Católica. Há apenas os princípios básicos que sustentam a Doutrina, ou seja: A existência
de Deus, dos Espíritos, a possibilidade da comunicação com eles, a existência
do mundo espiritual, da Lei de causa e efeito e a reencarnação.
Diante disso, cada Centro Espírita tem a possibilidade de praticar as atividades doutrinárias da maneira que achar melhor, desde que alicerçada no Pentatêuco Kardequiano.
Diante disso, cada Centro Espírita tem a possibilidade de praticar as atividades doutrinárias da maneira que achar melhor, desde que alicerçada no Pentatêuco Kardequiano.
O pensamento de Kardec sobre
o Centro Espírita
A importância do Centro Espírita é tal que o próprio
Kardec houve por bem dar instruções precisas a respeito do seu funcionamento,
como se lê no capítulo XXIX de O
Livro dos Médiuns, intitulado Das Sociedades Espíritas.
Extrairemos dessas instruções alguns pontos que se
afiguram básicos ao norteamento do nosso estudo. Assinala o Codificador, logo
no início do referido capítulo, que […] as reuniões espíritas oferecem
grandíssimas vantagens, por permitirem que os que nelas tomam parte se
esclareçam, mediante a permuta das ideias, pelas questões e observações que se
façam, das quais todos aproveitam.
Mas, para que produzam todos os frutos desejáveis,
requerem condições especiais, que vamos examinar, porquanto erraria quem as
comparasse às reuniões ordinárias. (1) Mais adiante, prossegue: O
objetivo de uma reunião séria deve consistir em afastar os Espíritos
mentirosos. Incorreria em erro, se se supusesse ao abrigo deles, pelos seus
fins e pela qualidade de seus médiuns. Não o estará, enquanto não se acharem
condições favoráveis. […] Imagine-se que cada indivíduo está cercado de
certo número de acólitos invisíveis, que se lhe identificam com o caráter, com
os gostos e com os pendores.
Assim sendo, todo aquele que entra numa reunião traz
consigo Espíritos que lhe são simpáticos. Conforme o número e a natureza deles,
podem esses acólitos exercer sobre a assembleia e sobre as comunicações
influência boa ou má. Perfeita seria a reunião em que todos os assistentes,
possuídos de igual amor ao bem, consigo só trouxessem bons Espíritos. Em falta
da perfeição, a melhor será aquela em que o bem suplante o mal.
[…] (2)
Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e
propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora,
este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for. (3) E arremata: Toda
reunião espírita deve, pois, tender para a maior homogeneidade possível. (4) A seguir, aborda a questão
da regularidade das reuniões, esclarecendo ser este um ponto não menos
importante.
Diz o Codificador: Em todas [reuniões], sempre
estão presentes Espíritos a que poderíamos chamar frequentadores habituais, sem
que com isso pretendamos referir-nos aos que se encontram em toda parte e em
tudo se metem. Aqueles são os Espíritos protetores […]. Ninguém suponha
que esses Espíritos nada mais tenham que fazer, senão ouvir o que lhes
queiramos dizer, ou perguntar. Eles têm suas ocupações e, além disso, podem
achar se em condições desfavoráveis para serem evocados. Quando as reuniões se
efetuam em dias e horas certos, eles se preparam antecipadamente para
comparecer (….). (5)
Entrando no assunto das Sociedades Espíritas propriamente
ditas, diz Kardec: Tudo o que dissemos das reuniões em geral se aplica
naturalmente às Sociedades regularmente constituídas, as quais, entretanto, têm
que lutar com algumas dificuldades especiais, oriundas dos próprios laços
existentes entre os seus membros. […].
O Espiritismo, que apenas acaba de nascer, ainda é
diversamente apreciado e muito pouco compreendido em sua essência, por grande
número de adeptos, de modo a oferecer um laço forte que prenda entre si os
membros do que se possa chamar uma Associação, ou Sociedade. Impossível é que
semelhante laço exista, a não ser entre os que lhe percebem o objetivo moral, o
compreendem e o aplicam a si mesmos. Entre os que nele veem fatos mais ou menos
curiosos, nenhum laço sério pode existir. Colocando os fatos acima dos
princípios, uma simples divergência, quanto à maneira de considerá-los, basta
para dividi-los. O mesmo já não se dá com os primeiros, porquanto, acerca da
questão moral, não pode haver duas maneiras de encará-la.
Tanto assim que, onde quer que eles se encontrem,
confiança mútua os atrai uns para os outros e a recíproca benevolência, que
entre todos reina, exclui o constrangimento e o vexame que nascem da
suscetibilidade, do orgulho que se irrita à menor contradição, do egoísmo que
tudo reclama para a pessoa em quem domina.
Uma Sociedade, onde aqueles sentimentos se achassem
partilhados por todos, onde os seus componentes se reunissem com o propósito de
se instruírem pelos ensinos dos Espíritos e não na expectativa de presenciarem
coisas mais ou menos interessantes, ou para fazer cada um que a sua opinião
prevaleça, seria não só viável, mas também indissolúvel. (6)
Continua o Codificador: Já vimos de quanta importância
é a uniformidade de sentimentos, para a obtenção de bons resultados.
Necessariamente, tanto mais difícil é obter se essa uniformidade, quanto maior
for o número [de participantes]. Nos agregados pouco numerosos, todos se
conhecem melhore há mais segurança quanto à eficácia dos elementos que para
eles entram.
O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se
passa como em família. As grandes assembleias excluem a intimidade, pela variedade
dos elementos de que se compõem; exigem sedes especiais, recursos pecuniários e
um aparelho administrativo desnecessários nos pequenos grupos. A divergência
dos caracteres, das ideias, das opiniões, aí se desenha melhor e oferece aos
Espíritos perturbadores mais facilidade para semearem a discórdia. Quanto mais
numerosa é a reunião, tanto mais difícil é conterem-se todos os presentes. (7)
Orienta ainda Kardec: Visto ser necessário evitar toda
causa de perturbação e de distração, uma Sociedade espírita deve, ao organizar
se, dar toda a atenção às medidas apropriadas a tirar aos promotores de
desordem os meios de se tomarem prejudiciais e a lhes facilitar por todos os
modos o afastamento.
As pequenas reuniões apenas precisam de um regulamento
disciplinar, muito simples, para a boa ordem das sessões. As Sociedades
regularmente constituídas exigem organização mais completa. A melhor será a que
tenha menos complicada a entrosagem. Umas e outras poderão haurir o que lhes
for aplicável, ou o que julgarem útil, no regulamento da Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas […] [1°. Centro Espírita, fundando por
Kardec em 1°. de abril de 1858]. (8)
Finalmente, é importante destacar as condições que,
segundo o Codificador, seriam mais favoráveis para um Centro Espírita atrair a
simpatia dos bons Espíritos. Essas condições, que se relacionam com as
disposições morais dos seus integrantes, são as seguintes: […] Perfeita
comunhão de vistas e de sentimentos; Cordialidade recíproca entre todos os
membros; Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã; Um
único desejo: o de se instruírem e melhorarem, por meio dos ensinos dos
Espíritos e do aproveitamento dos seus conselhos.
[…] Exclusão de tudo o que, nas comunicações pedidas
aos Espíritos, apenas exprima o desejo de satisfação da curiosidade;
Recolhimento e silêncio respeitoso, durante as confabulações com os Espíritos;
União de todos os assistentes, pelo pensamento, ao apelo feito aos Espíritos
[…]; Concurso dos médiuns da assembleia, com isenção de todo sentimento de
orgulho, de amor próprio e de supremacia e com o só desejo de serem úteis.
(9)
Assim, Kardec aponta, como condição básica para o
funcionamento adequado de um Centro Espírita, a conduta moral dos seus
participantes. Defluem dessas considerações do Codificador preciosos
ensinamentos, que, como se verá a seguir, permeiam a moderna concepção de
Centro Espírita.
O Centro Espírita, de Herculano Pires
O Centro Espírita é um Espaço Democrático?
Em uma busca rápida pela internet vê-se que centro
espírita possui várias definições e funcionalidades: escola da alma,
pronto-socorro ou hospital espiritual, lugar onde se faz caridade ou
assistência social, oficina de trabalho, associação, entidade filantrópica,
etc, e todas elas, de certa forma, reproduzem a realidade.
No centro espírita, ocorrem ou podem ocorrer várias
atividades: estudo e divulgação da doutrina com crianças, jovens e adultos,
entrevistas, passes, reuniões e estudos sobre mediunidade e assistência social,
que se desdobra desde distribuição de cestas básicas a formação de caravanas
para coleta de alimentos, até oferecimento de cursos profissionalizantes e
visitas a hospitais, asilos e abrigos, ou ainda fundação e manutenção destes.
Democracia vem do grego: demo – povo e cracia – governo,
ou seja, governo do povo. Basicamente, é um sistema onde todos são convidados a
participar das decisões, seja através de eleições e plebiscitos, seja através
da liberdade de expressão e da manifestação da opinião pessoal ou coletiva.
A maioria dos centros possui eleições para a diretoria,
mas em que medida isso reflete a democracia?
É muito comum existir nos salões das casas espíritas uma
placa onde se lê “O silêncio é uma prece” que visa desencorajar a conversa, o
contato. Várias atividades são interditadas a crianças, jovens e recém
chegados, como a abertura e encerramento dos trabalhos, o comentário de salão,
as reuniões mediúnicas, a aplicação de passes e de aulas, as quais ficam
reservadas aos frequentadores mais antigos, adultos, que já frequentaram outros
cursos e treinamentos, havendo pouca ou nenhuma mobilidade entre elas.
Via de regra, as casas são divididas em departamentos e
não há comunicação entre eles. Muitas vezes, os voluntários de uma área sequer
conhecem os outros.
Os temas do “evangelho” de salão, das aulas e dos cursos
são escolhidos pelos dirigentes da casa ou pelo expositor, ignorando a demanda
daqueles que chegam, suas necessidades e interesses, bem como das comunidades
onde estão inseridas.
Temas atuais mais desafiadores como a questão de gênero,
o machismo e o feminismo, o racismo, o direito dos animais, a desigualdade
social e o aborto como questão de saúde da mulher e respeito ao direito
individual, raramente são levantados.
Não é incomum uma pessoa questionadora ser afastada das
aulas e das decisões e ser encaminhada a tratamento espiritual, tornando dogmas
determinados assuntos. Também não é incomum que algumas destas pessoas se
afastem definitivamente da doutrina espírita.
Num tempo em que há escolas sem muros, escolas nas
florestas, escolas democráticas, em que se busca a autonomia da criança e o
empoderamento das populações historicamente maltratadas, é preciso perguntar se
este modelo de centro corresponde aos anseios de um mundo novo, centrado no ser
humano/espírito eterno ou, simplesmente, em função de que ele existe.
Cláudia R Azevedo
XII — NO CENTRO
DO MUNDO – 3ª Parte
A
Revolução Espírita, continuação e desenvolvimento da Revolução Cristã, suscitou
contra ela todas as forças do mundo embriagado de grandezas terrenas. Mas o Centro
Espírita já estava novamente implantado na Terra, e através dele a segunda
Ressurreição do Cristo, inutilmente esperada por quase dois milênio, a final se
realizava na Ressurreição da sua Doutrina, tão diferente da chamada Doutrina
Cristã das Igrejas.
O
Centro Espírita é hoje a estalagem da Estrada de Emáus na Terra, onde o Cristo
ressuscitado parte o pão da verdade legítima com os discípulo que não o
reconheceram. Nele, e só nele, a Religião não se disfarça em grandezas
perecíveis e artificiais. O que nele se cultivada é a grandeza dos corações
sinceros, devoltados ao amor do próximo. Trabalho, solidariedade e tolerância,
esse o roteiro que Kardec lhe indicou.
Durante
o primeiro século de sua divulgação, o Espiritismo teve de enfrentar violentos
ataques conjugados do Cristianismo oficializado e das instituições culturais de
toda a Civilização Ocidental. Negavam-lhe tudo: lógica, natureza cristã,
posição cientifica e filosófica. Só lhe deixavam a classificação honrosa de
superstição. A honra dessa classificação decorria de sua aplicação anterior ao
Cristo e ao Cristianismo puro dos primeiros tempos. Mas era natural que assim
acontecesse. Cristianismo e Espiritismo surgiram no mundo como oposição à toda
cultura dominante.
O
instinto de conservação dessa cultura — um organismo conceptual vivo e atuante,
que se mostrara capaz de orientar o homem nos caminhos difíceis da ordenação do
mundo — tinham necessariamente de reagir contra as invasões estranhas. O
sociocentrismo agudo e agressivo de Israel, ainda hoje vivo, atuante e
arrogante, então ligado estreitamente à arrogância conquistadora de Roma, teria
de esmagar o invasor.
No
mundo moderno as condições eram as mesmas. As nações herdeiras de Roma e
Bizâncio, reforçadas pela conquista e posse da sabedoria grega e pelo desenvolvimento
cultural da Europa Moderna perceberam a ameaça daquela nova estrutura
conceptual que vinha da rebeldia de Rousseau através de Pestalozzi e explodia
em Paris, centro mundial da cultura, pelas mãos de Kardec, um terrível sofista
(como o julgavam) armado dos poderes pitônicos da magia antiga. Mas o que não
esperavam era que esse “charlatão”, nascido de boa família lionesa, fosse capaz
de sustentar sozinho a luta contra as forças conjugadas do mundo. Kardec, como
Jesus de Nazaré o fizera no passado longínquo, cercou-se de uns poucos
discípulos mal preparados e num período de apenas quinze anos construiu a sua
fortaleza e ganhou mais batalhas do que Napoleão.
O
segredo dessa resistência e dessas vitórias não estava em armas secretas e
misteriosas, mas apenas e exatamente naquilo de que mais se vangloriava a
cultura dominante: o Bom-Senso. Apoiado nessa arma ingênua e frágil, que os
grandes da época desprezavam como resíduo da subserviência burguesa aos
Castelos Feudais, Kardec venceu. Quando, velho e esgotado, morreu do rompimento
de um aneurisma cerebral, o mundo brilhante dos fins do Século XIX
regozijou-se. Mas da mesma maneira porque o Cristo crucificado tornou-se mais
forte e converteu Paulo de Tarso na Estrada de Damasco, Kardec morto tornou-se
invencível e arrebatou Léon Denis para sucedê-lo.
Denis
revelou-se a altura de Paulo. Assombrou Paris com sua estranha cultura de
autodidata, publicou livros que os críticos exaltaram, pronunciou conferências
espíritas nos salões parisienses da alta roda — em que as mesinhas dançantes
haviam provocado piadas e gargalhadas, e como contaria mais tarde o poeta
Gaston Luce, seu amigo, admirador e biógrafo, partiu depois para a Cruzada
Espírita solitária, por toda a Europa. Era um novo Paulo, apóstolo dos gentios,
pregando por toda parte a Doutrina Espírita, consolidando-a no continente.
Enfrentou depois a grande batalha dos Congressos Espiritualistas, nova tática
dos adversários que pretendiam atrelar a nova Doutrina ao carro desgovernado
das envelhecidas e superadas doutrinas espiritualistas do passado.
Tiveram
de entrega-lhe a presidência de vários congressos, e em todos eles Denis
repeliu energicamente as tentativas de mistura do Espiritismo com as formas
imprecisas do Espiritualismo místico e anticientífico, formalista e
tradicionalista. Denis estava sempre em minoria nas assembléias, mas sempre
vencia. Graças a ele, a sua firmeza doutrinária inabalável, à segurança do seu
raciocínio e ao impeto do seu verbo, a tentativa de mistura e confusão
fracassou. Conan Doyle, que traduzira o seu livro Joana d’Ardc-Médium para o
inglês, chamava-o entusiasticamente de O Druida da Lorena. Era realmente um
antigo sacerdote e guerreiro celta que enfrentara nas Gálias os conquistadores
romanos.
Poucos
espíritas sabem das ligações do Mundo Celta com o Espiritismo. Históricamente
essas ligações decorrem das semelhanças doutrinárias entre o Espiritismo e o
Druidismo, religião dos celtas. Na Antigüidade os Celtas ocuparam uma posição
excepcional: eram um povo monoteísta e reencarnacionista, voltado para a poesia
e o canto.. Sua doutrina religiosa era exposta em tríades, pequenos poemas de
três versos. As tríades eram cantadas pelos bardos nas cerimônias religiosas
das selvas, onde construiam seus altares de pedras gigantescas sob as ramagens
dos carvalhos, árvores sagradas. Sua concepção do mundo era também trinária.
O
Mundo se constituía de três hipóstases, planos superpostos, que eram os
seguintes:
1)
GWINFID — a Morada de Deus, plano superior e inacessível.
2)
ABRED — o Circulo da Reencarnação, que é a Terra.
3)
ANUNF — a região das trevas, infernal.
A
mediunidade era exercida como função sagrada pelas druidesas ou sacerdotisas e
pelo bardos, poetas -cantores e médiuns.
O
fato de não terem sido cristãos provoca sempre a crítica das Igrejas Cristãs às
ligações dos druidas com o Espiritismo. Alegam que se tratava de um povo
bárbaro que praticava sacrifícios humanos esquecidos de que também os judeus
praticaram esses sacrifícios, como o atesta a Bíblia e que os essênios ainda os
praticavam no tempo de Jesus. Eram resíduos selvagens que desapareceram com a
evolução dos povos.
Aristóteles
considerou os celtas como o único povo filósofo do mundo. Existem até hoje as
sociedades de cultura celta na Europa, especialmente na França, na Inglaterra,
na Escócia e na Irlanda que foram regiões celtas. Kardec publicou magnifico
estudo sobre os Druidas na Revista Espírita. Os Espíritos Superiores lhe
disseram que ele havia sido nas Gálias o druida Allan Kardec, o que o levou a
assinar os seus livros espíritas com esse nome.Léon Denis também escreveu sobre
os celtas e sua religião e se considerava, como Conan Doyle o considerou, um
druida reencarnado. Vencidos por César, na Travessia do Rubicão, os celtas
foram catequisados pela Igreja, mas a sua religião poética, de que as tríades
nos dão conceitos profundos, permaneceu como objeto de estudo no mundo
cultural.
Críticos
e historiadores superficiais atribuem à Índia e ao Egito o princípio da
reencarnação no Espiritismo. Não é verdade. Kardec recebeu esse princípio dos
Espíritos e submeteu-o a pesquisas científicas que provaram a sua realidade. A
pesquisa sobre a reencarnação continua em realidade. A pesquisa sobre a
reencarnação continua em nossos dias em plano universitário. É um capítulo das investigações
parapsicológicas, inclusive na URSS, onde o Prof. Wladimir L. Raikov a realiza
há anos na Universidade de Moscou. Por imperativos político do Estado de
fundamentos materialistas, a pesquisa é feita na Rússia sob a designação de
reencarnações sugestivas, fenômeno paranormal que altera o comportamento de
certas pessoas.
No
Centro Espírita a reencarnação é tratada como fenômeno de manifestação de
existenciais anteriores, conservadas na memória subliminar e às vezes aflorada
na mente e no cérebro atual. As pesquisas cientificas de hoje, como as de Ian
Stevenson, já publicadas em nossa língua, e as de Hamendras Barnejee, em vias
de tradução, só têm confirmado as pesquisas espíritas de Kardec.
O
método mais usado pelos cientistas atuais é o da análise e aprofundamento das
lembranças espontâneas de vidas passadas. Na Rússia tem sido aplicado o método
hipnótico de regressão da memória, instituído na França pelo Cel. Albert De
Rochas, quando diretor do instituto Politécnico de Paris. Nos Centros há geralmente
manifestações anímicas ( da própria alma do médium) que constituem regressões
espontâneas e automáticas do médium a vidas anteriores, revelando a sua
personalidade anterior. Cada Centro dispões das entidades amigas que orientam
os seus trabalhos. O Centro Espírita bem dirigido por pessoas sensatas e
estudiosas é uma concha acústica em que ressoam as vozes e os pensamentos dos
Espíritos e dos Homens, no diálogo dos mundos, pois nele se encontram o mundo
espiritual e o mundo terreno, nas possibilidades abertas pelos dons mediúnicos
de que todos dispomos.
Os
que deturpam a finalidade superior do Centro Espírita, sejam dirigentes ou frequentadores
só interessados em vantagens imediatas, perdem a oportunidade de se elevarem a
uma visão superior do mundo, do homem e da vida. Se cada frequentador do Centro
quiser ajudá-lo na sua missão superior de preparar os homens para um mundo
melhor, a dinâmica do Centro se intensificará para o bem de todos.
"Se
os espíritas soubessem o que é o Centro Es pírita, quais são realmente a sua
função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante
movimento cultural e espiritual da Terra. Temos no Brasil e isso é um consenso
universal -o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A
expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo
acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um
esforço imenso de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões
decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos,
desligados da realidade imediata".
XII — NO CENTRO
DO MUNDO – 2ª Parte
As
Filosofias Existenciais nasceram do desespero e da Impotência de Kierkegaard,
teólogo protestante dinamarquês, que sofria a angústia de existir solitário,
sem poder comunicar-se com ninguém, nem mesmo com a sua noiva. Por isso
desmanchou o noivado. Kierkegaard era um gênio, contemporâneo de Kardec, mas
condicionado pela angústia que herdara do seu próprio passado.
Chegou
à conclusão de que o homem só pode realmente comunicar-se com uma entidade
misteriosa, que é Deus. Chamou-o de O Outro. Dos seus diálogos metafísicos com
O Outro nasceram as Filosofias da Existência. Nessa mesma época, meados do
século passado, Kardec descobria que a Existência é Comunicação.
Os
homens existem porque se comunicam entre si, com os Espíritos, com a própria
Natureza e com Deus. Kardec também, como todas as criaturas, era condicionado
pelo seu passado, pelas heranças biológicas, pela cultura em que nascera, e era
também um Gênio que definiu Deus como inteligência.
No
condicionamento de Kardec, homem de Ciências e não teólogo, havia mais abertura
para a realidade. Ele fundou e desenvolveu a Ciência Espírita, enquanto a
Filosofia de Kierkegaard foi fundada e desenvolvida pelos seus discípulos,
tornando-se a Filosofia do Século XX. Vemos que as condições e os meios de ação
de ambos eram diferentes, mas um e outro agiram como seres conscientes de si
mesmos, de seus poderes e de suas limitações.
As
Filosofias da Existência, à revelia de Kierkegaard, que nem sequer sabia das
atividades de Kardec, endossaram os princípios da Filosofia Espírita, que
nasceu naturalmente do desenvolvimento da Ciência Espirita em todos os seus
princípios fundamentais.
Mais
tarde, Kardec Jaspers, filósofo alemão existencial, demonstrou que a
transcendência do homem na existência se faz pela comunicação em dois sentidos:
1) a transcendência horizontal, na comunicação humana de homens com homens; 2)
a transcendência vertical na comunicação do homem com Deus, a única admitida
por Kierkegaard, em virtude de seu pesado condicionamento teológico.
É
evidente que havia uma intenção oculta nessa coincidência do encontro à
distância de Kierkegaard e Kardec no mesmo século para o nascimento de uma nova
cultura na Terra.
Tanto
um como outro agiram e pensaram por si mesmos, na medida de seus
condicionamentos, com plena consciência do que faziam incompreendidos até que a
cultura terrena adquirisse dimensões para abrangê-los em sua estrutura. Hoje,
graças à rápida evolução cultural dos últimos tempos, Existencialismo e
Espiritismo são elementos fundamentais de um novo mundo e uma nova cultura. A
palavra existência tornou-se um conceito filosófico básico em nosso tempo. O
homem vive, como vivem as plantas e os animais. Mas o homem existe quando não
se limita apenas a viver.
A
existência é a ciência consciente do homem que sabe por que vive e não se
conforma com o simples viver. O objetivo da existência é a superação da
condição humana para que o homem atinja a divindade. Então ele não é apenas um
homem, mas um existente.
Para
Kardec, a evolução humana se faz nas existências sucessivas, em direção à
Angelitude, que é o plano espiritual imediatamente superior ao da Humanidade.
Sartre, cético e materialista , sustenta que o homem se frustra na morte, não
chegando jamais à Angelitude . Mas Martin Heidegger, o maior filósofo alemão
contemporâneo , afirma que: “O homem se completa na morte” .
O
Centro Espirita, como já vimos, não se limita a consolar os aflitos com
palavras. Ele prova objetivamente a sobrevivência do homem para após a morte,
mostra a ação dos espíritos e o papel preponderante que eles desempenham na
vida de todos nós. Graças a ele, surgiram no mundo, pelas investigações de
cientistas eminentes, as Ciências Psíquicas que hoje desembocam na
parapsicologia, e através das pesquisas realizadas nos maiores centros
universitários do Mundo confirmou-se a realidade espírita. Nenhuma pessoa de cultura
pode negar que a visão espirita do Mundo está produzindo na Terra uma nova e
esplendente cultura, uma Nova Civilização.
A
metamorfose religiosa é um processo de depuração, como vimos no caso dos
templos. Dos grandes monumentos da Antiguidade até o aparecimento das igrejas
modestas dos primórdios cristãos , vemos que a religião se despoja de suas
grandezas exteriores para buscar a interioridade. Não obstante, o processo de
interiorização sofre uma queda violenta no período medieval. A suntuosidade exterior
volta com as catedrais , as basílicas, os Palácios cardinalícios ou Episcopais,
os grandes mosteiros. Há uma invasão das forças históricas no desenvolvimento
espiritual.
A
queda do Império Romano, que devera auxiliar a metamorfose religiosa, pelo contrário
, a embaraçou, com o desenvolvimento dos Impérios Bárbaros.. A fascinação dos
primitivos pelas pompas, pelo esplendor material, barrou a evolução espiritual.
Os frades penitentes, descalços e sujos, fugiram com seus trapos para os
conventos do deserto, onde a regra era ignorância e o analfabetismo. Essa
tendência masoquista do fanatismo bronco gerou as glórias obscuras da santidade
sacerdotal. Os frades humildes queriam morrer em odor de santidade, ou seja,
cheirando sujeira, porque isso lhes assegurava a bem-aventurança no Céu.
Contra
essa explosão delirante surgiram os clérigos atilados, incitando os bárbaros à
conquista dos reinos da Terra. Os Godos contribuiriam com sua arquitetura
grandiosa e os Impérios Bárbaros restabeleceram no Cristianismo o esplendor
material das Civilizações Teocráticas. Esse desvio violento no processo da
metamorfose religiosa encontrou apoio nas tradições da glorificação de Deus
através de monumentos terrenos.
A
humildade do Messias, repelida pela grandiloquência dos judeus, recebeu o seu
golpe de misericórdia no desenvolvimento do período medieval. Carlos Magno,
orgulhoso do seu Império Franco, chorava por não estar com suas hostes na
palestina para derrotar os inimigos do Cristo e lhe dar, ao invés da coroa de
espinhos , a coroa de ouro do mais poderoso Império do Mundo.
Para
compensar isso, por toda parte se propagou a idéia de glorificar o Cristo e
homenagear a Deus com os monumentos mais grandiosos. Desencadeara-se um
processo histórico que esmagaria o Cristianismo sob o peso das grandezas
materiais , permitindo completar-se a sua deturpação , iniciada desde o momento
de conversão dos últimos Imperadores de Roma. No Renascimento e no mundo
moderno a idéia de grandeza continuou a desenvolver-se, sempre amparada por pensadores
, religiosos ou não, que davam o maior apreço às artes sacras, no estímulo ao
desenvolvimento artístico das nações.
Tolerava-se
a pobreza das comunidades religiosas dedicadas à humildade e à santificação,
mas a religião verdadeira era ainda aquela que dispunha de maior poder mundano,
maior riqueza litúrgica, maior esplendor nas suas catedrais gigantesca. Victor
Hugo, na eclosão do Romantismo, exalta a influência do Cristianismo no campo
das artes, tomando para tema do seu famoso romance a Cadedral de Notre Dame.
Mas
a eclosão do Espiritismo em França levaria o próprio Hugo a participar das
sessões espíritas de Madame de Girardim. O desvio histórico da metamorfose
religiosa começava a ser corrigido pela interferência dos Espíritos. Eles não
falavam das grandezas materiais, mas acentuavam em suas mensagens e
comunicações a significação espiritual da religião.
Todas
as suntuosidades religiosas, dos paramentos dos padres à suntuosidade dos
templos eram consideradas inúteis. A Civilização objetiva devia ser
substituída, em seu predomínio absoluto, para Civilização subjetiva. E Kardec
insistia, incansável; no desvalor dos esplendores materiais, quando a pobreza e
a miséria, provenientes do egoísmo humano, roíam as unhas na fome das calçadas
e no frio dos tugúrios.
Pelo Cristo e Pela Tolerância – 5ª Parte
Pelo Cristo
Por encontrarmos toda a
coerência e toda a bondade do Cristo, refletidas nos princípios Doutrinários
Espíritas. A crença em Deus, na reencarnação, na lei de causas e efeitos, na
pluralidade dos mundos habitados e na possibilidade de comunicação com o mundo
espiritual. Todos esses princípios são claramente defendidos ou exemplificados
pelo Cristo, o Mestre maior.
Muitas vezes Ele
utilizou-se de símbolos e parábolas em função de nosso despreparo intelectual e
moral para absorvermos ensinamentos tão complexos para aquela época de
bárbaros.
Hoje, com as inúmeras
conquistas em termos de liberdades individuais, essas realidades estão sendo
pesquisadas e comprovadas por inúmeras evidências e não mais estão sendo
omitidas em função da ditadura dogmática patrocinada pelo interesse financeiro
das grandes estruturas religiosas.
Pela
tolerância
Por se tratar de uma
Doutrina que entende a salvação como um longo processo de evolução espiritual
que leva a comunhão com Deus na proporção em que nos esforcemos para
eliminarmos nossos vícios e fraquezas.
Sendo assim, a Doutrina
não é o meio de salvação, este meio é o amor. Por isso entende que todas as
religiões do bem são lícitas e levam a salvação. Não precisa ser proselitista e
não permite o comércio dos bens espirituais que, só podem ser conquistados e
não comprados.
Por me impor esse limite,
já que em minha natureza ainda predominam o orgulho e a prepotência. Dentro de
uma religião de eleitos, esses meus defeitos aflorariam com o adubo do
fanatismo e mais erros eu cometeria.
Por sabermos e
reconhecermos publicamente que não pertencemos a um rol de escolhidos. Somos
tão ou mais falíveis do que os membros de qualquer outra comunidade religiosa.
Por crermos que todos seremos salvos independentemente da igreja, seita ou
religião que professemos. Se nos aperfeiçoarmos no caminho do amor ao próximo
lá chegaremos com o apoio e a sustentação Divina, qualquer que seja o templo
material que nosso corpo físico frequente.XI — METAMORFOSE RELIGIOSA 2ª Parte
Disse
Jesus que a pedra rejeitada seria tomada para fundamento do edifício. O Centro
Espírita rejeitado, caluniado, humilhado, aparece nesse processo bimilenar da
evolução religiosa do Ocidente como a pedra angular da Civilização do Espírito
na Era Cósmica. No Centro Espírita os ensinos de Jesus se concretizam, não em
ídolos e formalidades artificiais, mas no conhecimento e no saber positivo.
O
homem descobre que o seu conceito do Sagrado estava errado, pois o sagrado não
está nas coisas exteriores, mas na natureza íntima do ser humano e na divindade
dos seres superiores. Percebe que o que vale é o Espírito e não o corpo, pois
só o Espírito realmente existe. Aprende que nenhuma benção exterior e formal
pode salvá-lo mas somente a sua dedicação ao bem e à verdade, a sua abertura
espiritual para as bênçãos permanentes de Deus que jorram no mundo, abrangendo
todas as criaturas e toda a Criação.
O
Centro Espírita o instrui, por ensinos e fatos, que a morte não é a condenação
do Éden, mas a porta da vida, segundo a feliz expressão de Richet. O mistério
da vida eterna, concedida apenas aos eleitos, transforma-se na herança
universal de Paulo, pois somos todos “herdeiros de Deus e co-herdeiros de
Cristo”. A função moral do Centro não é compulsória, mas autógena. Não se
desenvolve através de um código opressivo, mas do despertar da consciência para
a responsabilidade de todos e de cada um.
O
fundamento dessa moral é o princípio do amor ao próximo e a sua manifestação no
plano social é a caridade. O amor é a essência da vida social, substância
básica da estrutura social, e a caridade é a dinâmica das relações, nos termos
da definição de Paulo. O Centro Espírita assimila na prática, na sua dinâmica
do dia a dia, a seiva pura do Evangelho para alimentar a vida, o pensamento e
os sentimentos do homem. Longe ficaram, no processo histórico, as lendas da ira
divina e das condenações terroristas.
Na
pequena comunidade do Centro forma-se e se desenvolve a Sociedade do futuro,
fundada na compreensão dos deveres consciências. O mundo humano e o mundo
espiritual se funde no processo das relações mediúnicas, na troca de experiência
entre os espíritos e os homens que mutuamente se ajudam na escalada da
transcendência. Graças ao racionalismo espírita — desenvolvimento natural do
racionalismo cristão — estabelece-se a solidariedade de consciências da tese de
René Hubert, atualizando na realidade humana a utopia divina do Reino de Deus.
Caem as barreiras de raças de condições sociais, pessoas e culturas, seitas e
partidos, mortos e vivos, pois todos aprendem que a fraternidade universal das
criaturas decorre da paternidade universal de Deus. Os objetivos do Evangelho
são atingidos com a derrubada total dos divisionismos formais estabelecidos
pela ignorância humana.
Claro
que esse milagre humano, produzido no Centro pela descoberta da finalidade da
existência terrena, não é completa nem perfeita, mas já revelam os traços
essenciais do perfil do futuro. Ficam para trás, na distância os séculos e os
milênios de atrocidades e ameaças satânicas, diabólicas, reduzidos a cinzas de
eras superadas. Na simplicidade do Centro Espírita, desprovido de aparatos, de
imagens, de rituais, de paramentos, de sacramentos, de atos religiosos pagos,
avesso à simonia e ao profissionalismo religioso e dedicado ao serviço da
caridade ampla, sem preferências — as forças da evolução acumulam o seu poder para
a eclosão da civilização do Espírito, que varrerá do planeta todas as formas e
formalismo do religioso inferior, que se ceva nas mistificações do poder
espiritual.
As
preces pagas, as cerimônias suntuosas, os títulos fantasiosos e heréticos dos
representantes religiosos, as organizações religiosas investidas de poderes
estatais — resíduos das fases teocráticas do passado — desaparecendo por falta
de adequação aos tempos novos. A experiência do Centro Espírita que suprime
todas as formas de engodo das populações e simulação de poderes divinos através
de ordenações ,sagrações e investiduras divinas serão abolidas.
A
Religião, desembaraçada dos compromissos políticos, comerciais, financeiros e
assim por diante, será restaurada em sua pureza exemplificada por Jesus e seus
discípulos na era apostólica.
Essa
é a diretriz histórica determinada pelas características e as atividades do Centro
Espíritas. Mas todas essas modificações se processarão ao longo do tempo, na
medida do progresso cultural do mundo e do consequência esclarecimento dos
povos sobre os problemas fundamentais da vida, do destino, da dor e da morte. O
conhecimento dessas incógnitas, que sempre atormentaram os homens, secará
naturalmente a fonte das mistificações interesseiras no campo religioso.
Demonstrada
a ineficácia de todas as encenações sacramentais, esclarecidas as superstições
que dominam a mente humana insegura e medrosa, a Humanidade atingirá a sua
virilidade e não haverá mais campo para as explorações sistemáticas da natureza
religiosa do homem. No plano espiritual, as vasta populações desencarnadas de
espíritos inferiores, apegados a interesses materiais, serão naturalmente
removidas para mundo inferiores.
Na
Economia Divina nada se perde. Essas populações espirituais, atrasadas em face
da evolução terrena, levarão para os mundos inferiores conhecimentos que
auxiliarão esses mundo na sua elevação progressiva. São essas as migrações
espirituais entre os mundo solidários de cada Galáxia, segundo o ensino de
Kardec.
O
Mito do Terceiro Milênio, que muitos espíritas aguardam com a ingenuidade dos
judeus que ainda esperam o Messias e dos cristãos que aguardam a volta de Jesus
entre as nuvens, com revoadas de anjos ao redor, enquanto catástrofes punitivas
devastarão o planeta, não passa de interpretação errônea e supersticiosa de um
arquétipo coletivo: o anseio dos homens por um mundo feliz, despertado nas
criaturas pela realidade longínqua das realizações ainda em lenta progressão na
Terra e já atingidas no Cosmos por mundos mais antigos que o nosso.
O
Terceiro Milênio é simplesmente a continuação das fases milenárias do
calendário cristão designadas no tempo como Primeiro e Segundo Milênio. É,
portanto, uma fase de mil anos, e que o Ano 2.000, aguardado como hora mística
de redenção universal, é apenas o ano inicial de um milênio de grandes e
profundas transformações da Terra, na sequência natural do seu processo
evolutivo.
Na
sistemática objetiva, simples e racional do Centro Espíritas, não há lugar para
violações milagrosas e portanto sobrenaturais. Vivemos na Natureza e tudo
quanto conhecemos é natural. O conceito do sobrenatural nasceu da impotência
humana para devassar o Cosmos. Mas desde o século passado o homem vem
conseguindo mergulhar nos mistérios do mundo e descobrir as leis naturais de
fenômenos considerados sobrenaturais. Kardec foi o grande pioneiro dessa
investigação e por isso mesmo foi o primeiro a pôr em dúvida esse conceito. O
sobrenatural revelou-se como sendo simplesmente o desconhecido.
Na
proporção em que avançamos no conhecimento da realidade tudo se naturaliza. Só
Deus parece dispor da sobrenaturalidade, mas as próprias Religiões sustentam
que Deus não é só transcendência, é também, e necessariamente, imanência. Para
sustentar os princípio da onipresença e onisciência de Deus, os teólogos, esses
cultivadores de uma hipotética Ciência de Deus tiveram de admitir a sua
imanência na Natureza. o que também o naturaliza.
Sobra,
assim, apenas uma parte de Deus como sobrenatural, mas se Deus é uno ( apesar
das suas três pessoas) é claro que não pode ser dividido em natural e
sobrenatural. E se Deus é o Criador que tudo criou de si mesmo e está presente
em tudo, presidindo a toda realidade das coisas e dos seres, não de fora, mas
de dentro dessa realidade, não há como sustentar-se a sua sobrenaturalidade
específica e única.
O
Espiritismo define Deus como inteligência Suprema, criadora, mantenedora e
estruturadora do Universo. Logicamente, define o Espírito como elemento
estruturador da matéria. Para estruturar a matéria dispensa no espaço,
pulverizada em átomos, partículas atômicas e plasmas cósmicos, o Espírito se
apossa desses elementos e os ajusta aos seus desígnios, gerando as formas das
coisas e dos seres.
Dessa
maneira, o fiat da Criação não foi apenas a emissão de um pensamento ou de uma
palavra, mas todo um processo complexo e lento de aglutinações sucessivas,
através da potência inteligente que pelo fato mesmo de ser inteligente, sabia o
que fazia. Essa proposição espírita, fundada na razão, não emocionou os teólogos,
que simplesmente a condenaram, no simplismo de seu autoritarismo, por sua vez
baseado na suposição simplória de que Deus dava a ciência infusa da verdade
absoluta. Que mixórdia, Santo Deus!
O
Conhecimento atual, que repudiou o ilogismo teológico, feito de arrebiques e
malabarismos, não pode abdicar das vias racionais, nem mesmo sob o prestígio de
Kant, na divisão também arbitrária que o filósofo estabeleceu entre o dialético
e o absoluto. A metamorfose religiosa incumbiu-se de mostrar que as complicações
do misticismo à lógico reduziram-se no tempo à lógica da simplicidade nas
práticas experimentais do Centro Espírita.
XI — METAMORFOSE RELIGIOSA 1ª Parte
As
Religiões são organismos vivos, integrados pelas células individuais dos
adeptos, crescem no tempo, passando por todas as transformações do crescimento.
Kerschenteiner ,em sua Fisiologia do Mito, afirma que a lei do mito é a
metamorfose. Mas porque do mito, se essa lei é a de toda a evolução das coisas
e dos seres, em todo o Universo? Os mitos são elementos fundamentais da
Religião. Nascendo dos mitos agrários, que são representações de convergências
telúricas, as Religiões se desenvolvem nas coordenadas históricas do tempo e do
espaço e se protejam nas perspectivas do futuro. O passado místico, nas
mitologias mágicas e anímicas das selvas e das geleiras, constitui o produto
sincrético das relações do espanto.
A
alma humana se deslumbra com a magia da Natureza, sentindo-se integrada nela e
por ela absorvida. Esse momento mágico explode em mitos, envolvendo o mundo de
deuses, na plenitude divina captada pela vidência de Tales de Mileto: Ö mundo é
pleno de deuses ”. Dos processos dialéticos do Caos surgem os ritos, os cultos
e os templos. Mas é no templo, forma estática da síntese dialética, que temos a
síntese final da oposição Homem-Terra.
O
Templo abriga a Religião, para defendê-la e sustentá-la em seu desenvolvimento.
É a concha marinha em que a ostra se forma para produzir a pérola, essa
deformação da matéria que rompe a estática da forma com o impacto das leis do
crescimento.
Do
templo humilde, primitivo — a cabana mágica do Pagé ou do Xamã — facilmente
rompidas as formas primárias , surgem as formas múltiplas e sólidas dos Templos
da Suméria, do Egito antigo e suntuoso, da Mesopotâmia lírica com seus braços
de rios.
Do
Templo de Salomão, orgulhoso como as montanhas do Cáucaso, num momento de
concentração final de ciclos históricos, completando-se a espiral evolutiva do
tempo no espaço —amalgamados na realidade substancial de Espírito e Matéria,
surgiram as descendências espúrias das Sinagogas, convergindo na direção dos
primeiros templos cristãos. Nas repetições filogenéticas da temporalidade, o
primeiro templo Cristão fundado por Paulo em Antióquia projeta-se ao encontro
dos mitos imperiais da Roma dos Césares e ali, em sangue e lágrimas, realiza-se
o amálgama da sedimentação do embasamento do ciclo gigantesco das Catedrais.
E
mais uma vez, na impulsão da filogênese sempre atuante, vamos ter, na sucessões
de dois milênios, o aparecimento das gerações microscópicas mas prolíferas dos
Centros Espíritas. Os ritmos do desenvolvimento convergem sempre para as
origens, na necessidade de recomeçar, buscando o fio perdido do prolongado
processo genético nos escombros da corrupção aristotélica.
Geração
e corrupção são o reverso da moeda de César que os fariseus apresentaram ao Cristo,
revezando-se nas exigências conjugadas e opostas do Reino de Deus e do Reino da
Terra. Ante a grandiosidade dos templos e sua complexidade, nas fases de
crescimento violento, a sinagoga e o Centro Espírita são descendências espúrias
de linhagens de templo suntuosos,
Não
obstante, a sinagoga vai ainda vai converter-se no templo cristão de paredes
nuas, desprovido de altares e imagens, de símbolos e insígnias, para pegar o
esquivo fio de Ariadne da orientação messiânica.
Vemos
que em todo esse processo a lei ordenadora é uma só, a da metamorfose. Há uma
intenção secreta no processo histórico, que os homens não percebem mas captam
no inconsciente, nessa religião subterrânea da alma que a percepção
extra-sensorial nos revela atualmente de maneira inegável.
Os
filósofos do Nada, esses nadificadores de si mesmos, e os que se interessavam
pela realidade sensorial, vivem apenas uma meia-vida, conhecem apenas a
superfície opaca da Terra e não podem opinar sobre a realidade total encarada e
pesquisada pelo Espiritismo. Temos o direito de negar a esses filósofos, como
Kardec negou aos cientista do seu tempo, sua suposta capacidade de criticar a
Ciência Espírita. Como eles poderiam perceber a lei da metamorfose no seu
desenvolvimento espantoso, da cabana mágica do pagé até o Centro Espírita, se
não dispõem dos dados necessários sobre a realidade espiritual que negam?
Os
exemplos históricos dessa impossibilidade são números. Augusto Comte negou a
Psicologia, mutilando a sua visão admirável da realidade científica, Spencer
descreveu a mecânica sensorial da origem das Religiões, sem perceber as causas
desse processo, e foi corrigido mais tarde pelo seu discípulo italiano, Ernesto
Bozzano, que provou através da pesquisa cientifica o engano do mestre genial.
Bertrand Rusell insistiu até o último instante na sustenção de sua posição
materialista, negando-se a aceitar a própria comprovação das conquistas da
Física Atômica e Nuclear da irrealidade da matéria.
Os
marxistas, escudados na visão materialista de Marx e na Dialética da Natureza
de Engels, recusam-se a aceitar a evidência do espírito nas suas próprias
descobertas de laboratório como o fez Vassiliev no caso das pesquisas
parapsicológicas e como o fez a própria Academia de Ciência da URSS no caso da
descoberta do corpo bioplásmico.
Não
se trata de má-vontade, mas de condicionamento mental, como o explicou Remy
Chauvin. Um velho teimoso como René Sudre, que levou de Bozzano a maior surra
da História das Ciências, volta a negar a presença do espírito nos fenômenos paranormais,
publicando as suas interpretações da Parapsicologia atual como o mesmo ranço e
a rigidez de múmia mental do passado.
Padres
e frades, já despidos de batina e hábito, insistem ridiculamente em suas
badernas culturais, com uma incapacidade dolorosa de compreensão científica,
fazendo-se passar por cientistas e filósofos perante as multidões ingênuas. São
figurantes de uma fase histórica em que o clero e as Igrejas se despem das
roupagens antigas, passando sem o perceber pela metamorfose das lagartas que
viram borboletas, voejando sem rumo em busca do néctar do deuses. Esses padres
e frades, protegidos pela hierarquia eclesiástica, descem das funções
sacerdotais para as de camelôs de uma falsa cultura desgastada no tempo. A Lei
da metamorfose age imperceptível sobre a espécie, modificando-a de maneira
implacável.
No
tocante aos templos, as modificações se deram com tal rapidez que provocam a
revolta dos fiéis e de alguns clérigos tradicionalistas, como o Cardeal Lefevre
e seus companheiros da resistência francesas. Modificam-se os templo em sua
estrutura interna e com esta os rituais e toda a sistemática litúrgica. Mas
essas mudanças, destinadas a simplificar e atualizar a Religião, avançam,
precisamente na direção do modelo espírita. As Igrejas e seus templos despem-se
das suntuosidades materiais e formais em busca da substância espiritual. A
resistência a essas transformações é inútil, conseguindo apenas abrandar, em
alguns sentidos, a velocidade do processo.
Tudo
isso nos mostra claramente que a metamorfose religiosa, no Catolicismo e nas
demais igrejas cristãs, faz a curva de volta, na espiral evolutiva, aos
primeiros séculos do Cristianismo. Nada se perdeu ao longo do tempo. Podemos
lembrar, para exemplificar, o símbolo indiano da serpente que morde a própria
cauda. Segundo esse símbolo, usado oficialmente pela Teosofia, o processo
evolutivo parte da ignorância (o rabo da serpente) cresce na absorção de
elemento naturais, engordando (o corpo) e atinge a consciência da formação da
cabeça.
Quando
a serpente morde a ponta da cauda, fechando o círculo da vida sobre si mesma,
temos o seu retorno à simplicidade primitiva. A cauda nada era, o corpo era
apenas um embrião, a cabeça desenvolveu as potencialidades da inteligência, mas
a mordida na cauda fechou o ciclo evolutivo numa prova de humildade. A cabeça,
centro do saber, do conhecimento, rojou-se no chão, junto da cauda e com ela se
confundiu. Kardec recebeu o ensino dos Espíritos Superiores: ‘Os espíritos
nascem simples e ignorantes”. E a partir desse estágio primário, mostrou que
todas as possibilidades evolutivas se abriam para os espíritos nas vidas
sucessivas.
A
verdade é uma só, mas pode ser percebida e interpretada segundo a posição de
cada observador. Tudo quando se passou no Cristianismo, através dos milênios,
teve a sua razão de ser, decorreu necessariamente das condições da humanidade
em cada fase da sua evolução histórica. A serpente engordou e engorgitou-se a
ponto de parecer capaz de engolir o mundo.
Mas
quando a inteligência começou a desenvolver-se ela enrolou-se e procurou morder
humildemente a cauda. Fundem-se, nesse momento decisivo, o elemento vital, os
materiais absorvidos no crescimento, as experiências adquiridas e as intuições
do futuro, para que o animal instintivo perceba a luz da razão em seu cérebro
rastejante e descubra em sua mente os reflexos do poder criador de Deus. Tudo
serviu para formação e a abertura do Ser na escalada divina.
X — OS
ESPÍRITOS CURAM – Parte 3
Os
dirigentes de Centro precisam tomar conhecimento desses absurdos e lutar contra
eles, porque essas invencionices ridículas atrasam o desenvolvimento da
Doutrina e afastam dos Centro as pessoas que sabem pensar. A Doutrina
Espíritas, Plataforma Cultural do Futuro do Mundo, é apresentada aos nossos
meios culturais como um delírio místico de multidões sertanejas, aprovado e
sustentado por intelectualóides citadinos. Nunca se viu no mundo coisa
semelhantes: um monumento de lógica e de critério científico, que veio da
França pelas mãos de um sábio extremamente ponderado — o próprio bom-senso
encarnado, como o chamaram e chamam ainda hoje — transformado pelos seus
próprios adeptos na mais absurda moxinifada de todos os tempos. Nem mesmo o
Cristianismo foi tão aviltado.
Nesta
fase de transição, em que tudo se embaralha, só nos resta a esperança dos
Centros Espíritas humildes, onde criaturas sinceras não pensam em projetar-se
montados em elefantes brancos. Só da humildade e pureza do Centro Espírita
poderá surgir a reação salvadora. Mas para isso é necessário que o Centro
Espírita tome consciência e conhecimento da situação desastrosa em que nos
encontramos e da necessidade de repelir as mistificações e as adulterações, com
o mesmo chicote sagrado com que Jesus derrubou as mesas dos cambistas no Templo
e libertou os animais destinados ao sacrifício profanador.
É
necessário que os Centros se liguem entre si, formando grupos independentes, na
linha tradicional da liberdade espírita, para se oporem vigorosamente a esse
processo suntuoso e petulante de deformação de desagregação da Doutrina, que os
novos rabinos infiltraram no movimento espírita desprevenido. Não podemos
misturar alhos com bugalhos para dar ao povo esse produto adulterado.
Sabemos
que os espíritos curam — não os médiuns — e agora quem precisa de cura é o
nosso movimento doutrinário, combalido por mais de um século de infiltrações
venenosas em sua frágil estrutura. Abandonemos a pretensão de constituir uma
Igreja Nova, centralizada numa Catedral Federativa, pois já vimos que turbas de
clérigos, mortos, e vivos, estão sempre dispostos a invadir o novo edifício,
como os espíritos obsessores da parábola voltam à casa limpa e arrumada e dela
se apossam de novo, a sua condição será, então, pior do que a anterior.
As
grandes instituições tendem sempre ao mandonismo, ao autoritarismo, o que não
se conforma de maneira alguma e sob nenhum pretexto com os princípios
democráticos do Espiritismo. As pessoas mais simples, colocadas numa modesta
posição em grande instituição, mostram-se logo arrogantes e saberetas. A
vaidade humana está sempre à espreita no coração do homem. Logo que as
circunstâncias lhe favorecem uma oportunidade, a mais humilde criatura toma
atitudes arrogantes.
Nos
quadros superiores da administração aparecem até mesmo os missionários,
criaturas que se julgam agraciadas (não pela bondade, mas pela justiça de Deus)
para comandar e salvar os outros. Nenhum Centro pequeno e humilde se atreveria
a dizer-se Casa Máter do Espiritismo, mas uma Federação se diz, , arroga-se
direitos que nunca possuiu nem poderia possuir e toma em suas mãos
predestinadas a direção do movimento doutrinário. O crescimento da instituição,
a subserviência das menores, que temem cair em desgraça ante homens tão
importantes e sábios completam a obra da megalomania humana e tudo vai por água
abaixo.
A
humildade dos pobres vira fermento de grandeza se lhes dermos um palácio para
morar. Até mesmo os espíritas, com as exceções naturais da regra, deixam-se
facilmente empolgar pelas obras suntuosas, não se lembram de que o Templo de
Salomão foi destruído para sempre, mas o templo humilde do carpinteiro de
Nazaré, destruído, reergueu-se em três dias e permanece para sempre. Entre os
problemas da cura espírita, o que mais deve nos interessar, nos trabalhos do Centro
Espírita, é a cura da vaidade no coração do homens.
Evitemos
a suntuosidade no movimento doutrinário, se quisermos que ele se conserve puro
e simples, Nada representa melhor o Espiritismo do que o Centro de chão batido
e telhas vãs, bancos e mesas de paus fincados no chão, Zé Sobrinho lendo o
Evangelho em mangas de camisa, na sitioca distante de São Bartolomeu, na
Sorocabana. Eu o vi, participei da reunião rústica e senti a grandeza da Doutrina
Espírita entre aquela gente simples e boa. Ali ninguém mandava e todos se uniam
espontaneamente no trabalho de amor ao próximo e louvor a Deus.
X — OS
ESPÍRITOS CURAM – Parte 2
No
Centro Espírita o problema das curas não pode restringir-se a tentativas
ocasionais ou aleatórias. Estamos numa fase de intenso desenvolvimento
científico e cultura em geral e precisamos aprofundar o estudo da nossa
Doutrina em evolução com todos os progressos da atualidade. Kardec nos deixou
em sua obra uma vasta herança que ainda não soubemos aproveitar. Contentamos
com um Espiritismo superficial, de tipo sectário, sem nos preocuparmos com a
reflexão acurada e logicamente dirigida dos princípios doutrinários.
E
quando aparece alguém, que se propõe a tratar do assunto em plano mais elevado,
o que vemos são atentados à Doutrina, críticas a Kardec, tentativas ridículas
de superação ou de pretensiosa atualização de uma Doutrina cujos ponteiros
estão marcado as horas de vários séculos `a frente.
Não
perdemos ainda o hábito indígena do cocar e da tanga. Gostamos de enfeitar a
cabeça com penas coloridas de araras e apresentar-nos de tanga ante a cultura
nacional. Com a cabeça enfeitada de ideias e hipóteses da atualidade científica,
acusamos Kardec de mecanicista superado, autor de teorias empoeiradas, e
tentamos substituir essas teorias por outras que pertencem a milênios passados
e nos proclamamos originais e atualíssimos.
Correções
de Kardec surgem da terra aos montes, como as heresias do Cristianismo
Primitivo, que Tertuliano dizia brotarem do chão como cogumelos. E quando
escapamos disso caímos nas atualizações, adulteração, com aprovação, aplauso e
defesa de instituições antes respeitáveis. O atrevimento desses reformadores é
untado de mística piedade, ao som das ladainhas catadas pelos corais padrescos
do Umbral. E quando alguém se levanta contra isso é logo taxado de inimigo da
evolução e promotor de desordens, interessado em vender os seus livros.
Não
queremos, naturalmente, que no recinto humilde dos Centros dedicados
exclusivamente a práticas religiosas e fraternas apareçam grandes mentalidades.
Em cada setor das atividades doutrinárias encontramos sempre criaturas
abnegadas e fiéis à Doutrina, que cumprem os seus deveres. É das Federações e
Uniões que surgem os reformadores atrevidos com falações mestiças de papagaios
barulhentos e místicos de olheiras fundas e voz untuosa. Tudo isso revela uma
falta assustadora de piso cultural em nosso movimento doutrinário, dando ensejo
ao aparecimento de pregadores dramáticos, tipo Billy Graham, que arrebatam os
ouvintes ingênuos com figuras literárias do século passado, a fronte gotejante
de suor no esforço de recordar os trechos alheios decorados.
Não podemos nos esquecer da existência da
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e no Brasil a Sociedade Baiana de
Luiz Olímpio Teles de Menezes, o fundador da Imprensa Espírita em nossa terra;
das mesmas culminâncias surgem pavões de pés grotescos e plumagem brilhantes,
arrogando sabedoria e pregando como suprema verdade a incrível e
estupefaciente, ilegível e incompreensível obra de Roustaing, “Os Quatros
Evangelhos”, que devia ter como título uma expressão mais adequada: “As Mil e
Uma Noites” da Mistificação.
Para
contrabalançar essa desgraça (falta da Graça de Deus) a Argentina nos manda ‘A
Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo”, em que vemos o Mestre lamentar-se de se
haver entregado à sua vocação messiânica, reencarnado em mundos primitivos, ao
invés de gozar a vidinha tranquila de Nazaré no seio da família.
Em
Roustaing vemos Arcanjos Celestes punidos, com encarnações em mundos primitivos
na forma de criptógamos carnudos, que seriam lesmas reastejantes mas dotadas de
carne humana, expediente ridículo para salvar a obra da condenação doutrinária,
pois a Doutrina não admite a volta de um espírito humano em encarnação animal A
ridícula e grosseira expressão criptógamos carnudos aparece para encobrir o
absurdo. Se esses bichos rastejantes têm carne humana, não deixaram de
pertencer à espécie humana.
E
toda uma Federação Nacional aceita, endossa, propaga e defende acirradamente
essa proposição da mais despropositada metempsicose que já se imaginou no
mundo. A palavra criptógamo é empregada em botânica para designar os vegetais
que tem os órgãos reprodutores ocultos. Para aplicar o termo a animais, os
mistificadores acrescentaram-lhe o feio adjetivo carnudo, sem respeito pela
pureza e elegância da linguagem.
E
o pior é que lideres do movimento espírita sabem disso, mas calam-se para não cair
cizânia na praça. A prova de incultura e falta de bom-senso acrescentam a
covardia moral. Se essa teoria fosse certa, teríamos em breve os anjos
routainguistas transformados em criptógamos, para descanso dos espíritas cultos
ou incultos, mas de bom-senso.
X — Os Espíritos Curam –
Parte 1
A
Terapêutica Espírita abrange todos os ramos da Medicina. Urbano de Assis
Xavier, cirurgião-dentista e médium de grande sensibilidade, serviu de
intermediário para muitas curas e gostava de pesquisar essa questão. Pronunciou
uma palestra, na década de 40, na Biblioteca Municipal de São Paulo, sobre o
tema que serve de título para este capítulo. Sua experiência pessoal e o seu
acervo de observações dariam para a elaboração de um grande volume a respeito.
Fomos testemunhas de numerosas curas.
Ele
insistia na necessidade de se compreender que o médium é simplesmente, nesses
casos, um instrumento passivo nas mãos dos espíritos. Por isso acentuava que os
espíritos curavam e não os médiuns. Este é o ponto essencial da compreensão,
pelos médiuns e os dirigentes de Centros, do melindroso problema das curas
geralmente chamadas de mediúnicas.
Sem
essa compreensão humilde de parte dos médiuns eles se arriscam a cair nas
armadilhas de sua própria vaidade, que os leva a atitudes ridículas e
comprometedoras para Centro e a Doutrina. Um médium que se julga capaz de curar
por si mesmo é um ignorante ou inconsciente, que facilmente se transforma num
charlatão ambicioso, tomador de dinheiro do próximo.
Como
Kardec advertia, dois fatores garantem a faculdade curadora real de um médium:
a sua humildade e o seu desinteresse. Se ele for orgulhoso, convencido de sua
eficiência e cobra o seu trabalho mediúnico, direta ou indiretamente, devemos
simplesmente ignorá-lo e fugir dele.
Os
espíritos mistificadores que o acompanham — pois cada qual tem as companhias
espirituais que merece — está fatalmente na via torva da mistificação perigosa.
Os dirigentes de Centros precisam ter a maior cautela e observar atenta e
permanentemente os médiuns curadores de que dispuser nos seus trabalhos.
As
manobras de envolvimento dos mistificadores são sutis e envolvem ao mesmo tempo
o médium vaidoso, os dirigentes sem conhecimento doutrinário e bom-senso e os
pacientes que se entregam cegamente a experiências perigosas, fiados numa fé
supersticiosas e cega.
Devemos
ter sempre em mente que estamos na Terra para evoluir, desenvolvendo nossa
capacidade de trabalho e prudência. Espíritos em evolução, se nos entregamos às
pretensões de superioridade e de merecimento pessoal, os Bons Espíritos não
interferem para não prejudicarem o nosso aprendizado.
Teremos
de passar pelas experiências negativas , a fim de atingir os objetivos de nossa
encarnação. Podemos pedir a Deus o que quisemos, mas só receberemos aquilo de
que realmente carecemos. A prece nos ajuda, estabelece a nossa sintonia com os
Espíritos Benevolente, mas se deixarmos de lado o bom-senso e a perspicácia, se
não nos mantivemos em vigilância, esperando tudo do Céu e não usado o nosso
discernimento, só a experiência por mais dura que seja, poderá corrigi-nos.
Analisemos
bem este problema para não chorarmos mais tarde sobre a nossa incúria. Os
Espíritos Bons nos amparam, assistem e ajudam, dando-nos orientação e conselhos
intuitivos, mas não tomam o nosso lugar naquilo que só a nós pertence.
A
cura espírita não se efetua, por mais dedicados que sejamos ao Espiritismo, por
mais abnegados no tocante ao próximo, se a doença ou deficiência que sofrermos
for em si mesma o remédio de que de fato precisamos. Os interesses superiores
da evolução espiritual estão sempre acima dos nossos interesses individuais e
passageiros. Se uma pessoa é cega ou está ficando cega, é porque a prova da
cegueira a ajudará a desenvolver a humildade em lugar da vaidade que cultivou
no passado, já estamos sendo espiritualmente curados.
Fala-se
muito em méritos e recompensas, mas não se trata disso na questão das curas. A
questão de méritos é nossa, e como somos sempre demasiado generosos em nosso
auto julgamento, ao receber uma cura nos consideramos premiados. Para Deus e
portanto para os Espíritos Superiores, a doença é cura de nossas imperfeições e
a cura é que nos predispõe para as provas que ainda teremos de enfrentar.
Por
tudo isso, enganam-se os médicos que encaram a terapêutica espírita hoje
chamada de paranormal, como uma forma de concorrência do Espiritismo com a
Medicina. Os médiuns não podem curar o que querem e quando o querem. Por isso
Jesus empregava a expressão figurada “Perdoados foram teus pecados”, quando
conseguia curar alguém. O perdão, em linguagem legal, eqüivale a uma suspensão
da pena. Os pecados estavam perdoados porque a pena havia chegado ao fim. A
pena não havia sido imposta por decreto e nem seria suspensa por decreto. Nossa
evolução é um processo natural de desenvolvimento de nossas potencialidades.
Aquilo
que obstrui esse desenvolvimento provoca coágulos na estrutura psíquica,
extremamente fluídica, gerando doenças e deficiências orgânicas. Aquilo que
facilita o desenvolvimento produz curas e possibilidades de curas. Essas
possibilidades podem resultar em curas, tanto por intervenção mediúnica quanto
por intervenção médica.
A
razão por que o médico falha em casos que o médium resolve , e vice-versa, não
decorre de méritos deste ou daquele, mas das necessidades reais do paciente. Se
este necessita de fortalecer sua fé ou de quebrar o seu orgulho, pode receber a
cura mediúnica ou espiritual, e se aquele precisa submeter-se a intervenções
cirúrgicas , para reequilibrar sua consciência em relação com o passado, não
conseguirá a cura paranormal .
Isso
não depende de uma decisão momentânea de Deus, mas do que já estava determinado
na estrutura de causas e efeito da vida atual da pessoa. Trata-se de um
determinismo relativo, de que causas e efeitos correspondem sempre às exigência
da lei de evolução espiritual. Nesse determinismo pode haver alterações,
segundo os novos rumos que a evolução individual tomar na presente existência.
Temos de examinar esses problemas à luz da Doutrina Espírita. Infelizmente
escasseiam esses estudos entre nós, de maneira que temos sempre uma visão
demasiado antropomórfica desses processos.
IX — PROBLEMAS RELIGIOSOS – 3ª Parte - O Pai Nosso
Entre as preces formais, a
do Pai Nosso se destaca por uma condição especial. Integrado na tradição cristã
há dois milênios, essa prece está fixada na mente das gerações e goza o
prestígio de ter sido ensinada pelo Cristo.
Seu prestígio e sua
capacidade de despertar emoções religiosas nos espíritos comprova-se
diariamente no mundo. É por isso que ela é empregada sistematicamente na
abertura das sessões espíritas. É um tabu, dizem os cépticos, e muitos
espíritas, com pretensões racionais agudas pretendem eliminá-la dos Centros.
É um erro grave, pois em
toda parte se constatou e se constata, inclusive no meio espirita, a sua
eficácia. Não é difícil entendermos isso. O Pai Nosso não contém nenhum
elemento mágico, mas desde a infância as criaturas nascidas no meio cristão
aprenderam a dizê-la e a respeitá-la.
Ela foi introjetada na
consciência das gerações através dos séculos e dos milênios. Constitui-se numa
forma oral e mental carregada de energias espirituais. Tornou-se, no plano
religioso, o que é o soneto na poesia ocidental, uma forma oral e metal
carregada de poder emocional.
Os espíritos perturbadores,
que têm consciência de sua posição negativa e criminosa — pois todos a têm —
são tocados no íntimo, em sua sensibilidade profunda e em sua afetividade quando
ouvem essa prece, principalmente se pronunciada por pessoas que sentem a sua
mensagem e conhecem as razões da sua eficácia.
A figura de Jesus, a força
ôntica da palavra Pai, que vibra como um apelo a Deus e uma evocação do seu
poder supremo e ao mesmo tempo misericordioso, vibra como a primeira nota
vigorosa e amorosa de uma imprecação ao Céu, as regiões superiores que desejam
atingir, por mais infeliz que seja a sua situação atual.
Despertam-se na
consciência e na emotividade do espírito as ternas lembranças dos entes
queridos, do amor que experimentou na vida familiar terrena, dos momentos de
felicidade e alegria que gozou entre criaturas queridas. São esse os toques
profundos que o Pai Nosso produz nos corações fluídicos ou encarnados, como uma
canção de outros tempos, antiga que, na ternura de suas notas e de sua
harmonia, nos faz voltar às oportunidades pedidas.
Criaturas pretensamente
racionais analisam e criticam o Pai Nosso, apontando possíveis erros e absurdos
no seu texto mais usado e longo, que é o do Evangelho de João. Entidades
maldosas costumam soprar a essas criaturas ideias negativas, tentando
desviá-las da prática dessa prece. Bastaria esse fato para nos confirmar o
valor do Pai Nosso.
Os Evangelhos registram
formas diferentes da prece de Jesus. A que permaneceu na tradição foi a mais
completa, vítima das críticas referidas. Tentemos analisá-la rapidamente em
todos os seus termos, desfazendo essas críticas levianas:
PAI — Com essa palavra inicial Jesus deu
um golpe vibrante na antiga concepção politeísta de Deus e na ideia bíblica,
bem judaica, da posição exclusivista de Deus e na sua condição mitológica de
guerreiro, o velho Deus dos Exércitos.
NOSSO — Nesta profunda palavra temos a
universalização de Deus como Pai de toda a Humanidade. Ela destrói a velha e
absurda idéia dos deuses de cada povo, em luta uns com os outros nas guerras
dos povos.
QUE ESTAIS NO CÉU — Afirmação da presença de Deus no
infinito, acima de todos os divisionismos humanos, pois o Céu não é um lugar
determinado, mas a totalidade cósmica. Deus no Céu cobre na sua misericórdia
toda a Terra e todos os mundos, todas as constelações do Infinito.
SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME — Que seja reconhecido o nome de Deus
como santo por todos os seres, anjos, espíritos e homens, que santificarão o
nome de Deus em si mesmos, na sua consciência. ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU —
Especificação clara do reconhecimento universal do nome de Deus.
VENHA A NÓS O VOSSO REINO — Que o Reino de Deus, ideal superior
de Justiça e de Paz perfeita, venha para nós todos.
SEJA FEITA A VOSSA VONTADE,
ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU — Que os
homens, os espíritos e os anjos cumpram no Céu e na Terra, por toda parte, a
vontade suprema de Deus, revelando-se aqui o princípio da comunhão constante e
perfeita entre o mundo espiritual e o mundo terreno. O PÀO NOSSO DE CADA DIA
DAI-NOS HOJE — O pão simboliza o alimento geral de
todos os seres — o espiritual e o material — que os povos daquele tempo
repartiam nas mesas simbólicas das cerimônias religiosas. Jesus mesmo repartiu
o pão com os discípulos na Ceia da Páscoa, e foi no partir do pão que os
discípulos o reconheceram, depois da ressurreição, na estrada de Emaús. Esse
alimento essencial é pedido a Deus, que é o Pai, para que não nos falte.
PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS COMO AS
PERDOAMOS AOS NOSSOS INIMIGOS — Os inimigos
são os que nos perseguem e caluniam. Alimentados pelo pão espiritual podemos
perdoá-los, e só assim nos fazemos dignos do perdão de Deus, que diariamente
ofendemos em nossa ignorância. É o princípio da fraternidade em Deus e por
Deus.
NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM
TENTAÇÃO — Somos frágeis em nossa ignorância e
alimentamos desejos e ambições. A tentação está em nós mesmo, mas Deus pode alimentar-nos
diariamente o espírito com os verdadeiros anseios da nossa destinação, para não
cairmos no torvelinho dos nossos instintos inferiores.
MAS LIVRAI-NOS DETODO O MAL
Há
quem ainda diga:
POIS VOSSO É O REINO, O PODER
E A GLÓRIA PARA TODO O SEMPRE
— O Reino que buscamos é o
de Deus, não o dos homens. O poder é de Deus e não dos espíritos inferiores, a
glória só a Deus pertence e só Ele nos pode glorificar. Laudação que só aparece
no Evangelho de João, como justificação final de toda a prece.
O Pai Nosso é uma prece
sintética, modelo dado por Jesus aos seus discípulos, para que nela encontrem,
diariamente, a síntese final dos seus ensinos. A dinâmica dessa síntese
desperta a memória dos homens e das entidades espirituais para fé em Deus, a esperança
em nossa evolução espiritual e a confiança no poder absoluto e na misericórdia
d’Aquele que nos arranca do limo da Terra para as ascensões da evolução
universal.
E NO ESPIRITISMO?
Há pessoas que discordam
da prece do Pai Nosso nas sessões espíritas, alegando que se trata de uma
oração católica. Jesus nasceu no Judaísmo, recebeu a benção da virilidade no
Templo, aos 13 anos, como todos os meninos judeus da sua idade, cresceu e viveu
como judeu até o momento em que iniciou a sua pregação própria, da qual
nasceria o Cristianismo, porque os seus discípulos e apóstolos o chamavam de
Cristo.
Ele ensinou a prece do Pai
Nosso quando andava pregando na Palestina, muito antes que a sua doutrina
chegasse a Roma e fosse transformada num vasto sincretismo religioso do qual
surgiria a Igreja Romana. O Pai Nosso virou Padre Nosso em Roma e só neste
século voltou à designação primitiva, dada pelos cristãos palestinos que não
falavam latim. Não há razão nenhuma para se considerar essa prece como
católica.
Ela é uma prece cristã
pura, dotada de todas as características do pensamento superior de Jesus, que
sempre pairou acima dos divisionismos sectários. Se os Evangelhos apresentam o
Pai Nosso em formas diferentes, isso acontece pelo simples fato de que cada
evangelista redigiu os seus relatos em lugares e épocas diferentes, usando as
lembranças e as anotações que possuíam. João, cujo Evangelho foi o último a ser
elaborado, conseguiu reunir maiores elementos para dar a prece completa,
segundo era pronunciada pelos cristãos primitivos.
Como assinalou Renan, e
foi confirmado nos séculos seguintes pelos pesquisadores universitários das
origens do Cristianismo, as informações de que os evangelistas dispunham,
procediam dos próprios círculos da intimidade do Mestre, guardando a
autenticidade das suas expressões.
A insistência da Igreja
Católica em manter a expressões latina Padre (Pater) no nome da prece, lançou
nos países de língua latina, como Portugal e o nosso, a falsa sugestão de uma
ligação real entre a Igreja (cujos sacerdotes são chamados padres), o que foi
duramente contestado pelas Igrejas da Reforma Protestante.
O emprego do Pai Nosso nas
reuniões espíritas é perfeitamente válido, tanto em face das características
inegáveis de Renascimento Cristão da Doutrina Espírita, tanto em seu
desenvolvimento filosófico, quanto em suas atividades práticas. A alegação de
que o Espiritismo mistura Cristianismo com religiões primitivas é simplesmente
uma impostura, diante dos estudos aprofundados sobre a formação do sincretismo
católico-africano de que o Espiritismo não participou.
IX — PROBLEMAS RELIGIOSOS –
2ª Parte
Mas,
estabelecida a Religião Espírita em sua plena liberdade de pensamento, surge no
meio dos seus adeptos voluntários o problema dos resíduos do passado. Criaturas
que se tornaram espíritas através de experiências paranomais inesperadas, não
conseguem vencer as barreiras dos temores introjetados em seu inconsciente e
começam a misturar suas velhas superstições aos conhecimentos novos que recebe.
Não se conformam com a liberdade ampla do Espiritismo.
Sentem
a falta da canga ao pescoço calejado e procuram transformar os dirigentes de
Centros em sacerdotes de um novo tipo e caem de joelhos diante de pobres
médiuns falíveis, na esperança de graças impossíveis. Forma-se a farândola dos
crentes ansiosos por benefícios especiais.
E
surgem questões de família e tradição, exigindo batizados, rituais, casamentos
suntuosos, missas e promessas aos santos. O espiritismo dispensa todas as
encenações rituais e todas as quinquilharias da devoção formal. Para todas as
encenações e todos os sacramentos o Espiritismo só tem um substitutivo: a prece
espontânea e sincera , gratuita , que parte diretamente do coração da criatura
para a Mente Suprema de Deus.
No
Centro Espírita esse problema deve ser objeto de estudos constantes, de esclarecimento
seguro, para que a propagação irrefreável da Doutrina não se faça manchada
pelos resíduos de um passado de heresias e fogueiras assassinas em nome de
Deus. Embora não ferido susceptibilidades, os dirigentes do Centro devem manter
em pauta os esclarecimentos necessários, mostrando que, no plano do espírito só
os elementos espirituais têm valor.
Não
se pode curar obsessões com sal grosso, folhas de arruda, incenso ou explosão
de pólvora, nem com medalhas, crucifixos ou água benta. A obsessão é um processo
inteligente desencadeado por espíritos – o que vale dizer por inteligências
extrafísicas que não são atingidas por essas coisas.
Pois
eles vivem no plano espiritual, não no material e conhecem o problema da
comunicação mediúnica e do envolvimento fluídico. Só podemos afastar uma
entidade obsessiva pela persuasão e a prece, procurando esclarecê-la ao invés
de dar-lhe ordens que só que fazem irritá-la.
Os
Centros Espíritas que aceitam os métodos antiquados dos antigos esconjuros e exorcismos
revelam, a mais grosseira ignorância da Doutrina Espírita que é essencialmente
racional. A Razão não pertence à matéria, mas ao espírito.
Os
fracassos das práticas de exorcismo se comprovam no mundo inteiro através de
todas as fases históricas. Enquanto os exorcistas ou exorcizadores gastam
energias e perdem tempo, com prejuízo de sua própria saúde e do desgaste físico
dos obsedados, chegando, não raro, a resultados tristemente negativos, a
doutrinação espírita revela por toda parte a vantagem da ação persuasiva e
inteligente sobre os agressores inteligente. O valor da prece, mental ou
falada, revela-se sempre eficaz, pois a vibração espiritual de uma prece
sincera atinge o obsessor de maneira envolvente, chamando-o à razão.
No
tocante aos problemas da prece, convém lembrar, como ensina Kardec, que as mais
eficazes são as preces espontâneas, não formais e decoradas, mas pronunciadas
com sentimento e desejo real, consciente, de beneficiar tanto à vítima quanto
ao algoz.
IX — PROBLEMAS RELIGIOSOS – 1ª Parte
Ouve-se
frequentemente a pergunta: “O Espiritismo é religião?” E muitas vezes os
espíritas não sabem responde-la. A confusão a respeito provém das campanhas
religiosa contra o Espiritismo. As Igrejas Cristãs, descendentes direitas da
Igreja Judaica, definem-se como religiosas nos termos tradicionais do
formalismo de suas organizações e do culto exterior calcado nos vários cultos
dessa natureza que lhes serviram de modelo, em primeiro lugar o judeu e depois
os mitológicos, com substanciais influenciais de Ordens Ocultas como a
Maçonaria.
As
vestes sacerdotais, os paramentos do culto, os instrumentos sagrados — nada
disso é de origem cristã, pois o Cristo não se interessou pelos cultos formais
e só ensinou o cultivo interior do espírito. Algumas expressões dos Evangelho,
alguns gestos e atitudes do Cristo deram motivo à adaptação de ritos e
sacramentos judeus ou pagãos pelos cristãos.
Como
o Espiritismo, fiel ao espírito da renovação cristã, não aceitou o culto
exterior, a organização clerical profissional, nem rituais, as Igrejas Cristãs
fundaram-se nisso para declarar que o Espiritismo não era religião. Ligadas aos
Estado, elas tiveram facilidade de influir nos organismos estatais para fazerem
prevalecer a sua tese. Até hoje, no Brasil e em muitos países certos organismos
estatais, principalmente quando influenciados pela Igreja, negam ao Espiritismo
o seu caráter de religião .Mas os espíritas precisam saber que o Espiritismo é
religião e o Centro Espírita, geralmente religioso, deve insistir no
esclarecimento desse problema em suas reuniões.
Não
se trata de querer-se obter regalias governamentais para os Centros, mas de se
colocar a verdade do fato. E esse fato é aquele que Kardec esclareceu com
segurança desde o início do movimento espírita: o Espiritismo é a Ciência do
Espírito e de suas relações com os homens; dessa Ciência resulta uma Filosofia
e dessa Filosofia as consequências religiosas do Espiritismo, que constituem a
religião Espírita.
Kardec,
como Jesus, não era clérigo de nenhuma religião. Foi pedagogo, cientista e
filósofo, diretor de estudos da Universidade de França. Ao enfrentar o problema
das manifestações espíritas, que no seu tempo agitavam a América e a Europa,
encarou-as como cientista. Observou e pesquisou os fenômenos espíritas, como os
cientistas observavam e pesquisavam os fenômenos físicos, descobrindo-lhes as
causas, identificando a sua origem, a natureza e descobrindo as leis que os
regem. Desse trabalho minucioso e aprofundado, no conforto de hipótese
diversas, nasceu no mundo a Ciência Espírita. Grandes nomes das Ciências no
século passado e neste século continuaram na linha de pesquisa de Kardec e
confirmaram a validade das suas descobertas. Surgiram depois as ciências
correlatas, entre as quais se destacaram a Metapsíquica de Richet, a
Psicobiofísica de Notzing e por fim, a Parapsicologia atual, todas elas filhas
do Espiritismo. A Parapsicologia foi a derradeira e decisiva confirmação doi
acerto de Kardec e com ela, sob a designação de fenômenos paranormais, os
fenômenos espíritas integraram-se nos quadros científicos.
A
Ciência Espírita revelou a face oculta da realidade que conhecemos e em que
vivemos. Levantou as cortinas que ocultam os bastidores do palco em que
representamos os nossos papéis e duplicou os conhecimento humanos, até então
restritos ao plano exterior das manifestações da vida.
Cada
avanço significativo das Ciências no conhecimento do mundo transforma a nossa
concepção da vida e do mundo, gerando uma nova Filosofia e uma nova moral. E a
Moral, por sua vez, determinando novas regras de comportamento do homem no
mundo, ante os mistérios da vida e da morte, gera uma nova posição religiosa.
A
Religião Espírita é a consequência natural da descoberta científica da
sobrevivência e continuidade do homem após a morte. Cientificamente não se pode
provar a imortalidade, pois não dispomos de recursos nem de tempo para
constatar objetivamente que o homem é imortal em sua essência, mas testemunho
dos Espíritos Superiores e as consequências lógicas da sobrevivência do homem
após a morte nos levam fatalmente à ilação da imortalidade, que o Espiritismo
aceitou em seu campo religioso, bem como em sua Filosofia.
A
Religião Espírita se funda nas provas cientificas da sobrevivência e da
comunicabilidade dos Espíritos com os homens através dos fenômenos paranormais
(hoje comprovados cientificamente pela Parapsicologia), na existência de Deus
como causa inteligente e primária de todas as coisa e de todos os que seres e nas
relações possíveis entre o Homem e Deus através do sentimento religioso inato
no homem, na forma de uma lei de adoração e reverência aos poderes superiores
que regem o Cosmos em sua plenitude.
Paralelamente
ao desenvolvimento das pesquisa espíritas, as pesquisa sociológicas,
antropológicas e filosóficas sobre a Religião levaram a cultura atual a
rejeitar o antigo conceito de Religião como organismo social doado de sistemas
tradicionais. A existência de religiões desprovidas desses requisitos normais, a
começar da simplicidade das religiões primitivas, e o aprofundamento dos
estudos a respeito mostraram que o fenômeno religioso independe dessas
condições artificiais. Com a tese de Henry Bergsno sobre as origens da Moral e
da Religião o problema se esclareceu, dando razão ao anúncio de Jesus e às
profecias bíblicas sobre a interpretação em espírito e verdade que não se
entrosava nos modelos. Bergson estabeleceu a distinção entre as religiões
estáticas do formalismo social e a religião dinâmica e independente que se
sobrepõe a todo formalismo.
A
Religião Espírita apareceu então, no quadro das pesquisas, como o modelo ideal
das religiões do futuro. Firmada apenas no sentimento religioso, na lei de
adoração da tese espírita, a nova Religião apresentava-se liberta dos aparatos
do culto exterior, das pesadas e custosas organizações clericais hierárquicas e
da suntuosidade arrogante dos templos. A Religião se libertava dos interesses
humanos, das ambições de poder e supremacia dos clérigos e voltava-se para Deus.
O
problema da Revelação, que caracteriza as Religiões Reveladas, orgulhosas de
sua origem divina especial, foi colocado por Kardec no campo das manifestações
espíritas, ou seja, da fenomenologia paranormal, e sujeita ao controle dos
homens. A Religião Espírita é também revelada, mas através de uma conjugação
humano-divina.
Os
Espíritos Superiores fizeram revelações a Kardec, mas ele não as considerou
válidas, reais, enquanto não pôde comprovar sua veracidade através das
pesquisas. Kardec formulou a tese da dupla revelação: a que é dada por
entidades espirituais ou por homens dotados de poderes paranormais e a que é
feita pelos cientistas que investigam a Natureza, descobrem os seus segredos e
os revelam no plano científico.
É
dessa dupla revelação rejeitada pelos místicos e os supersticiosos, que se
constitui a Religião Espírita, que não se acomoda na fé cega mas exige a fé
raciocinada, sancionada pelos fatos e pela razão esclarecida. Era o fim das
fábulas e das superstições, o encontro da razão humana com a Verdade Divina.
A
importância desse acontecimento histórico foi negligenciada pelos comodistas da
tradição supersticiosa e o Espiritismo foi acusado de reviver no mundo, em
plena Era Científica, as mais baixas superstições do passado longínquo. Kardec
esmagava a superstição com o poder, perquiridor da razão, e os místicos de
braços dados com positivistas e materialistas o condenavam como supersticioso.
Mas, apesar de todas essa injustiça e de todas as campanhas difamatórias
desencadeadas no mundo contra o Espiritismo, o tempo se incumbiu de dar ao seu
dono.
Hoje,
as pessoas realmente cultas e sinceras, estudiosas e livres de preconceitos,
sabem que o Espiritismo dos simples é apenas um reflexo do Espiritismo dos
sábios, que os próprios sábios materialistas são obrigados a reconhecer como
válido. Só criaturas sistemáticas, retardatárias, preconceituosas ou sectárias,
incapazes de abrir a mente fechada nas idéias feitas para a compreensão da
realidade, continuam a negar a verdade espírita e ao mesmo tempo a sofrer sob o
guante invisível dos espíritos obsessores. Porque a seita religiosa fechada é
irmã da seita científica amarrada aos seus preconceitos. Um cientista apegado a
preconceito é a própria negação da Ciência.
VIII — AS QUESTÕES POLÍTICAS
Os
resíduos do totalitarismo religioso, procedentes das fases teocráticas da
evolução social e política do mundo, estão ainda bem vivos e atuantes em nosso
meio e na maioria das nações. É natural que isso aconteça pois a evolução dos
povos e de suas estruturas sócio-culturais é sempre lenta e difícil. em razão
da complexibilidade das organizações maciças com seus múltiplos interesses,
tradições, costumes, superstições e outros muitos elementos em mistura nos
grupos sociais. A extática social se funda nas fixações de padrões de
comportamento, usos e costumes, modos de pensar e de ser, tudo isso
constituindo a trama do que podemos chamar o instinto social de conservação,
muito mais forte e poderoso do que o instinto de conservação individual.
Não
raro nos espantamos com situações visivelmente estúpidas ou injustas que
prevalecem nos meios sociais, sem que ninguém se lembre de modificá-las. É que
as raízes do hábito se entrelaçam no inconsciente coletivo, sustentando
acomodações muitas vezes já incômodas, mas que a estrutura geral sustenta para
se proteger de desfigurações ou infiltrações de elementos estranhos.
A
estrutura arcaica do Estado continuou a influir nos Estados modernos, por
maiores que sejam as suas modificações. A ligação genésica dos elementos sociais
básicos das estruturas antigas: Governo, Poder Militar, Religião dominantes,
Justiça, Repressão Policial, Língua, Folclore correspondem no seu conjunto a um
arquétipo coletivo da estrutura sócio-cultural. Nos estados modernos a
separação entre o Estado e a Religião, determinada pelas revoluções religiosas,
que empolgaram grande parte das massas e das elites, representa apenas um
processo de acomodação. A separação é apenas formal, pois em substância, nas
Repúblicas, como nos antigos Impérios, a conjugação Estado-Igreja permanece
quase inalterada.
Diante
disso, os grupos religiosos minoritários procuram, por sua vez, na
reivindicação de seus direitos, manter relações semelhantes com o Estado, em
defesa de sua própria conservação. E o fazem através das franquias políticas da
sociedade, procurando eleger seus representantes para cargos governamentais. Os
interesses imediatistas falam mais alto de que os ideais no espírito prático
dos renovadores.
Essa
razão por que, no Brasil e na maioria das nações em que o Espiritismo floresceu
suficientemente, as instituições espíritas de defrontam as vezes com o
problemas das infiltrações políticas nos Centros. Muitos deles se transformam,
nas épocas eleitorais, em verdadeiros comitês de candidatos que surgem do próprio
meio espírita ou de meios que se ligam a ele por algumas afinidades reais ou
supostas.
Surge
então o perigo das deformações doutrinárias nos Centro, geralmente empolgados
pela possibilidade de eleição de um companheiro ou aliado para representação no
poder político. Os espíritas são cidadãos como os demais e têm direitos e
deveres no plano político, mas não têm o direito de envolver uma instituição
doutrinária nas disputas eleitorais. Ë nesse momento que surge para o meio
espírita o velho problema da separação entre o Estado e a Igreja. Não existe
Igreja espírita, mas existe o Centro. Quando os dirigentes deste não estão
devidamente esclarecidos sobre este assunto, podem transformar o Centro num
Comitê eleitoral. Isto é o que se deve impedir.
A
Política é a arte da administração pública, da direção dos negócios públicos. O
espírita, como cidadão, pode e deve participar dela, de acordo com os ditames
da sua consciência, mas não tem o direito de se apresentar ao eleitorado como
candidato espírita, porque o Espiritismo não é não tem e não pode ter uma
posição política. O espiritismo é a Ciência do Espírito e não da rés pública. Ë
no exame desse problema que compreendemos a resposta do Cristo aos que
desejavam envolvê-lo nos problemas políticos do tempo:” Daí a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus.”. Que o cidadão dê ao Estado o que lhe compete
dar, mas não se esqueça de reservar para Deus o que só a ele pertence: a sua
qualificação específica de espírita no plano religioso.
Nesse
plano, o espírita tem deveres específicos, que são os da fidelidade à Doutrina,
a preservação da sua pureza, evitando de desviá-la de seu objetivo
exclusivamente espiritual. A Política é campo terreno de disputas, intrigas,
conflitos de toda ordem . Comprometer o Espiritismo nessa área de discórdias,
em que fervem as paixões partidárias e ideológicas, é levar para a área
espírita as divergências mundanas, como vemos na História do passado e agora
mesmo, na História contemporânea, as inquietações e os desajustes do mundo.
A
função política do Espiritismo existe, mas noutro sentido. Não lhe cabe nenhum
lugar nas disputas de cargos políticos, mas lhe cabe a formação espiritual dos
homens para que exerçam, como cidadãos, influência benéfica na solução dos
problemas políticos, através do bom-senso e da retidão da consciência, quando
levado pelas circunstâncias, chamado ou convocado para funções administrativas
em áreas do Estado.
O
seu esforço para o aperfeiçoamento das estruturas políticas, o seu exemplo de
respeito a todos que agem nessa área, o desinteresse puro que demostrar no
exercício de suas funções, sacrificando-se pelo bem público não constituem,
nesses casos mistura de interesses materiais com objetivos espirituais.
Para
bem entendermos isso devemos lembrar que o Cristo nunca exerceu nenhuma função
política, nunca pretendeu assumir posições políticas, recusou-se até mesmo nas
lutas pela libertações de Israel dominada pelos romanos (questão que os judeus
consideravam como sagrada, pois misturavam as coisa do Céu com as Terra), mas
apesar de sua total abstinência política conseguiu injetar nas estruturas
políticas do Mundo a seiva divina da orientação evangélica.
O
mesmo aconteceu com Kardec, que passou incólume pela agitações políticas da
França, numa fase tumultuosa, sem tentar aproveitar-se de aproximações
políticas para dar Espiritismo o lugar que lhe cabia no desenvolvimento
espiritual da Terra. O Espiritismo se liga a todos os campos das atividades
humanas, não para entranhar-se neles, mas para iluminá-los com as luzes do
Espírito. Servir o Mundo através de Deus é a sua função, e não servir a Deus
através do Mundo, que nada pode dar a Deus, senão a obediência às leis divinas.
A política é um campo magnético de forças cruzadas, que exerce várias formas de
atração sobre os homens, na pauta de seus múltiplos e contraditórios
interesses.
Mas
o ponto de conexão das energias políticas com os interesses materiais tem nome
e sobre nome: Egoísmo Vaidoso. Nas fases de crise política vemos os políticos
engolirem heroicamente cobras e lagartos para equilibrarem nas situações mais
difíceis. O espírita engajado na política tem de enfrentar todos esses
problemas sem projetar a sombra de suas atitudes contraditórias ou falsas no
campo doutrinário do seu eleitorado. No exercício de funções jornalísticas
vimos diversos espíritas de nome cercados de esperanças falirem na luta
política, desservindo às ideias que desejavam servir.
Perderam
a parada para si mesmos e saíram da luta mutilados. Por isso entendemos que o
espírita só deve entrar na política quando convocado para funções ou posições
que não possa recusar, porque então disporá do amparo de sua independência, de
seu desinteresse pela carreira e de sua disposição para superar as fascinações
traiçoeiras do meio. Quando consegue manter-se nessa rara posição, presta
realmente serviços à causa pública a aos ideais, pagando por esse heroísmo o
preço de profundas desilusões.
O
espírita não é nem pode ser avesso aos interesses públicos, mas não deve
arriscar-se aos azares da política se não estiver impregnado até à medula do
firme propósito de resistir a todas as fascinações do cargo que vai exercer e
solidamente esteiado nos princípios da Doutrina. Entre os apóstolos de Jesus
havia um jovem ambicioso, embriagado de sonhos e aspirações políticas para o
seu povo, que acabou atirando aos pés dos rabinos do Templo as trinta moedas de
sua traição.
O
Espiritismo é o fermento de um novo mundo em que a política estará livre dessa
condição amarga e perigosa. Se quisermos ajudar a política a elevar-se nos
rumos do futuro. não é a ela que devemos nos entregar, mas à introdução dos
ideais espíritas na consciência humana, porque sem fermento o bolo não cresce.
Tivemos
a ocasião de ver candidatos espíritas a cargos políticos elaborando projetos de
lei para a constituição oficial da Igreja Espírita, com a necessária hierarquia
eclesiástica, de maneira a se dar ao Espiritismo, como alegavam, maior força
política. (Repetição da entrega do Cristianismo ao Império Romano). Vimos e
ouvimos pregações entusiásticas de políticos espíritas encarecendo a
necessidade de criar-se a liturgia espírita, com toda a série de sacramentos,
desde o batismo e o casamento até à recomendação de defuntos nos Centros.
(Capitulação do Cristianismo no Século IV ante às infiltrações do sincretismo
religioso).
Lutamos
duramente contra políticos espíritas que tentavam a criação do Partido Político
Espírita que desencadearia a luta religiosa no meio político-eleitoral.
Participamos de assembléias de grandes instituições doutrinárias que enfrentavam
a tese de uma organização geral dos espíritas com objetivos eleitorais
rigidamente programados e executados pelas Federações. (Queda da Igreja nos
compromissos políticos dominadores). Vimos publicações oficiais de instituições
espíritas entregues à propaganda política no meio doutrinário e Centros
Espíritas honestos e ativos transformados em comitês permanentes de
candidaturas políticas também permanentes. A casca de banana das ambições
políticas, jogada intencionalmente na calçada das Federações provocaram
escorregões e quedas de espíritas dedicados e bem intencionados.
A
ilusão política desvairou muitas figuras do meio espírita, enfraquecendo o
movimento espírita, e várias dessas figuras chegaram a carregar velas acessas
em procissões noturnas para não perderem o prestígio político juntos às áreas
dos católicos simpatizantes da Doutrina. Vimos também algumas dessas figuras
recolhidas a tratamento de desobsessões em Centros socorristas e outras
recolhidas, em estado de completa perturbação ao tratamento de Hospitais
Espíritas. Lemos livros de conhecidos espíritas estudiosos e cultos defendendo
ideologias de direita e de esquerda em nome da Doutrina. E ainda assistimos ao
esfacelamento de Mocidades Espíritas, dotadas de toda a agressividade da juventude,
promovendo movimentos políticos e sustentado teses violentas em favor de um
Espiritismo mais integrado na realidade social.
Felizmente
essa sarabanda de loucuras passou sem empolgar a maioria absoluta dos
espíritas. Mas a ameaça pairou sobre o movimento doutrinário e sobre a
Doutrina, mostrando-nos ao vivo a lamentável falta de conhecimento da Doutrina
e as consequências a que essa ignorância (mesmo da parte de criaturas
ilustradas e estudiosas) pode levar o movimento doutrinário. Em todos esses casos,
a fascinação política se conjugava com interpretações sofísticas de princípios
doutrinários, que justificavam (não intencionalmente) os perigosos desvios do
pensamento espírita.
No
Centro Espírita, por essas e outras, não se pode restringir as atividades
apenas ao aspecto religioso e assistencial. Além dos cursos que devem ser dados
sobre a Doutrina, com método e insistência, é necessário que em todas as
sessões sejam pronunciadas breves palestras elucidadoras, seguidas de diálogos
da assistência com o expositor. Sem o constante e livre estudo da Doutrina —
dirigido sem pretensões, mas também sem o receio de abordagem dos pontos mais
difíceis da Doutrina, não conseguiremos superar o estágio embrionário em que
ainda permanece grande parcela do movimento doutrinário. E se não superarmos
esse estágio continuaremos expostos a todos os perigos que relacionamos e a
outros que poderão surgir.
O
Centro Espírita possui os elementos seguros para a realização desse objetivo.
Basta que os dirigentes, por mais modestos que sejam, não se esqueçam da
bússola que lhes permitirá navegar com segurança nas águas mais tumultuosas: a
Codificação de Allan Kardec. Basta um esquema dos pontos essenciais da
Codificação, mantido obrigatoriamente nos trabalhos públicos, com a rejeição da
mistificação roustainguistas e das novidades sem nenhuma autoridade que são
semeadas em nosso meio por pessoas sistemáticas ou pretensiosas, para se
conseguir bons resultados.
Kardec
é a base e a cúpula da Doutrina, com o apoio, que nunca lhe faltou, do Espírito
da Verdade. Se não queremos novidades é porque os novidadeiros somente se
apoiam em suas pretensões individuais. Ninguém, nem mesmo Kardec, se estivesse
sozinho na elaboração da Doutrina, não conseguiria construir o monumento de
lógica inabalável que ele, com a ajuda dos Espíritos Superiores e o seu
trabalho gigantesco de pesquisas conseguiu deixar-nos. Se não respeitarmos esse
monumento, o melhor que temos a fazer é mudar-nos para outro campo doutrinário,
deixando o Espiritismo avançar por si mesmo.
VII
— DISCIPLINA
FRATERNA
O
problema da disciplina no Centro Espírita é dos mais melindrosos e deve ser
encarado entre as coordenadas da ordem e da tolerância. Não se pode estabelecer
e manter no Centro uma disciplina rígida, de tipo militar. O Centro é além de
tudo o que já vimos, um instrumento coordenador das atividades espirituais. No
esquema das suas sessões teóricas e práticas a questão do horário é imperiosa,
mas não deve sobrepor-se às exigência do amor fraterno.
Não
é justo deixarmos fora da sessão companheiros dedicados ou necessitados, porque
chegaram dois ou três minutos atrasados. Vivemos num mundo material e não
espiritual, em que as pessoas lutam com dificuldades várias no tocante à
locomoção, de compromissos diversos, e é justo que se dê uma pequena margem de
tolerância no horário. Essa margem não deve também ser estabelecida com rigor,
mas deixada ao critério do dirigente dos trabalhos, que saberá dosar as coisas
de acordo com as conveniências.
O
rigor exagerado na questão de horário, mormente nas cidades mais populosas,
causa aborrecimentos e mágoas a pessoas sensíveis que, depois de aflição e
correria para chegar na hora certa, viram-se impedidas de participar da reunião
por alguns segundos ou minutos. Temperando-se as exigências da ordem
cronológica com dever da atenção aos companheiros podemos evitar aborrecimentos
perfeitamente superáveis.
Claro
que esse é um problema a ser sempre esclarecido nas reuniões, para que todos
possam ter conhecimento da flexibilidade possível no horário. O simples fato de
haver essa flexibilidade, já tira à disciplina o seu aspecto opressivo.
Essa
mesma dosagem de ordem e tolerância deve ser aplicada a outros problemas, de
maneira a assegurar-se, o mais possível, um ambiente geral sem prevenções, que
muito ajudará na realização dos trabalhos.
Tratamos
das almas frágeis no capítulo anterior. Devemos agora tratar das almas fortes,
as mais apegadas ao problema disciplinar. As almas fortes são aquelas que
procedem de linhas evolutivas em que os espíritos se aperfeiçoam no uso da
independência e da coragem. Por isso mesmo trazem consigo um condicionamento
disciplinar que não aceita facilmente as concessões a que aludimos.
Uma
palavra rude de uma alma forte, embora não intencional, pode ferir a
susceptibilidade de uma alma frágil, prejudicando-a no seu equilíbrio por uma
insignificância. Ora, segundo a regra geral das relações humanas, o forte deve
proteger e amparar o fraco, para ajudá-lo a se fortalecer. Os dirigentes de
trabalhos devem cuidar de evitar esses pequenos atritos que não raro têm
consequências muitas maiores do que se pensa. Por outro lado, as almas fortes
precisam controlar os seus impulsos pelo pedido consciencial da fraternidade.
Há
pessoas que, por se sentirem mais fortes, decisivas e poderosas que as outras,
embriagam-se com a ilusão do poder, desrespeitando os direitos alheios e
sobrepondo-se, com rompança às opiniões dos outros. Atitudes dessa natureza, no
meio espírita e no Centro, causam má impressão e constrangimento no ambiente,
fomentando malquerenças desnecessárias.
Em
se tratando de Espiritismo, tudo se deve fazer para manter-se um ambiente de
compreensão e fraternidade, sem exageros, tocado o possível de alegria e
camaradagem. Num ambiente assim arejado, desprovido de tensões, a
espiritualidade flui com facilidade e os Espíritos orientadores encontram mais
oportunidade de tocar os corações e iluminar as mentes.
Por
menor que seja, o Centro dispõe sempre de mais de um setor de atividades.
Deve-se fazer o possível para que em todos eles reine um ambiente fraterno, que
é o mais poderoso antídoto dos desentendimentos. A disciplina desses trabalhos,
mesmo quando exija maior severidade, como no caso das sessões de desobsessão,
deve ser tocada pela boa vontade e a compreensão fraterna. Sem isso,
particularmente em se tratando de desobsessão, dificilmente conseguiríamos
resultados satisfatórios.
Mas
a franqueza também é elemento importante na boa solução dos problemas. Quando
necessário, o dirigente deve chamar o obsedado em particular e expor-lhe com
clareza o que observou a seu respeito, aconselhando-o a mudar de comportamento
para poder melhorar. A verdade deve estar presente em todos os momentos das
atividades espirituais, mas a verdade nunca pode ser agressiva, sob pena de
produzir o contrário do que se deseja.
Não
queremos esmiuçar todos os problemas e todas as situações no funcionamento de
um Centro, pois isso seria cansativo e desnecessário. Tocamos apenas em alguns
pontos para abrir diretrizes aproveitáveis, segundo a experiência de longos
anos nas lides doutrinárias. Outros, com mais capacidade e mais penetração,
poderão completar o nosso trabalho com suas contribuições. Nosso desejo é
apenas ajudar os companheiros que tantas vezes se aturdem com as dificuldades
encontradas. Não propomos regras como possível autoridade, que não somos e
ninguém o é, num campo de experiências em que quanto mais se aprofunda mais se
tem a aprender.
A
disciplina de um Centro Espírita é principalmente moral e espiritual,
abrangendo todos os seus aspectos, mas tendo por constante e invariável a
orientação e a pureza de intenções. Os que mais contribuem para o Centro são os
que trabalham ,frequentam, estudam e procuram seguir um roteiro de fidelidade à
codificação Kardeciana. Muito estardalhaço, propaganda, agitação só pode
prejudicar as atividades básicas e essenciais do Centro, humanitárias e
espirituais, portanto recatadas e silenciosas.
Os
problemas do Centro são de ordem profunda no campo do espírito. Mas apesar
disso não se pode despreza as oportunidades de divulgação e principalmente de
orientação doutrinária para o povo em geral. Não precisamos de aumentar
forçadamente os nossos grupos, somos contrário ao proselitismo, sabemos que nem
todos podem aceitar os nossos princípio, mas sabemos também que a Verdade deve
sempre ser posta ao alcance de todos. Quem quiser encontrá-la não precisará
procurar lugares especiais, deve encontrá-la em qualquer parte em que um
jornal, um programa de rádio, um livro, um folheto estiver ao seu alcance.
Não
convertemos nem devemos tentar converter ninguém, pois, como ensinava Kardec,
nem todos estão em condições de afinar-se espiritualmente na compreensão dos
problemas novos que o Espiritismo apresenta ao mundo em renovação. Mas aqueles
que amadureceram na idade espiritual serão úteis na batalha para o
amadurecimento de outros.
A
disciplina autoritária e rígida teve a sua função na disciplinação dos povos
bárbaro após a queda do Império Romano. Essa coerção prosseguiu pelo tempos
sombrios do Medievalismo. Mas a Era da Razão que surgiu da noite medieval,
reivindicou os direitos individuais do homem, na linha ateniense do
esclarecimento cultural. O domínio natural da Igreja esgotou-se nos albores do
Renascimento, mas o domínio artificial, fundado nos poderes políticos e
econômico-financeiros da organização clerical estenderam-se aos tempos modernos
e ainda se exerce, embora enfraquecido e estropiado, no mundo contemporâneo, em
pleno alvorecer da Era Cósmica.
Essa
anomalia histórica, nos entrechoques contraditórios da fase de transição,
resolve-se aos nossos olhos num desvio violento provocado pelas forças
conjugadas dos interesses em jogo, voltando-se para a tradição de Esparta. A
força e a violência se sobrepuseram aos ideais ateniense e o indivíduo esmagado
pelo peso das massas acarneiradas refugiou-se na servidão medieval, nas
oposições inócuas e na revolta do desespero insensato. As leis históricas
seguem o seu curso regular, mas quando as acumulações dos fatores a-históricos,
como os lastros esmagadores dos instintos primitivos, acumulados nos socavões
do inconsciente coletivo, as obrigam a sair dos canais naturais, elas se
desviam à procura dos pontos de retorno.
A
volta a Esparta, que marcou a fase instintiva das explosões totalitárias,
mergulhou o mundo no delírio do arbítrio e da violência. Um terremoto
a-histórico rompeu o chão em que florescia a Belle-Epoque, a fase lírica e
romântica que Stephan Zweig descreveu em O mundo que Eu Vi, precipitando no
abismo todos os valores culturais e humanistas dos séculos XVIII e XIX. O
próprio Zweig imolou-se, a seguir, no desespero do suicídio. Os abismos da
Terra lacerada impediram-nos o acesso a Atenas. Mas restou uma passagem
secreta, uma ponte sobre o abismo, sustentada pelas rochas inabaláveis do
Evangelho, orienta pelos sinaleiros subjetivos dos arquétipos de Jung nos rumos
da transcendência. Essa ponte era a do novo Renascimento do homem e do mundo
pelas mãos do Cristo. Era o Espiritismo, que das ruínas da catástrofe histórica
fazia ressurgir, ainda cambaleante, a figura fantasmal de Lázaro.
O
Mundo Contemporâneo é Lázaro redivivo, ainda envolto em mortalha, com a boca
amarrada, os braços e os pés atados, mas atendendo ao chamado do Cristo para
reintegrar-se no processo histórico interrompido. Marta e Maria o restabelecem
na paz de Betânia, cercada pelas guerras furiosas e as atrocidades produzidas na
Terra, no Céu e no Mar pela inconformação e a revolta dos homens.
Nessa
hora trágica, dantesca (não apenas na imagem do Inferno de Dante, mas na sua
própria essência real) a consciência humana desperta para a busca de si mesma.
O Centro Espírita, na sua singeleza, na sua humildade e na sua podreza —
pequenina semente que os abismo ameaçam tragar — sustenta a chama da esperança
cristã-humanista e trabalha em silêncio na restauração da Verdade. Solitário,
desprezado pela ignorância arrogante é o Centro — o ponto ótico ou visual para
o qual convergem todas as possibilidades da Ressurreição do Planeta
assassinado. Temos necessidade urgente de compreender esse momento histórico,
decifrar os seus signos para que a Esfinge não nos devore.
A
rotina dos trabalhos do Centro, a monotonia das doutrinações exaustivas, a
repetição dos ensinos que chegam a parecer inúteis, a insistência das obsessões
agressivas, a inquietação dos que se afastam em busca do socorro ilusório de
ciências psíquicas ainda informes e retornam desiludidos e cansados
—
todos esse ritornelo atordoante pode desanimar os que lutam contra a voragem
das trevas. Mas é preciso resistir e continuar, é necessário enfrentar a
ignorância petulante dos sábios que ainda não aprenderam a lição socrática da humilde
intelectual, do sábio que só é sábio quando sabe que nada sabe.
A
hora espírita do Mundo é de agonia e desespero. Mas foi agonizando na cruz,
injustiçado pelos sábios do seu tempo, que Jesus nos ensinou a lição da
ressurreição e da imortalidade espiritual. O Centro Espírita é a cruz da
paciência que Jesus nos deixou como herança do seu martírio. Ele nos livra da
cruz que o Mestre enfrentou entre ladrões, salvando, morrendo com eles para
salvá-los — um através da conformação difícil da dor, outro através da revolta
e da indignação que levam ao arrependimento e à reparação.
Por
isso a disciplina do Centro não pode ser a dos homens, mas a dos anjos que
servem ao Senhor tatalando no Céu as asas simbólicas da Esperança. Deixemos de
lado a disciplina exigente, para podermos manter no Centro a disciplina do amor
e da tolerância. Não lidamos com soldados e guerreiros, mas com doentes da
alma. Nossa disciplina não deve ser exógena, imposta de fora pela violência,
mas a do coração. Tem de ser a disciplina endógena, que nasce da consciência
lentamente esclarecida aos chamados de Deus em nossa acústica da alma.
A
evolução humana se processa no concreto em direção ao abstrato, o que vale
dizer da matéria para o espírito ou do corpo para a alma. Na linguagem
platônica diríamos: do sensível para o inteligível. Na Era Cósmica que se
inicia com as façanhas da Astronáutica essa evolução se define em termos de
ciência e tecnologia. O homem das cavernas saiu de sua toca de bicho para
dominar a Terra, edificar casas, palácios e torres, templos que apontam para as
estrelas, e agora, depois de se librar na atmosfera com asas e hélices,
projeta-se além da estratosfera, mergulha no Cosmos, pousa na Lua e regressa à
Terra, servindo-se de propulsores terrenos e das forças da gravidade, como se
tivesse nascido nos espaços siderais e não do barro do planta.
Quem
não vê nesse esquema gigantesco e dinâmico o roteiro da evolução humana? De
outro lado, rompemos os véus misteriosos de Isis nas pesquisas da Física, em
que a matéria nos revela as estruturas atômicas da realidade aparentemente
compacta e opaca, que se mostra fluída e transparente, e nas pesquisa psíquicas
descobrimos que a nossa natureza não é concreta, mas abstrata, pois não somos
corpos, mas espíritos.
Sobre
os escombros do passado em ruínas, das civilização mortas, das certeza
materiais e sólidas transformadas em pó e ante a ameaça dos cogumelos atômicos
desintegrantes, vemos de maneira inegável que a essência de toda a realidade
tangível é na verdade intangível. Reconhecemos os enganos produzidos pela
ilusão dos sentidos materiais em nosso senso abstrato e somos obrigados a
compreender que malbaratamos o tempo nas encarnações desvairadas.
As
fachadas suntuosas das catedrais, os gigantescos edifício das Instituições
cientificas, os Edifícios do Saber em todos os campos — todo esse acervo de
grandiosidade efêmera se reduz a esboços de uma verdade simples que se escondia
por milênios na humildade de um casebre de arrabalde ou de uma choupana da roça
— O CENTRO ESPÍRITA. Só ali encontramos, entre criaturas anônimas, na intuição
dos simples, a Verdade que buscávamos. Assim também aconteceu ,nas grandes
civilizações do passado, que renegaram os ensinos de um carpinteiro galileu. Na
penumbra do Centro Espírita, suspeita para os sábios e os poderosos, Deus
escondera a chave do mistério.
VI — AS ALMAS
FRÁGEIS (b)
O
Espiritismo não é uma Doutrina de passividade contemplativa. Sua finalidade,
como os Espíritos Superiores disseram a Kardec, é revolucionar o mundo inteiro,
modificando-o para melhor. A essência cristã do Espiritismo reflete as atitudes
vigorosas do Cristo em luta com as estruturas asfixiantes do Mundo Antigo.
O
Espírita verdadeiro é um construtor do futuro. Cabe-lhe o dever inalienável de
estudar a Doutrina, aprofundar-se no seu conhecimento, difundi-la com vigor e
confiança para que a sua luz solar afugente as trevas de um passado
contraditório de lamúrias, imprecações e louvores subservientes a Deus, como se
Deus fosse um tirano injusto à espera do nossos rapapés para nos conceder a sua
proteção.
A
promessa evangélica do Consolador se cumpre na Doutrina Espírita de maneira
positiva e não através de cantigas de ninar, de palavrório anestesiante. A
própria dureza do mundo atual, com suas atrocidades, sua ganância, sua
criminalidade aviltante, mostra-nos que o tempo dos Contos da Carochinha já
passou, que a Humanidade entrou na fase da madureza e tem de aprender a
enfrentar os seus problemas por si mesma.
Não
que Deus nos tenha abandonado ou esquecido, ou que tenha falecido de um enfarte
divino — como querem os teólogos do Cristianismo Ateu — mas porque marcou os
limites de nossa ilusão comodista, lançando-nos face a face com os resultados
do nosso comportamento no mundo.
Todas
as dificuldades atuais são consequências dos abusos que cometemos no uso do
nosso livre-arbítrio, apesar de todo o auxilio e de todas as advertências que
recebemos do Alto nas etapas sucessivas da nossa evolução, por falta de uma
tomada de consciência do que somos e da finalidade superior da nossa própria
existência.
O
consolo que o Espiritismo nos dá não é a proteção fictícia da fé cega, dos
sacramento vazios de sentido, do socorro espiritual egoísta, em forma de
privilégio injustificáveis, do paternalismo dos sacerdotes profissionais, dos
agrados interesseiros de médiuns venais. O Consolador não se manifesta através
de prodígios sobrenaturais, mas na forma de esclarecimentos positivos, de
revelação científica das leis naturais que até agora olvidamos ou encaramos
como crianças choramingas pedindo colo.
O
Espiritismo nos consola como o fez o Cristo, provando aos seus discípulos que
cada um de nós é um ser imortal, de natureza divina, que nasce para morrer,
pois a morte é o fim do aprendizado terreno, de maneira que morremos para
ressuscitar em plano superior, a fim de prosseguirmos a nossa evolução em
condições mais favoráveis.
A
Filosofia Existencial do nosso tempo sanciona essa verdade espírita,
sustentando que o homem passa pela existência terrena como um viajante que
atravessa uma região estranha, aprendendo a vencer por si mesmo as
dificuldades, adquirindo experiências para depois avançar em nova direção. Até
um cético, como Sartre, viu-se obrigado a admitir que nascemos como seres
pré-existentes num plano metafísico, projetando-nos na existência física para
fazer uma trajetória de experiências na busca da transcendência, desenvolvendo
potencialidades que devem levar-nos à condição divina.
Cego
de um olho, não conseguiu ver a passagem do ser através da morte e considerou
esta como o fim, a frustração dos anseios de transcendência. Mas Martin
Heidegger enxergou mais longe e proclamou: “O homem se completa na morte“.
Kierkegaard, teólogo dinamarquês protestante, fundador do Existencialismo,
entendeu que o homem é o parceiro de Deus na Eternidade e por isso só pode, de
fato, comunicar-se com Deus, que é o Outro, no, diálogo das almas. O
Espiritismo esclarece essas teorias filosóficas ainda confusa, mostrando que a
realidade existencial do homem, aqui e no além, pode ser comprovada pelas
pesquisas científicas, como na verdade já o foi.
No
Centro Espírita as almas frágeis dos rezadores lamurientos encontraram os
elementos necessários à recuperação de suas forças, de sua virilidade
espiritual, para ressuscitarem-se a si mesmas das cinzas do passado.
Percebendo
isso de maneira vaga, envoltos ainda nas brumas de um misticismo igrejeiro,
muitos espíritas querem transformar os Centro em escolas simplórias,
retirando-lhes a prática espírita tradicional ou despindo-os de seus elementos
fundamentais, que são as manifestações mediúnicas. Essa é uma tentativa de
repetir no Espiritismo a supressão do culto pneumático, ou seja, as sessões
mediúnicas em que se realizam os diálogos da doutrinação de encarnados e
desencarnados.
É
esse um equivoco proveniente da ignorância da Doutrina ou do seu conhecimento
superficial. Por outro lado, há nessa tentativa a influência do instinto de
imitação, que leva criaturas afoitas a querem renovar o Espiritismo, num tempo
em que tudo se renova. Não, percebem, esses espíritas renovadores, que tudo se
renova num mundo em que o Espiritismo é a fonte e a mola de todas as
renovações. Se toda a cultura terrena está abalada e se renova, é porque estava
errada e precisa ser corrigida.
Mas
o Espiritismo antecipou, nos seus postulados, todas essas renovações,
previu-as, anunciou-as e até mesmo delineou-as, como se pode ver no confronto
das novidades atuais com o vasto esquema de transformação oferecido ao mundo
pelos Espíritos há mais de um século. Só um setor do conhecimento , nesta hora de
transição, não necessita renovações, e esse setor é precisamente o Espiritismo.
O que ele exige de nós não é renovação doutrinária, mas apenas expurgo de
infiltrações espúrias nos Centros, produzidas pela leviandade de praticantes
que se desvairam da orientação doutrinária, adotado atitudes, fórmulas e
práticas antiquadas.
O
terror místico proveniente de um longo passado religioso de mistérios e ameaças
não tem mais razão de ser. Não obstante, encontramos no meio espírita um pesado
lastro desse terror em forma de traumatismos inconscientes que geram
comportamentos antiespíritas. Chegou-se recentemente a introduzir numa grande
instituição espírita paulista o princípio do jejum sexual., mesmo para casais.
Marido e mulher deviam privar-se de relações impuras, se quisessem preparar-se
para uma vida espiritual superior.
O
tabu do sexo foi sempre um abantesma nos meios religiosos, mas isso jamais
impediu os escândalos e as perversões sexuais que o Apóstolo Paulo já
denunciava na Igreja de Corinto. A repressão sexual leva fatalmente a situações
patológicas. Sexo é lei, é lei básica da Natureza. Querer suprimi-la é querer
suprimir a vida. Condená-la é condenar o homem, a criatura humana, é censurar a
Deus que a estabeleceu de maneira irrevogável. Se a relação sexual é pecado,
somos todos filhos de pecado. Nada e ninguém nasce por geração espontânea, pois
mesmo os vírus hoje indicados como prova dessa forma de geração, resultam de
forma sexuais específicas das formações cristalinas. Lei dialética de síntese e
reprodução, o sexo influi na manutenção de todo o equilíbrio da Natureza.
A
função sexual não é apenas reprodutora, mas também diretora do equilíbrio
orgânico e psíquico da criatura humana. Estabelecer sistemas de abstinência
sexual nos Centro, como forma de comportamento espiritual para os espíritas, é
simplesmente negar toda a Doutrina, que tem por fundamentos a evolução humana
através da reencarnação, dos processos afetivos entre homem e mulher, da
criação e educação dos filhos, da formação familial como célula básica de todas
as estruturas sociais e raciais. O celibato religioso contradiz os fundamentos
da religião.
É
uma violência contra as fontes da vida. Apague-se o sexo do mundo e voltaremos
aos espaços vazios de mundos mortos na mecânica fria dos tempos anteriores à
Gênese. Por isso, a Historia Religiosa está povoada de íncubus e súcubus, os
espíritos vampirescos que, durante a Idade Média atormentavam freiras e frades
na suposta santidade dos mosteiros e conventos. E ainda hoje a ação desses
espíritos se faz sentir por toda parte, em manifestações espantosas que, em
geral, permanecem ocultas nos arquivos da pesquisa psíquica mundial.
O
Centro Espírita não pode pactuar com esses resíduos criminosos de um passado
estúpido. Claro que não se quer o abuso, pois isso é naturalmente condenado
pelos princípios espíritas da moral evangélica. Essa moral, como vemos nos
textos evangélicos, não é condenatória nem repressiva do sexo. O que ela
pretende é moralizar o sexo e não condená-lo ou suprimi-lo. O ensino de Jesus a
Nicodemos: “’E preciso nascer de novo”, o caso de Madalena, a cortesã
compreendida pelo Mestre, o episódio da mulher adúltera que os hipócritas
queriam apedrejar mostram de sobejo que a posição de Jesus em face desse
problema era de compreensão e respeito pela condição humana.
As
almas frágeis do meio espírita devem atirar no caminho a bagagem pesada, dessas
condenações do passado, sem temer as ameaças do Céu nem entregar-se às
fascinações da Terra. O espiritismo esclarece a questão sexual em termos
racionais, levando em conta a naturalidade das funções humanas na vida terrena.
São criminosos inconscientes os que pretendem implantar no meio espírita
sistemas que já mostraram sua inconveniência na própria História do
Cristianismo.
Assim
como o homem não regride na sua evolução, a Ciência Suprema do homem que é o
Espiritismo, não pode regredir no seu desenvolvimento, tão penosamente
realizado na Terra. Os moralistas de vistas curtas nunca perceberam as consequências
negativas de suas atitudes. A verdadeira moral não se constitui de proibições
absurdas, pois estas são a negação de toda moral, em favor dos grandes surtos
de imoralidade.
VI — AS ALMAS FRÁGEIS (a)
O
Centro Espírita é o refúgio das almas, encarnadas e desencarnadas. Substitui no
presente os templos do passado, onde as pompas terrenas estimulavam as almas
frágeis, sugerindo-lhes o amparo das potências celestes. A riqueza dos templos,
o fulgor das luzes nos altares, os paramentos do sacerdote, os vitrais
coloridos e a música sagrada reboando nas naves agiam ao mesmo tempo como
anestésicos das angústia terrenas e excitantes esperanças celestes.
Era
toda uma técnica divina, provinda das origens humanas, do silêncio misterioso
das selvas das matas, em que a densa folhagem das árvores enormes filtrava a
luz do sol em gamas de coloridos arco-irisados.
A
ideia do Sagrado sugeria a transmissão dos poderes divinos através dos
sacramentos e dos rituais. Mas o tempo passou a sua esponja mágica no séculos e
nos milênios amadurecendo as almas frágeis e despertando-as para a consciência
de si mesmas.
Na
esteira das renovações surgiram as reuniões simples dos clãs e dos grupos
familiais, junto às fontes murmurantes em que os oráculos e as pitonisas
interpretavam a voz dos deuses na voz das coisas. Jesus de Nazaré, que os
judeus esperavam como o cristo das novas guerras de conquista, surgiu humilde e
simples, modesto filho de uma família operária.
De
suas mãos surgiram práticas novas, em que o fluxo divino dispensava os
paramentos suntuosos dos canais oficiais da Divindade. E, com esse fluir
espontâneo do amor e da bondade naturais, derramaram-se na terra dos corações
as sementes da Boa-Nova.
Foi
dessa semeadura nos campos a nas praias, no próprio interior dos templos ou em
seus pátios exteriores, ainda sob o fumegar das aras em que se queimavam as
ervas sagradas e as carnes dos animais sacrificados, que surgiram os primeiros
cultos pneumáticos do Cristianismo Primitivo, os cultos do Espírito.
Poder
insuspeitado da Evolução, desencadeando os processos misteriosos da
metamorfose, transformaram aos poucos as formas de relação do homem com a
Divindade. O Centro Espírita nasceu como Jesus e com Jesus, sem os aparatos
inúteis do formalismo religioso, restabelecendo nas almas a confiança em si
mesmas, despertando-lhes a percepção de sua natureza divina.
As
almas frágeis tornaram-se fortes na fraqueza da simplicidade. Em vão se
desencadearam os temporais da reação, em que as almas fracas amadureceram nas
estufas brutais do martírio. Elas haviam decifrado o enigma, encontrando a
pureza na impureza do mundo, a verdade nas palavras do Messias rejeitado e Deus
no íntimo de si mesmas.
O
episódio de Pedro em Jope, recusando-se a atender o centurião Cornélios —
impuro comandante de centúrias romanas — mas atendendo-o por mandato mediúnico
de inesperada vidência, mostra-nos ainda hoje como se processou a metamorfose
do judeu formalista em cristão fraterno.
Pedro
vai à casa de Cornélios e se surpreende com a família impura tomada pelo
Espírito. A manifestação mediúnica em local profano lhe ensinava o que era o
Batismo do Espírito que até então ele não pudera compreender. Nascia ali, aos
seus olhos, o primeiro Centro Espírita numa casa de família.
E
Pedro voltou a Jerusalém para contar aos apóstolos o que vira com seus olhos e
o que sentira em seus coração. O Céu baixava à Terra e nela se abria como se
abrem as flores do campo, com o mesmo esplendor dos lírios que as vestes
suntuosas de Salomão não podiam superar. Mas o tempo ainda haveria de fluir nas
ampulhetas por quase dois milênios, até que a metamorfose anímica e
consciencial se definisse na missão de Kardec.
O
Espiritismo abalou as estruturas do mundo artificial dos homens, revelando-lhes
assustadoras perspectivas de responsabilidade moral e espiritual . Subverteu a
ordem extática das aparências convencionais e soltou sobre as Igrejas, as
Academias, as Universidades, os gabinetes dos sábios e toda a estrutura
vacilante das Ciências os seus fantasmas até então considerados como simples
ficções literárias. Em vão, por toda parte, os conservadores de um passado já
morto — embalsamadores de múmias culturais — se levantaram por todo o mundo
tentando afugentar os fantasmas invasores.
De
nada valeram os conluios secretos, as decisões arbitrárias de juízes sem toga,
as maldições de prelados poderosos. Os fantasmas não pediam licença para
aparecer e tumultuaram o panorama cultural, suscitando polêmicas violentas
entre figurões mundiais do saber. Em meio ao temporal as almas frágeis se
refugiavam humildes nas reuniões familiais do velho culto pneumático
ressuscitado. E dessas reuniões domésticas, como as do Cristianismo Primitivo,
das tertúlias à sombra das figueiras de Betânia, com as figuras simples e
amorosas de Lázaro, Marta e Maria ao redor do mestre, nasciam e se
multiplicavam os Centros Espíritas.
Essa
genealogia bimilenar do Centro Espírita, ao mesmo tempo humilde e grandiosa,
atesta a sua origem humana e divina, conferindo a Kardec o título de herdeiro
de Deus e co-herdeiro de Cristo, segundo a conhecida expressão do Apóstolo
Paulo. Um título comum, que Paulo estendeu a todos os que aceitaram a acolheram
a Boa-Nova em seus corações. Ninguém, o fez com mais sacrifício e dedicação,
com mais amor, confiança e fé, do que o Codificador do Espiritismo.
E
a genealogia prossegue na descendência espiritual de Kardec. Mas não há nisso
nenhuma intenção de vaidade ou orgulho mundano, pois as sucessivas gerações
espíritas não descendem do sangue, sim do espírito. A filiação à linhagem
espiritual de Kardec não nos proporciona títulos honoríficos ou terrenos, mas
obrigações muitas vezes dolorosas e sacrificiais, no decorrer de vidas de
abnegação ao próximo e de fidelidade ao futuro.
O
Centro Espírita, como a relva, nasce por toda parte, e quando os poderes
temporais o decompõem ou esmagam, ele renasce com teimosia desafiante. Porque
aqueles que viram e conheceram a Verdade, que a sentiram ao menos uma vez em
seus corações, jamais a esquecem e jamais a negam. As almas frágeis se fizeram
fortes ao sopro dos ventos proféticos.
Criaturas
ingênuas e desprovidas de tudo, órfãs da cultura secular, sentem-se apoiadas na
rocha das experiências vitais do espírito e são capazes de enfrentar as titãs
da cultura mundial com a firmeza dos estóicos. Nada as abala, nem sofismas nem
maldições, porque experimentaram o toque da Verdade em si mesmas.
Os
que dizem ter sido espíritas e deixado a Doutrina , nunca o foram. Se tivessem
realmente penetrado no conhecimento doutrinário, de mente e coração, não
poderiam voltar à ignorância do niilismo sem fundamento ou às fabulas do
religiosismo contraditório e absurdo. Um marinheiro que deixou o mar nunca se
esquecerá do marulho das ondas e jamais perderá a lembrança das amplidões
marinhas em que navegou.
As
almas frágeis são remanescentes dos rebanhos religiosos embalados ao longo dos
séculos pelos pastores piedosos, herdeiros da flauta de Pã. Ao som melodioso e
enganador das flautas adormeceram no tempo, vigiadas e protegidas. Não são as
almas primitivas, pois esta são geralmente fortes e bravas, carregadas dos
impulsos animais.
Ao
contrário destas, elas se acomodam nas sensações agradáveis da vida material e
repetem encarnações sucessivas de acomodação e indolência, abusando de seu
livre-arbítrio ao invés de utilizá-lo no processo evolutivo. Somente a dor, nas
duras provações, consegue arrancá-las do circulo vicioso. Como diz Lázaro, numa
das suas mensagens de O Evangelho Segundo o Espiritismo: só podem saltar o
obstáculo e avançar “sob a dupla ação do freio e da espora”.
As
almas frágeis precisam ser constantemente vigiadas e orientadas no Centro
Espírita, pois se entregam facilmente a um misticismo inferior, tentando
alcançar a angelitude através de submissão interesseira a espíritos
mistificadores, dirigentes de vistas curtas e médiuns pretensiosos. Gostam de
Ordens, Fraternidade, Escolas Evangélicas, de sacristia e coisas semelhantes,
onde possam usar distintivos, insígnias e serem classificadas em graus de
evolução. Todas essas modalidades de agrupamentos exclusivistas, separatistas e
pretensiosas servem para protegê-las na sua fragilidade.
Não
gostam de atitudes positivas e enérgicas e fariam do movimento espírita uma
Irmandade do Senhor Morto, se conseguissem dominar o meio. Os presidentes e
dirigentes de Centros precisam exercer rigorosa vigilância em suas
instituições, para que essas almas infantis não deturpem santamente a Doutrina,
com as melhores intenções de que o Inferno está cheio. Todas as formas de
resíduos do passado igrejeiro agradam a essas almas traumatizadas, que são
atraídas ao Espiritismo precisamente para se curarem nele e não para
prejudicá-lo.
V – DEUS NO CENTRO ESPÍRITA
Há
bem mais de um século que os sacerdotes, os pastores, os catequistas e as mais
altas autoridades das religiões cristãs no mundo de Deus acusam o Espiritismo
de Invenção Diabólica e o Centro Espírita de Casa do Diabo. Mas, no ocorrer do
tempo, essa situação ingrata foi se modificando. As artimanhas do Diabo foram
gradativamente vencendo os escrúpulos dos Ministros de Deus. Padres e freiras,
monges e monjas, sacristãos e coroinhas, pastores e ovelhas começam a perceber
que os espíritas também são filhos de Deus e merecem a benção do Pai.
Assim
aliviado do peso das maldições e da pressão dos preconceitos, o Centro Espírita
deixou de ser o espantalho dos crentes e passou mesmo a atraí-los. O Centro
Espírita caluniado, humilhado e humilde, muitas vezes de pés descalços ( como
Anchieta em Meritiba ) começou a cair nas graças do povo. Porquê? Porque era
apenas uma parcela do povo e nele não se exaltava ao Diabo, mas a Deus. “Quem
vive de mãos dadas com Demônio não tem o direito de proferir o Santo Nome de
Deus “, gritava um padre sincero, cheio de indignação divina, no púlpito de sua
igreja, aqui mesmo em `São Paulo, nos idos de 1930.
Mas
o tempo, que tudo cura e tudo prova, curou a fúria do padre e provou que Deus
está também no Centro Espírita. Suprema heresia que ninguém pode evitar, pois
Deus não pede licença a ninguém para estar em toda parte e em tudo, segundo o
próprio dogma da Onipresença Divina, sustentado pelas Igrejas.
Hoje,
como nos disse certa vez o Dr. Romeu do Amaral Camargo: “Deus está no Centro “.
Custou muito para as Igrejas aceitarem essa possibilidade, através de apenas
alguns de seus profitentes. Mas isso não é de espantar a ninguém, pois também
somente agora , em recente declaração do Papa Paulo VI, divulgado pela imprensa
mundial, o Vaticano reconheceu oficialmente que há uma presença de Deus no
Judaísmo. Mas se Deus está na Bíblia e se está é a palavra de Deus, sobre a
qual se assentam todas as religiões cristãs, como só agora se percebeu que Deus
está na Sinagoga?
Na
Costa do Pacifico, nos Estados Unidos, país ciosamente cristão, existem várias
Igrejas do Diabo. Quem poderá reconhecer oficialmente a presença do Diabo nessa
Igrejas, agora que o Espiritismo provou ser de Deus e não do Diabo? Com o
correr do tempo, tornou-se mais fácil provar a existência de Deus em algum
lugar do que a presença do Diabo. Não devemos perder muito tempo com essas
curiosidades, mas como a memória humana é fraca, precisamos assinalar esse
fatos.
O
trocadilho “Deus está no Centro “encerra uma verdade que todos os espíritos
conhecem de perto. No centro do Universo está Deus, não em figura mas em
realidade, pois se Deus é o Todo em Essência e tudo provém dele, tudo pertence
a Ele, tudo é Ele e Ele dirige e governa tudo, é evidente que o Centro Espírita,
onde tudo se faz em nome de Deus, não pode estar sem Deus. Giovani Papini, o
famoso escritor católico italiano , autor da famosa obra II Diavolo, causou
escândalo na Santa Sé ao sustentar que o Diabo reverterá a Deus.
Mas
os teólogos aturdidos com as atrocidades da II Guerra Mundial resolveram
declarar ao Mundo que : “Deus morreu “. Se isso realmente aconteceu, a situação
das Igrejas é insolúvel e toda a Teologia das Igrejas veio abaixo. Pois se Deus
morreu, não era imortal, e se o Diabo ficou em apuros, pois não tem quem o
perdoa, continua vivo após a morte de Deus e é mais invulnerável que Deus.
No
Centro Espírita a noticia dessa morte não causou o menor abalo, porque todos
sabem, até os adeptos de inteligência mais modesta, que Deus está ali, talvez
sentado liberalmente entre eles, sorrindo da Sua morte impossível. Numa atitude
puramente humana, os teólogos quiseram colocar Jesus, provisoriamente, segundo
dizem, no Trono de Deus, como legítimo herdeiro do Trono Supremo. E então
surgiu esta situação embaraçosa: se Deus morreu e o filho só pode substituí-lo
eventualmente – pois não é Deus – então a morte de Deus deixou o trono sob
simples regência e com isso surgiu na Terra o Cristianismo Ateu.
Precisamos
saber essas coisas para sabermos a quem entregaremos as nossas almas na hora da
morte. O ateísmo cristão nos deixa em dificuldades e só temos um jeito de
buscar Deus : no Centro Espírita. Porque somente ali, na antiga morada do
Diabo, não se acredita que Deus morreu e se continua a falar em seu nome.
Porque ali se sabe e se prova, diariamente, através dos processos Kardecianos.
que nem o homem morre, quanto mais Deus. A Teologia, arrogante e vaidosa
Ciência de Deus, fechou as suas portas doiradas com o balanço total da sua
falência. Se Deus morreu, acabou-se o negócio.
A
onipotência e a onipresença de Deus são dois mistérios teológicos admitidos por
quase todas as religiões. Porquê só pode existir um Deus, único e soberano
quando seria muito mais fácil compreender-se a multiplicidade dos deuses e a
sua disciplinação hierárquica, como nas Mitologias ? A resposta a está
pergunta, agora reformulada pelos neopoliteístas, nos leva diretamente para o
centro do problema cristão e para o centro da mundividência espírita. No
Judaísmo arcaico, herdeiro das velhas concepções mesopotâmicas, a existência de
Deus Único era uma necessidade orgânica.
Derivada
do antropomorfismo mais remoto – em que o homem era a síntese e o modelo de
todas as coisas – essa concepção figurava o Cosmo como um grande Ser que
abrangia em sua conformação ideal a totalidade das coisas e dos seres
existentes. O isoloísmo grego, teoria do mundo como um ser vivo, dotado de
corpo e alma, confundia a natureza divina com a natureza humana. Ajustando essa
idéia estática ao movimento incessante das coisas, Zoroastro, na Pérsia,
apresentava a imagem de Deus no fogo, nas labaredas, que são ao mesmo tempo
estáveis e instáveis.
O
Judaísmo, nascido das entranhas da concepção mitológica dos povos da
Antigüidade, avançava além dessa concepção, apresentando Deus como um Ser
Humano de dimensões inimagináveis, mas dotado do poder ( pois possuía todos os
poderes de revelar-se aos homens em dimensões humanas ). Proibia que se fizesse
figuras de Deus, mas na Arca Sagrada havia oculta a sua imagem pintada por mãos
humanas. Na Bíblia, essa contradições é bem marcante. Se manifesta na forma
humana de Iavé, com todas as imperfeições humanas do amor e do ódio, da ambição
e do ciúme, da voracidade cruel e brutal de Baal e da preferência pelo seu
povo, com inteiro desprezo pelos demais povos, considerados impuros.
O
protecionismo a Moisés – tão assassino e ciumento como Caim – lembra as
preferências dos deuses mitológicos da Grécia por seus pupilos . Deus local,
como os deuses nomos egípcios, mas sem possuir terra própria, leva os judeus à
conquista brutal e impiedosa de Canaã, para ali estabelecer o seu feudo, sem a
menor contemplação para com o povo cananita. Não é de admirar que Cristianismo
igrejeiro, apegado ferozmente à Bíblia, se atrelasse mais tarde ao carro das
iniquidades romanas, massacrando e explorando povos mais fracos. É das
entranhas desse Deus humaníssimo, vingativo e mau como os homens, exclusivista
e contraditório, que nasce a idéia do Deus Único.
Mas,
apesar de tudo isso, a unicidade de Deus é tão necessária como a unicidade do
homem. A esquizofrenia nos mostra o que é um homem alienado, um espírito
dividido em si mesmo, incapaz de coordenar as suas faculdades e controlar os
seus poderes. Um Deus partido em três, segundo o drogma da Trindade, seria um
Deus esquizofrênico e sua desordem divina, sua insegurança interna se
refletiria no casos de um Universo absurdo. Assim, da dialética das concepções
contraditórias
Deus
é que vai nascer a lógica da concepção monoteísta. Deus só pode ser Um,
solitário e soberano no inefável, nas solidão vazias do Cosmo. Nessa solidão
ele cresce em seus poderes até o momento em que, estremecendo e acordando da
sua hibernação espantosa, toma a consciência de Si mesmo e realiza, com apenas
uma palavra, o fiat da Criação Universal e total.
E
como a criação preenche os espaços vazios, em todas as direções, Deus permanece
no centro, dirigindo e controlando os seus domínios inacessíveis à imaginação
humana. Eis porque Deus é Único e só pode ser Único, apesar de poder tudo. As
contradições do Politeísmo provinham da concepção caótica do Universo, não
permitindo à mente humana uma concepção harmoniosa da realidade. No monoteísmo
temos apenas uma contradição, que é a de Deus consigo mesmo, e esta gerar a
síntese do Todo, para dar homem a possibilidade de compreender a realidade e
estruturá-la no conhecimento, sem o qual nada saberíamos nem poderíamos.
É
assim que a realidade cósmica, não acessível à inspeção completa do homem, fica
ao seu alcance graças à estrutura de leis regulares e universais, que lhe
facultam as ligações necessárias a uma visão geral do Universo. Deus é o poder
gerador e mantenedor dessa realidade sem limites, e o conceito de infinito,
vaga suposição da Antigüidade, se torna positivo pela revelação de unidade
orgânica — e necessariamente orgânica do Cosmos.
Note-se
bem: unidade orgânica, semelhante à da nossa estrutura, que é una apesar da
multiplicidade dos seus órgãos e membros, porque todos a eles pertencem a um
organismo único. Da mesma maneira, a unidade orgânica do Cosmos deriva de sua
centralização em Deus, que mantém a unidade infinita através da subordinação de
todas as galáxias ou constelações de mundos, espaços etéreos aparentemente
vazios, mas cheios de força e plasma cósmicos. tudo formando o organismo único.
Não
seria isso uma ilusão? Os que consideram o Universo como finito e fechado sobre
si mesmo dizem que sim. Mas Kardec, já no século passado, antes das conquistas
cientificas do nosso século, propôs uma teoria que hoje tem a sansão de novas
descobertas. Por mais que tentemos dar ao Universo um limite, lembrou ele, por
mais que avancemos em nossa imaginação, sempre estaremos em face de espaços que
se desenrolam além. Essa prova psicológica da infinitude ( baseada ao mesmo
tempo em psicologia e lógica) tem hoje a comprovação das conquistas
parapsicológicas, que revelam a existência em nós de um poder também sem
limites, que é da percepção extra-sensorial de realidades que escapam aos
nossos sentidos físicos.
Não
se trata de simples intuição, mas de captação de realidades que estão fora do
alcance dos nossos sentidos e dos nossos instrumentos. O homem sente e intui
que o Universo é infinito. Teorias físicas e cálculos matemáticos o
contra-dizem. Mas a percepção extra-sensorial, fundada em suas potencialidades
inconscientes, continua a dizer-lhe que, para as dimensões do Cosmos, não há
limites.
No
Centro Espírita a presença de Deus se faz sentir nas manifestações mediúnicas
que derrubam as barreiras da morte, pelas declarações unânimes dos Espíritos
Superiores, comprovadamente possuidores de conhecimentos muitos superiores aos
nossos, pela revelação, comprovada através de pesquisas e experiências
científicas de sábios eminentes do século passado e deste século, de que existem
no homem potencialidades muito superiores às que ele revela quando encarnado,
sujeito aos condicionamentos da vida carnal.
Não
se trata de dogmas estabelecidos por concílios de cegos supostamente divinos,
mas de pesquisas objetivas e controladas pela metodologia científica. Deus não
é uma hipótese, mas uma realidade comprovada pelo princípio científico segundo
o qual, dos efeitos remontamos às causas. Deus é a fonte causal de todas a
realidade. Kardec tirou desse princípio, por ilação lógica amparada pelos
fatos, a lei espírita segundo a qual: Não há efeitos inteligentes sem causa
inteligente, e a grandeza dos efeitos revela a grandeza de causa. Esse o
raciocínio básico das provas espíritas da existência de Deus.
Mas
além disso a presença de Deus no Centro Espírita se comprova pelas
manifestações dos seus mensageiros, os Espíritos Superiores a seu serviço por
todo o infinito. Essas manifestações não são constantes e gratuitas, mas
ocorrem de maneira inesperada e com finalidades certa. Mas é sobretudo no
coração dos humildes que Deus se afirma como realidade viva e atuante, nas
sessões de auxílio espirituais.
Um
coração angustiado de mãe que se alivia e alegra ao receber a visita do filho
que parecia morto para sempre, numa comunicação mediúnica oral ou numa aparição
pela vidência despertada na mãe. Numa comprovação pela aparição tangível ou
materialização, como no caso famoso de Frederico Fígner e sua esposa, que, em
Belém do Pará, através da mediunidade de Ana Prado, uma mulher humilde, tiveram
a oportunidade de retornar sua filha Raquel novamente nos braços, senta-la no
colo e conversar com ela viva e alegre, que censurava a mãe por se trajar de
luto. Numa aparição tangível da sua própria mãe, dada a um sábio famoso que
combatia o Espiritismo como superstição infundada, como aconteceu com Césare
Lombroso em sessão com a médium Eusápia Paladino, presidida pelo Prof. Chiaia,
da Universidade de Milão. Lombroso abraçou a mãe, que falou com ele, e nos dias
seguintes declarava num artigo de retratação, pela revista Ombra e Luce,
daquela cidade: “Nenhum gigante da força e do pensamento poderia fazer para mim
o que fez essa pobre mulher analfabeta — arrancar minha mãe do túmulo e
devolvê-la aos meus braços”. Não eram aparições ocasionais, facilmente atribuíveis
a fatores psicoemocionais, mas aparições provocadas em nome de Deus, em sessões
experimentais em que o ingrediente Deus não havia sido desprezado. “Com a
permissão de Deus”, dizem sempre os espíritos agraciados com essa oportunidades
de reencontro após a morte.
O
Centro Espírita se caracteriza, assim, como o centro de comunicações com os que
já deixaram a vida terrena, mas continuam vivos e ativos na outra face da vida.
Nada se paga para falar com os mortos, os supostos mortos da nossa ignorância,
porque os serviços de Deus são gratuitos desde o nascimento, que é um prodígio
de Deus, até a morte, que é a graça de Deus libertando-nos da asfixia da carne,
e além da morte, nas maravilhosas possibilidades das manifestações mediúnicas.
Deus
está no Centro Espírita em que as criaturas se reúnem de coração puro,
confiantes no seu poder infinito. O preço da comunicação é geralmente o
aparecimento do espírito ou dos que desejam reencontrá-lo. Os dirigentes de
centros precisam meditar diariamente nas responsabilidades que assumem ao aceitar
os seus cargos, que na verdade são encargos divinos. Deus não exige de nós mais
do que podemos dar. Não quer que nos apresentemos a Ele e aos homens com as
vestes nupciais da parábola, que ainda não possuímos.
Não
podemos enganá-lo com sorriso de falsa bondade, de fraternidade fingida,
escondendo nas moitas do coração selvagem a serpente da inveja, da intriga, da
censura ao próximo, do julgamento desprezivo do irmão que se senta ao nosso
lado. Não vemos Deus no Centro porque não temos condições para isso, mas
podemos vê-lo no semblante sincero e ingênuo e no coração puro dos que não
alimentam vaidades e preconceitos negativos ao nosso redor. Deus não está ali,
diante de nós, como um Ser visível e corporal. Ele impregna o Centro, como
impregna o recinto de todos os templos freqüentados por criaturas sem maldade e
sem reservas.
Mas
podemos ver o seu rosto no semblante dos que se entregam com amor ao serviço do
bem, tocar as suas mãos nas mãos sinceras e boas dos que nos amam sem
restrições. E se os hipócritas nos cercam e nos olham com figida amizade,
podemos ser para eles a mensagem do amor e da sinceridade que flui de Deus para
o nosso coração. Deus no Centro é Deus em nós, ajudando-nos a crescer com o
fermento da fraternidade, que ele pouco a pouco aumenta em nossa medida de
farinha, na proporção em que a farinha do nosso egoísmo absorve o fermento e se
transforma no pão que nos alimenta a alma.
Estas
não são imagens líricas, mas a verdade espiritual trocadas em figuras e
expressões de amor, como as que encontramos nos Evangelhos de Jesus. Não é o
autor do livro que as produz, mas os Espíritos benevolentes que, em nome da
fraternidade humana, as transmitem aos que desejam servir a si mesmo e ao
próximo. Porque aqueles que desejam servir-se na mesa do bem, naturalmente
repartem o seu pão com os irmãos famintos de bondade, como Jesus o fez com os
apóstolos nas estalagem da estrada de Emaús.
Deus
no Centro não é a presença exclusiva para ninguém, mas presença inclusiva para
todos, a todos incluídos em Seu chamado para a vida do espírito. Os que
procurarem compreender e sentir a sua presença no Centro a levarão consigo para
casa. As pretensões de superioridade, o desejo egoísta de ser impor aos demais,
o ciúme corrosivo e o julgamento do próximo em nosso íntimo ou em nossa língua
não nos deixa perceber a bondade de Deus. Os que se sacrificam para melhor a
Terra, dando de si o que podem e muitas vezes o que não podem — esses fazem a
Vontade de Deus. Os que batem a língua nos dentes para destilar venenos de
serpente não podem perceber a presença de Deus no Centro e só percebem os
espíritos malévolos e sofredores.
IV – RAÍZES AFRICANAS
O
Centro Espírita apresenta-se, às vezes, entre nós, na dupla forma de Centro e
de Terreiro. Isso repugna à maioria dos espíritas que veem no Terreiro uma
explosão de práticas supersticiosas africanas, inegavelmente de origem
selvagem. Na verdade, isso acontece por falta de estudo da Doutrina Espírita
nos Centros. Os culpados desse fato não são as pessoas simples que acreditam
mais na força dos Orixás do que na ajuda inteligente dos Espíritos
esclarecidos. A culpa é dos dirigentes de Centros que se atrevem a dirigi-los
sem tornar conhecimento dos mais rudimentares princípios do Espiritismo. Em
última instância, a culpa é da nossa pobreza cultural.
O
que não deve escandalizar tanto, pois também nas altas camadas da cultura
nacional e mundial, muitos doutores em coisas várias fazem a mesma confusão.
Mesmo nas Universidades do Brasil e do Mundo, onde os problemas culturais são
ampla e minuciosamente examinados, os doutores em Sociologia revelam, até mesmo
em suas teses de doutoramento, pasmosa ignorância a respeito, usando a palavra
Espiritismo, nome culturalmente consagrado da Doutrina Espírita, para designar
as mais variadas manifestações de magia primitiva e de mediunismo popular.
Ante
essa ignorância generalizada, não podemos condenar a nossa gente humilde por
tais confusões. A palavra Espiritismo foi criada por Kardec para designar a
Doutrina que ele formulou, com os dados da revelação dos Espíritos Superiores,
transmitidos por médiuns em suas sessões experimentais, e como os dados de suas
pesquisa pessoais a das ilações que delas naturalmente tirara. Essa Doutrina,
como o reconheceram todos os estudiosos sérios no Mundo, constitui-se de partes
sucessivas, referentes aos do Conhecimento: a Ciência, a Filosofia, a Moral e a
Religião.
Kardec
sempre considerou a Religião, no Espiritismo, com uma conseqüência das partes
anteriores. Por isso, e para não confundir a Doutrina Espírita com confusas e
perecíveis Teologias da época, tão perecíveis que chegaram aos nossos dias
discutindo em torno de um problema sem sentido, com o desenvolvimento da
Teologia Radical da Morte de Deus “Deus morreu”. Essa foi a grande conclusão
dos teólogos em nosso tempo.
Restringindo-se
à Ciência e à Filosofia Espírita, como cerne positivo da Doutrina, Kardec
considerou a Moral e a Religião Espírita como derivações naturais e necessárias
da nova concepção do Mundo, do Homem e da Vida que a Doutrina estabelecia. Em
suas discussões com os sábios, na Universidade de França, em que foi diretor de
estudos, e posteriormente na sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, com
seus companheiros de pesquisa e com sábios que visitavam, colocou de maneira
precisa esse problema.
O
Instituto de França reconheceu a Filosofia Espírita. No Brasil, em livro
publicado pela Universidade de São Paulo e pelo Instituto Brasileiro de
Filosofia, a Filosofia Espírita é apresentada como parte integrante a ativa do
nosso panorama filosófico.
Os
dirigentes de Centro Espírita precisam tomar conhecimento desde assunto para
evitarem a mistura de práticas africanas em suas sedes. Não se pode misturar um
Doutrina Científica e Filosófica com práticas de magia primitiva das selvas.
Não se trata de repúdio ao mediunismo a sua mentalidade mágica, mas de uma
questão de método e cultura.
A
ideia popular de que os trabalhos de Umbanda e Candomblé são mais fortes e
eficazes do que os trabalhos espíritas decorre de desconhecimento dos problemas
espirituais. Quando se trata de questões espirituais, como Kardec ensinou de
maneira bastante clara, de nada valem os objetos e ingredientes materiais
usados nos cultos africanos e indígenas do Brasil.
Não
se resolve nenhum problema espiritual com explosões de pólvora, pontos riscados
no chão, bebedeira da marafo ( pinga ) pés descalços terreiro, queima de velas,
lançamento de flores e objetos vários no mar, raspança de cabelo, batismo com
sangue de galinha preta e outras superstições dessa natureza.
Que
os negros africanos selvagens acreditassem em tudo isso e na força dessa
práticas, era natural e justo. Mas que pessoas civilizadas, ou pelo menos
nascidas em meio civilizado, ainda se apeguem a essas coisas, é simplesmente de
espantar. Todas as práticas africanas foram trazidas ao Brasil e a outros
países americanos pelo tráfico negreiro da escravidão. Já na África essas
religiões primitivas foram misturadas com Catolicismo dos missionários brancos
e com o Islamismo dos árabes. Aqui no Brasil foram acrescentadas as contribuições
das religiões primitivas dos nossos índios.
Desenvolveu-se
então o que cientificamente se chama de Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro.
Os santos católicos foram assimilados aos desuses africanos. Jesus passou a
chamar-se Oxalá, Nossa Senhora tornou-se Iemanjá, Santa Barbara virou Iansã e
assim por diante. Das nossas religiões indígenas, a prática que mais se
infiltrou no sincretismo foi a da Poracê, parceira nacional do Candomblé
africano.
Como
todas as religiões primitivas são voltadas para os interesses materiais –
solução de problemas materiais através de processos mágicos – a crendice
popular apegou-se a essas práticas, dando enorme expansão ao sincretismo entre
nós. Por outro lado, as encenações rituais criadas pelo povo, enriquecendo o
nosso folclore, atraíram multidões, incluindo estrangeiros de cultura europeia.
Graças
a isso, já estamos exportando Umbanda, Candomblé e Quimbanda para o mundo. É
uma vitória do primitivo sobre o civilizado, que traz sempre em si mesmo as
raízes africanas do primitivismo.
Compreendem-se
as razões de tudo isso, mas não se pode compreender que num Centro Espírita,
iluminado pelas luzes da Doutrina Espírita, admita-se a introdução dessas
práticas primitivas. As energias espirituais superiores, empenhadas pelos Espíritos
Benevolentes nos trabalhos espíritas são muito mais poderosas do que todas as
fórmulas mágicas das selvas. Não desprezamos essas práticas nem as condenamos,
pois elas nos revelam as tentativas dos homens selvagens para dominar a magia
da Natureza.
Mas
esse domínio já foi conseguido pelas Ciências, que depois de suas fase
materialista já penetraram nas entranhas da matéria e atingiram a essência
espiritual do homem, dos seres e das coisas. O próprio Espiritismo, tão
ferrenhamente combatido pelas Ciência, hoje está comprovado pelas conquistas
cientificas do nosso século. Os dirigentes de Centros Espíritas precisam
conhecer esses problemas, se quiserem realmente dirigi-los. Se insistirem na
ignorância, no cultivo de suas superstições, na falta de leitura e estudo,
convencidos de que tudo sabem a respeito do assunto, acabarão como o cego da
parábola, caindo no barranco e levando os outros com eles ao fundo dos
precipícios.
O
nível mental de uma criatura civilizada não pode estar tão baixo que misture
com o nível mental dos selvagens. Há, portanto, um problema grave de defasagem
cultural, de desnível mental, que os espíritas precisam encarar com seriedade ,
em face da lei de evolução. O Sincretismo é um retorno à mentalidade da selva.
Os que a ele se entregam, geralmente por interesses inferiores, de ordem
material, estão tentando regredir na sua evolução.
Desse
esforço retrógrado resulta sempre o efeito negativo ao atraso mental e
espiritual. Dessa maneira, o Centro Espírita infestado por essas práticas torna-se
um organismo em deterioração. Vira no avesso a sua finalidade superior,
apegando-se cada vez mais aos interesses passageiros da vida terrena. Admite-se
a existência dos terreiros, em os homens e os espíritos ainda apegados ao
primitivismo podem fazer suas experiências retardadas.
Mas
não se pode admitir a mistura de práticas contraditórias num local espírita.
Quem prefere o sincretismo que vá para os terreiros, mas quem sente o anseio de
elevação espiritual que não se iluda com a suposta força das práticas
selvagens. Muitos alegam que nessas práticas estão presentes os espíritos.
Convém lembrar que os espíritos estão por toda parte, pois são como ensina
Kardec, elementos naturais, como as pedras, as plantas, os animais, mas cada
qual está em seu nível de evolução. O homem é o espírito que se elevou sobre
todos os estágios naturais e atingiu os planos superiores da consciência. Sua
responsabilidade espiritual, como dizia Léon Denis, é grande e pesada. No Centro
Espírita a compreensão desse problema deve ser permanente, pelo menos de parte
dos que o dirigem.
Ao
mesmo tempo, precisamos aprofundar a nossa compreensão do problema dos negros
entre nós. Os adversários do Espiritismo costumam alegar que nas práticas
doutrinárias sempre aparecem espíritos de negros e índios, numa prova da
condição inferior da Doutrina e do meio espírita. Podemos lembrar a influência
do negro e do índio na cultura norte-americana e a supremacia do espírito negro
Silver Bicher no movimento espírita inglês. Os motivos disso são historicamente
visíveis.
Nós,
os brancos, estabelecemos o tabu da superioridade racional do branco no mundo.
Invadimos a África para explorá-la e caçar os seus filhos como bichos,
submetendo-os à escravidão. Até hoje mantemos no mundo posições racistas intransigentes.
Depois de séculos de exploração e humilhação do negro, abrimos mãos do
colonialismo africano por motivos econômicos e após devastações e crueldades.
Não
deixamos na África a herança de civilização que devíamos deixar, mas uma
herança de barbárie, com que as nações africanas lutam desesperadamente. Não
somos credores da África, mas devedores. É natural que os deuses negros,
espíritos protetores das raças negras, tenham invadido a nossa área cristã.
O
que catequese branca não conseguiu fazer com negros e índios, as leis sociais
da miscigenação fizeram através do sincretismo religioso. Se não houve
conversão do negro pela sujeição da força, houver mistiçagem racial e cultural
pela fusão das mitologias negra e branca. As religiões mestiças a que se referiu
Euclides da Cunha em “Os Sertões “, consumaram a fusão fraterna no plano dos
interesses imediatista dos dois lados.
No
processo natural da reencarnação a mestiçagem se dilui, de século a século,
pela encarnação de espíritos das raças brancas em corpos negros e vice-versa.
Muitos brancos orgulhosos do passado se manifestam hoje na mediunidade como
negros e índios, pois tiveram, em encarnações dessa natureza a possibilidade de
aprender as lições necessárias de humildade, corrigindo seus desmandos e sua
arrogância de outros tempos. Os terreiros do sincretismo religioso conservam as
raízes africanas e indígenas de nossa formação, propiciando a brancos e negros
oportunidade para revisão anímicas e consciências.
Brancos
beneficiados por espíritos negros e índios e vice-versa reajustam-se no plano
do respeito à dignidade do homem, sem pretensiosas discriminações epidérmicas.
Essa superação do passado é muito mais importante para o futuro do Mundo do que
os avanços tecnológicos com suas conseqüências altamente negativas. Por outro
lado, os espíritas têm uma dívida moral espiritual para com as religiões negras
e mestiças. Quando Luiz Olímpio Telles de Menezes lançou na Bahia o primeiro
jornal espírita, “O Eco de Além-Túmulo “, no século passado, a Revista Espírita
de Kardec registrou o fato com espanto, por considerar o Império Brasileiro,
estreitamente ligado à Igreja Católica, como um dos países mais refratários ao
Espiritismo, como realmente o era.
Mas
nesse mesmo instante as práticas de Macumba no Brasil rompiam as barreiras
católicas e abriam a brecha necessária para penetração do Espiritismo em nossa
terra. Não podemos esquecer essa contribuição importante de negros e índios
para o arejamento do nosso asfixiante clima religioso. O próprio aparecimento
do primeiro jornal espírita já era prova de que os tambores da selva rompiam
trincheiras até então inexpugnáveis.
Sinhás
e sinhazinhas socorridas, em angustiosos momentos familiais, pelas práticas negras
e indígenas, amoleciam as barbas hirsutas dos Sinhôs, que diminuíam a
ferocidade racista. As práticas negras e indígenas constituíam então o socorro
do Céu à nova nação que surgia. Esse problema histórico foi esquecido por quase
todos os sociólogos da nossa formação racial e cultural fundada no processo da
mestiçagem racial e cultural. Foi por essas e outras que o ditado brasileiro
Deus escreve direito por linhas tortas surgiu e propagou-se entre nós.
Ante
esses fatos histórico inegáveis temos de respeitar as formas do Sincretismo
religioso afro-brasileiro como elementos pertencentes geneticamente à nossa
formação nacional. Mas respeito e gratidão não autorizam o abuso da mistura de
elementos diversos, decorrentes do processo da evolução nacional. O sincretismo
religioso é um recurso natural da evolução cultural dos povos para elevar as
culturas inferiores ao nível das mais adiantadas.
Foi
assim que a Grécia elevou-se ao nível do Egito Antigo, que Roma absorveu a
religião e a cultura gregas, Mas essa ascensões coletivas dependem do tempo. O
ritmo do sincretismo religioso afro-brasileiro acelerou entre nós no meio da
Segunda Guerra Mundial, vindo até os nossos dias em constante progressão. O
nosso crescimento industrial de após-guerra, as inquietações políticas e as
flutuações financeiras, a crise religiosa do Catolicismo e, sobretudo, a
explosão demográfica, com a invasão das grandes cidades por levas sucessivas de
populações rurais são os fatores desse aceleramento mostrando a íntima ligação
entre o desenvolvimento social e o sincretismo.
Claro
que, da mesma maneira e pelos mesmo fatores, cresceu o movimento espírita em
todo o país. As massas da imigração rural, particularmente do Norte e Nordeste,
vinham impregnados de misticismo caboclo e sobrecarregadas de formas
sincréticas. Essa massa estão carregando grande número de criaturas mais
sensíveis aos Centro Espíritas e a religiões de tipo mediúnico, como as seitas
pentecostais e seitas orientais, particularmente japonesas, ligadas a prática
espiritóides, ou seja, semelhantes às práticas espíritas de manifestações
espirituais, mas sem o controle racional da Doutrina. A assimilação é visível:
através dos Centros Espíritas e outras instituições doutrinárias as massas de
vária procedência vão assimilando os ensinos espíritas e integrando-se nas suas
práticas.
Temos,
assim, toscamente esboçado, o panorama de quatro séculos da evolução espiritual
do Brasil. As raízes africanas do Sincretismo, que são as mais importantes, já
apresentam hoje uma gama crescente de formas sincréticas que vão desde o
terreiro negro-caboclo, com seus rituais tipicamente selvagens, até os mais
voltados para a imitação católica, e os grupos intelectualizados que se
esforçam ingratamente para dar a Umbanda ( principalmente a esta ) uma origem
indiana, através de teorias pretensiosa que deformam a verdade histórica e
social.
O
impulso de ascensão torna-se palpável na realidade desse processo. Cabe ao Centro
Espírita a responsabilidade de vigilância na defesa da pureza doutrinária do
Espiritismo, ante a violência e confusão dessa fase crítica do desenvolvimento
do Sincretismo. Por isso, o estudo do problema nos Centros torna-se um
imperativo do momento espírita nacional. Mas é necessário critério lógico,
muita compreensão, humildade e amor para que os Centros possam cumprir a sua
missão esclarecedora e orientadora.
III – O CENTRO E A COMUNIDADE, de Herculano Pires – 4ª
Parte
O
conceito de mediunidade que vigora entre nós, na maioria esmagadora dos
Centros, é espantosamente ambivalente e portanto contraditória. Afirma-se ao
mesmo tempo que a mediunidade é uma graça e uma provação, , que os médiuns são
espíritos grandemente faltosos, não obstante adorados como enviados de Deus. Os
que estudam seriamente a Doutrina logo percebem a falsidade desse conceito. A
mediunidade é uma faculdade natural da espécie humana, como todas as demais
faculdades. Toda criatura humana é naturalmente dotada de mediunidade. Kardec
observou a existência da mediunidade generalizada. Mas a mediunidade
manifesta-se nas criaturas em diferentes graus de desenvolvimento.
Todos
somos médiuns, todos possuímos o que hoje se chama de percepção
extra-sensorial, segundo a terminologia parapsicológica. Ë natural que os que
revelam graus mais intensos de mediunidade, prestando-se por isso a trabalhos
mediúnicos, sejam especificamente designados como médiuns, da mesma maneira por
que todos possuímos inteligência, mas só os que possuem em grau excepcional são
designados como “uma inteligência “,merecendo os louvores e o respeito dos que
não atingiram esse grau.
Os
médiuns são os elementos principais da ligação do Centro Espírita com a
comunidade social do bairro ou da cidade. São mesmo com os elos genésicos dessa
ligação. Suas faculdades mediúnicas exercem atração natural sobre a comunidade
e os serviços que prestam no Centro ou nos atendimentos eventuais, fora dele,
ampliam a simpatia popular pelo Centro.
Essa
função do médium é natural e inconsciente. Partes integrantes da comunidade,
vivendo no meio do povo como povo, sem nenhum título especial que os separe da
massa, quanto mais simples e despretensiosos eles forem, mais eficientes serão
na sua função espontânea de elos. Quando o médium é pedante, pretensiosos,
contador de vantagens, sabereta, arrogante, essas antivirtudes o transformam em
elemento negativo na dinâmica social. Por isso o médium deve compreender bem a
sua condição de criatura normal integrada no povo e não de elemento excepcional
, dotado de poderes divinos ou convencido de possui-los.
Os
dirigentes do Centro podem reforçar ou enfraquecer as ligações deste com a comunidade.
Basta um presidente arrogante, sempre disposto a criticar e humilhar os adeptos
de seitas existentes na comunidade, para que os elos estabelecidos pelos
médiuns sejam rompidos. Atacar religiões e práticas religiosas dos outros é o
meio mais fácil de afastá-los do Centro.
Essa
crítica pode e deve ser feita em termos de comparação histórica, nas reuniões
especiais de estudo doutrinário, com ampla liberdade de discussão a respeito,
reconhecendo-se a existência dos fatores temporais que no passado, foram
benéficos à solução espiritual dos homens, tornando-se mais tarde prejudiciais
ao esclarecimento espiritual do povo. Mesmo assim, é conveniente evitar
exageros, para que essas debates elucidativos não se transformem em pedra de
tropeço para as pessoas simples e de boa-fé. Em todas as atividades do Centro
deve prevalecer o princípio de amor e respeito ao próximo, não para atrair
simpatias, mas, para não causar aborrecimento e prevenções nas pessoas que
desejam adquirir conhecimentos renovadores.
O
Centro Espírita não é um instrumento de conversões, mas também não pode ser um
instrumento de dissenções. O Espiritismo não quer impor-se aos outros, mas
ajudar e esclarecer os que o procuram. Se existirem na comunidade elementos,
desses que fazem de cada espírita um diabo disfarçado em gente, um instrumento
do diabo para enganar as almas, o centro não deve aceitar as sua provocações
negativas. Essas pessoas, geralmente exaltadas e insolentes, são vítimas de seu
próprio temperamento e também das deformações sectárias do Cristianismo e das
épocas de fanatismo, maldições, excomunhões e perseguições, que embora
distantes, ainda permanecem no inconsciente de muitas criaturas, forçando-as a
atitudes anticristãs e ridículas. Hoje os tempos são outros e o Centro Espírita
pode responder a essas agressões – como fazia Kardec – não com revides
violentos, mas com esclarecimento serenos e fraternos.
Mas
temos de vigiar a nossa tolerância, para não cairmos no charco da hipocrisia,
no fingimento de uma bondade que não possuímos. A regra de comportamento
espírita deve ser a de Jesus: “mansos como as pombas, prudentes como as
serpentes”. O Centro Espírita guarda em seu seio as colheitas da Verdade e
precisa defendê-las, mantê-las puras e vivas, para com elas saciar a fome do
mundo.
Jesus
imolou-se por essa colheita de sua própria semeadura, mas enquanto foi
necessário defender a seara manteve atitudes viris contra os pregoeiros da
mentira e da ilusão. Se deixarmos o Centro abandonado à fúria dos fariseus,
eles o destruirão sem nenhum escrúpulo, sob rajadas de calúnias e perfídias. O Centro
Espírita é a pequena e humilde fortaleza da Verdade na Terra da Mentira. Tem a
obrigação de lutar para que a Verdade prevaleça em toda a sua dignidade.
A
incapacidade humana para assimilar os ensinos de Jesus levou o Cristianismo a
dois extremos que somente Kardec soube rejeitar, estabelecendo o equilíbrio na
balança do bom-senso. Os espíritas não podem oscilar entre o extremo da
arrogância criminosa, geradora de guerras e destruições, e o extremo da
covardia disfarçada em humildade, que sempre cala e tudo cede aos insolentes
agressores. Há um limite para a tolerância, traçado por Jesus em torno da
mulher inerme que os hipócritas queriam apedrejar.
Propagou-se
no meio espírita, através de mensagens mediúnicas emotivas, tendendo a um
masoquismo de cilícios e autopunições, a estranha idéia de que a virilidade só
pertence aos cultores da violência. Voltamos assim ao sistema igrejeiro dos
rebanhos de ovelhinhas inocentes devoradas por lobos famintos sem qualquer
possibilidade de defesa. Entregues a essa idéia derrotista, o meio espírita
abastardou-se a ponto de até mesmo recusar-se a defender a Doutrina aviltada
pela ignorância travestida de bondade e doçura. A falsa imagem do “ Meigo
Nazareno” , que a tudo cedia – comprometendo a sua própria missão – apagou na
mente de adeptos desprevenidos a imagem viril de Jesus empunhando o chicote no
Templo contra vendilhões.
Já
é tempo de compreendermos que estamos na Terra para conquistar e defender a
dignidade humana, sem nos curvarmos atemorizados ante as investidas da
impostura. Quem não defende a Verdade traída e conspurcada pela mentira não é
digno dela. E quem não é digno da Verdade entrega-se à mentira. Jesus enfrentou
os mentirosos atrevidos, num dos pátios do Templo como nos revela o Evangelho
de João, dizendo-lhes face a face : “Vós sois do Diabo e vosso pai foi ladrão e
assassino desde o princípio “. Duras palavras, a que os mentirosos quiseram
responder com pedradas. Mas Jesus desapareceu, ensinando-lhes que as pedras da
mentira não podem atingir o alvo da Verdade. Os espíritas seráficos, candidatos
apressados a uma angelitude que ainda estamos longe de alcançar na Terra, não
compreendem o sentido desse trecho evangélico e são capazes de expungi-lo do
Evangelho em nome de uma santidade covarde que Jesus jamais ensinou.
A
figura evangélica de Jesus é recortada em traços fortes e viris. Sua coragem de
encarnar-se na Terra para enfrentar os poderes do mundo como homem, sua audácia
na condenação dos poderosos do tempo, sem recorrer a sofismas, sua bravura ao
entregar-se para o sacrifício da cruz para ensinar aos homens a glória de
morrer pela Verdade – são lições que devemos aprender, se quisermos nos fazer
dignos de segui-lo.
O
Centro Espírita se entranha naturalmente na comunidade, é parte dela, um órgão
ativo e operante da estrutura social. Por mais humilde e simples que seja, é
uma fonte de consolações, um posto de orientação para os que se aturdem e se
transviam, mãos amigas estendidas na bênção do passe, canal sempre aberto da
caridade e do amor. Mas é também a trincheira serena e vigilante da Verdade, o
tribunal que não condena, mas ajuda e absorve através do esclarecimento
espiritual.
Os
que buscam a paz e a esperança encontram nele a compreensão que pacifica o
espírito e a razão que justifica a fé nas provas da Verdade. Por tudo isso a
sua posição na comunidade é a de um coração comum aberto a todos e de uma
consciência lúcida a orientar a todos, na permanente doação dos ensinos e
socorros gratuitos.
A
responsabilidade dos dirigentes e colaboradores dessa instituição cristã,
humilde e simples é, entretanto, grandiosa e complexa. A voz dos espíritos soa
dia-e-noite no silêncio dessa concha acústica da Verdade, no murmúrio secreto
das fontes da intuição, advertindo aos que sofrem e aos que gozam quanto a
precariedade das ilusões terrenas e a eternidade das leis da vida no Universo
infinito. Quanto mais simples é o Centro em bens materiais, maior é a sua
riqueza em bens espirituais.
III – O CENTRO E A COMUNIDADE, de Herculano Pires – 3ª
Parte
O
Centro Espírita não surge arbitrariamente, nem por determinação de alguma
instituição superior do movimento doutrinário. Ele é sempre o produto
espontâneo de uma comunidade espírita que se formou num bairro, numa vila ou
numa cidade. Essa comunidade é sempre extremamente heterogênea, formada por
espíritas e simpatizantes da Doutrina, membros de correntes espiritualistas
diversas e de religiosos indecisos ou insatisfeitos com as seitas que se
filiaram ou que pertencem por tradição familial.
Há,
porém, um denominador comum para essa mistura: o interesse pelo Espiritismo.
Esse interesse, por sua vez, decorre de vários motivos, entre os quais
predominam as ocorrência de fatos mediúnicos nas famílias, geralmente em formas
de perturbações psíquicas.
Dessa
maneira, os fundadores do Centro e seus auxiliares enfrentam desde o início
muitos problemas e dificuldades. Ë necessária a presença de uma pessoa que
tenha conhecimento doutrinários e experiência da prática mediúnica, para que o
Centro não fracasse nos seus primeiros meses de existência. Não havendo no
grupo fundador uma pessoa nessas condições, é necessário recorrer-se a pessoas
de Centro das proximidades, que sempre atendem de boa vontade.
O
Espiritismo não é proselitista, não entra na disputa sectária de adeptos das
religiões, mas devem os espíritas, necessariamente, interessar-se pelos que se
interessam pela Doutrina. Esclarecer e orientar sempre é dever espírita.
O
conhecimento dos problemas mediúnicos exige estudo incessante das obras básicas
de Allan Kardec, particularmente estudos permanentes do Livro dos Médiuns e
leitura metódica da Revista Espírita de Kardec, em que os leitores encontram,
além de numerosas instruções, relatos de fatos e observações de pesquisas que
muito ajudam no trato de problemas atuais. Sem estudo constante da Doutrina não
se faz Espiritismo, cria-se apenas uma rotina de trabalhos práticos que dão a
ilusão de eficiência.
Estudo
e pesquisa, observação constante dos fatos, análise das mensagens recebidas,
observação dos médiuns, exigência de educação mediúnica, com advertências
constantes para que os médiuns aprendam a se controlarem, não se deixando levar
pelos impulsos recebidos das entidades comunicantes – esse é o preço de
trabalhos mediúnicos eficazes. Mas, acima de tudo e antes de tudo: humildade.
Porque Espiritismo sem humildade é água poluída, cheia dos germes da pretensão,
da vaidade, do orgulho que atraem os espíritos inferiores. Um presidente de
Centro não é Presidente da República e um doutrinador não é um sábio.
Pelo
contrário, são criaturas necessitadas, que estão aprendendo a arte difícil de
servir e não a de baixar decretos, dar ordens e humilhar os outros em públicos.
Sem humildade, que gera e sustenta o amor ao próximo, nem o estudo pode dar
frutos. Por outro lado, sem estudo os frutos da humildade não produzem amor,
mas fingimento, hipocrisia de maneira e fala melosa, de voz impostada para
imitar anjos.
O
Espiritismo é natural e exige naturalidade dos que pretende vivê-lo no
dia-a-dia, em relação natural e simples com o próximo. Os maneirismo, as
modulações artificiais da voz, os excessos de gentileza mundana e tudo quanto
representa artifício de refinamento social, deformando a natureza humana a
pretexto de aprimorá-la, não encontraram aceitação nos meios verdadeiramente
espíritas.
Algumas
instituições começaram a adotar, há alguns anos, treinamento de voz e de
gesticulação para jovens espíritas. Alguns Centros aderiram e essas encenações,
estimulados por mensagens espirituais que aconselham brandura e bondade no
trato com a semelhantes.
Espíritos
ainda apegados aos formalismos religiosos do passado chegaram a recomendar
modismos nesse sentido. Nem Jesus nem Kardec se utilizaram nem recomendaram
essas imitações da hipocrisia farisaica. O que o Espiritismo objetiva é a
transformação interior das criaturas, para que se tornam mais esclarecidas e
com isso, dotadas de mente mais arejada e coração mais puro.
No
Centro Espírita devemos manter a mais plena naturalidade de comportamento,
dentro das normas naturais do respeito humano. As modificações exteriores,
precisamente por serem forçadas e portanto mentirosas, não exercem nenhuma
influência em nosso interior. O contrário é que vale: quem exercitar-se na
prática das boas ações, da verdade e da sinceridade, modificará sem querer e
perceber o seu comportamento, sem nenhum dos sintomas desagradáveis de
fingimento e hipocrisia.
O
Espiritismo, que nos foi legado pelo Cristo através do Espírito da Verdade, não
pode adotar os expedientes da mentira. O Centro Espírita tem mais com que se
preocupar, do que com essas repetições de um longo passado de traições e
perfídia, em que sacerdotes treinados nos gestos e expressões de piedade,
mandavam queimar vivos os seus semelhantes em nome do Cristo.
A
facilidade com que a maioria das pessoas aceita livros de evidente
mistificação, como os Evangelhos de Roustaing, as obras de Ramatis, e tantas
outras, eivadas de contradições e de passagens ridículas, destinadas
especialmente a ridicularizar a Doutrina, provém dos milênios de sujeição das
massas à mistificação clerical. No Espiritismo não objetivamos o domínio do
mundo por nenhuma forma igrejeira, através de engodos demagógicos, mas
unicamente o esclarecimento das criaturas para que a Terra se eleve em suas
condições morais e espirituais.
O
sistema igrejeiro de adulação aos médiuns, no desejo de obter as suas graças, é
outra raiz amarga que nos vem do passado religioso, mas que não deve ser
cultivado no Centro Espírita. O médium adulado, louvado a todo instante,
cercado de admiradores como um cantor popular, artista de novela de tv ou
jogador de futebol, acaba perdendo a sua naturalidade, recorrendo a expedientes
ridículos para conservar o seu prestígio e geralmente chega em falência ao fim
da sua missão.
Os
exemplos são muitos e dolorosos, no mundo inteiro. Essa situação constrangedora
coloca o Espiritismo em pé de igualdade com as religiões formalista, deturpando-lhe
a imagem real. Médiuns, expositores e escritores espíritas não são luminares
nem santos, mas criaturas falíveis que podem também cair a qualquer instante de
seus falsos pedestais. Devemos respeitar naturalmente a essas criaturas como
nossos irmãos dedicados à Doutrina ( quando não a traem em favor de suas
opiniões pessoais ) sim devemos respeita-los e louvar os seus esforços, mas sem
cairmos no exagero de idolatrias beatas.
II – OS SERVIÇOS DO CENTRO
Muitas
criaturas perguntam se os espíritas não são pretensiosos e orgulhosos, ao se
julgarem capazes de esclarecer espíritos desencarnados. Acham que esse é um
serviço dos Espíritos Superiores e não dos homens. Chegam a fazer cálculos para
demonstrar aos espíritas que esse trabalho é em vão, pois o número de espíritos
que podem assistir em suas sessões é diminuto.
Esquecem-se
de que toda atividade esclarecedora, em qualquer campo, vale mais pela sua
possibilidade de propagação. A dinâmica da comunicação é o principal fator da
eficiência nesses casos. São muitos os exemplos históricos nesse sentido, mas
nenhum é mais claro que o de Jesus, servindo-se de um pequeno grupo de pessoas
para modificar com seus ensinos, mesmo deturpados pela ignorância a face do mundo.
Nas
sessões espíritas não se pretende abranger todos os espíritos necessitados – o
que seria impossível – mas cuidar daqueles que estão mais ligados a nós. A
doutrinação de um espírito perturbado é quase sempre o pagamento de uma dívida
nossa para aquele espírito. Se o prejudicamos ontem, hoje o socorremos. E ele,
socorrido, torna-se um novo assistente da grande batalha pelo esclarecimento
geral.
Cada
espírito que conquistamos para o bem representa um novo impulso na luta, o
acréscimo de mais um companheiro, um aumento do bem. Devemos sempre lembrar que
o bem é contagiante. Se libertarmos uma vítima da obsessão na Terra, libertamos
outra no mundo espiritual que nos cerca. Essa multiplicação se processa num
crescendo, atingindo progressivamente a centenas de pessoas e espíritos.
Alegam
alguns que os espíritos perturbados são assistidos no próprio plano espiritual.
Mas Jesus, por acaso, deixou de assistir aos espíritos necessitados, aqui
mesmo, na Terra? Pelo contrário, os assistiu e mandou ainda os seus discípulo
fazerem o mesmo. A experiência espírita confirma o acerto do atendimento
terreno, demostrando cientificamente que os espíritos desencarnados, mas ainda
muito apegados às condições da vida material, precisam de assistência mediúnica
para se livrarem desse apego.
Nas
sessões, como observou o sábio francês Gustavo Geley, a emanação de ectoplasma
forma um ambiente favorável às relações dos espíritos com os homens. Nesse
ambiente mediúnico os espíritos apegados à matéria sentem a impressão de maior segurança,
como se estivessem novamente encarnados.
Muitas
vezes, nas sessões, Espíritos orientadores servem-se de um médium para
doutrinar mais facilmente essas entidades confusas . Isso confirma a
dificuldade, acentuada por Kardec, que Espíritos mais evoluídos encontram para
esclarecer os inferiores no plano espiritual. As sessões espíritas de
doutrinação e desobsessão provaram sua eficácia desde Kardec até os nossos
dias, enquanto as opiniões contrárias não se firmam senão em opiniões pessoais,
palpites deduzidos de falsos raciocínios, por falta de real conhecimento desse
grave problema.
Os
que hoje procuram diminuir o valor e a importância dessas sessões nos Centros
não passam de palpiteiros . Os Centros Espíritas bem organizados e bem
orientados não se deixam levar por esses palpites , pois possuem suficiente
experiência nesse campo altamente melindroso de suas atividades doutrinárias.
Da mesma maneira, os que pretendem que as sessões dos Centros sejam dedicadas
apenas às manifestações de Espíritos Superiores, revelam egoísmo e falta de
compreensão doutrinária. A parte mais importante e necessária das atividades
mediúnicas, mormente em nossos dias, é precisamente a da prática doutrinária da
desobssessão.
Trabalhar
nesse setor é dever constante dos médiuns esclarecidos e dedicados ao bem do
próximo. O estado de confusão a que chegou a Psicoterapêutica em nossos dias,
em nossos dias, e particularmente a Psiquiatria, exige redobrado esforço dos
Centros no trabalho de doutrinação e de desobsessão. Milhões de vítimas, no
mundo inteiro, clamam pelo socorro de métodos mais eficientes de cura
psicoterapêutica, que só o Espiritismo pode oferecer, graças às suas
experiências de mais de dois séculos nesse campo. O Centro Espírita guarda esse
acervo maravilhoso em sua tradição e não pode recuar diante dos sofismas da
atualidade trágica e pretensiosa.
As
comunicações dos Espíritos Superiores são dadas no momento preciso, mesmo em
meio do aparente tumulto das sessões de desobsessão. Ë muito agradável
recebermos comunicações elevadas de Espíritos Superiores, mas só as merecemos
depois de cuidarmos com atenção e abnegação dos Espíritos Sofredores. Quando
recusamos essas oportunidades redentoras os Superiores se afastam e o campo
fica aberto aos mistificadores, como o sabem, muitas vezes por duras
experiências próprias, os que procuram acomodar-se na benção sem merecimento.
Os
serviços assistenciais à pobreza, prestados pelos Centros Espíritas, constituem
a contribuição espírita para o desenvolvimento de nova mentalidade social em
nosso mundo egoísta. Não basta semear ideias fraternistas entre os homens, é
necessário concretizá-las em atos pessoais e sinceros. O Centro Espírita
funciona como um transformador de ideias fraternas em correntes de energias
ativas nesses plano. Em suas turbinas invisíveis as ideias se transformam em
atos de amor e de dedicação ao próximo.
Há
os que combatem a esmola, a doação gratuita de ajuda material aos necessitados.
Querem a criação de organismos sociais capazes de modificar o panorama da miséria
com recursos de ensino e encaminhamento dos infelizes a situações melhores.
Isso é o ideal, e muitos Centros e outras formas de instituições espíritas
conseguiram fazê-lo. Mas quando escasseiam recursos e meio de se fazer isso, é
justo que deixemos os pobres à mingua na sua impotência? Há misérias tão
cruciantes que têm de ser atendidas agora, neste momento. Negar auxílio, nesse
casos, a pretexto de que estamos sonhando com medidas melhores é falta de
caridade, comodismo disfarçado em idealismo superior.
O
Centro Espírita é instrumento de ação imediata e age de acordo com as
necessidades urgentes. Sem o atendimento a essas necessidades, as vítimas da
injustiça social não poderão esperar as brilhantes realizações futuras. Como
ensinou Kardec, devemos esperar que as utopias se tornem realidades, para
depois as aceitarmos. As pessoas que censuram esse esforço de ajuda aos
necessitados, defendendo ideais de reforma social, alienam-se da cruciante
realidade em que vegetam os que não dispõem de meios para o próprio sustento.
Geralmente
esses ideólogos de um mundo melhor que deve surgir por milagre ou por abalos
sociais, acusam os espíritas de alienados, comodistas e divorciados da
realidade, quando, entretanto, são eles que se alienam.
O
Centro Espírita não pode se entregar, pois aos seus princípios. Seu objetivo é
o bem de todos e não o desta ou daquela camada da população. A evolução social
depende da evolução dos homens, que constituem e formam os organismo sociais. E
pelo exemplo de fraternidade e não pela violência que podemos melhorar o mundo.
A Revolução Cristã não se processou a golpes de violência, mas ao custo de
sacrifício e abnegação, de profundo respeito pela criatura humana. Não importa
se essa criatura é um potentado ou um mendigo.
A
Revolução Espírita, que é filha e herdeira da Revolução Cristã, não se faz ao
poder precário e ilusório das armas destruidoras, mas ao ritmo das modificações
consciências dos homens, na busca de paz e compreensão para que as atrocidades
desapareçam da Terra. Não podemos apagar fogo com gasolina, nem consertar o
mundo com a substituição de castas no poder.
Os
serviços de assistência ao próximo só podem retardar o avanço da violência, ao
mesmo tempo que aceleram o desenvolvimento moral e espiritual da Humanidade. Ë
desse desenvolvimento, e exclusivamente dele, que poderá surgir na Terra uma
civilização superior. O Centro Espírita não pode trocar os seus serviços de
amor e fraternidade pelo acirramento das lutas entre grupos e classes. Ele
apela aos valores da inteligência, que através da razão equilibrada e da
compreensão profunda das necessidades humanas, conduzem os homens a solução e
não apenas a tentativas de maiores conflitos.
Um
espírita não pode pensar apenas em termos da realidade imediata. A concepção
dialética do Espiritismo não se funda no exame das contradições superficiais do
mecanismo social. Aprofunda-se no exame do dinamismo complexo das ações e
reações dos indivíduos e dos grupos sociais que estruturam a sociedade.
Reduzir
toda essa complexidade às manifestações efêmeras dos estágios evolutivos de uma
sociedade é negar ao homem a possibilidade de lutar para compreender os
problemas com que se defronta no processo existencial. Viver e existir são duas
possibilidades do ser que se projeta na encarnação. Nos planos inferiores dos
reinos mineral e vegetal a vida é movimento e sensação, mas nos estágios
intermediários da animalidade se converte em conquista e domínio, elevando-se
no plano hominal à consciência de si mesma da busca da transcendência.
Nesse
plano, o ser humano assume a responsabilidade da busca e só existe realmente
superando as fases inconsciente do seu desenvolvimento, na medida exata em que
sabe o que quer e porque o quer.
Esse
o que e esse porque têm então de superar-se a si mesmo na conquista do como, ou
seja: de como de que maneira poderá continuar a elevar-se. Assim como a
conquista material do plano animal se transforma na conquista do conhecimento
de si mesmo e do seu destino transcendente, todas as demais atividades do homem
levam à consciência, o que dá ao ser a sua unidade.
Consciente
dessa unidade interna, o homem supera então a multiplicidade da sua própria
estrutura e do mundo. Revela-se nele a centelha divina da sua origem
espiritual. Ele compreende que é espírito e que esse espírito não pode
desfazer-se morte, pois a sua essência é indestrutível e eterna. Esse é o
momento espírita da redenção, em que o espírita capta a sua imortalidade em sua
própria consciência e muda a 0maneira de ser diante do mundo ilusório e
transitório.
Desse
momento em diante o espírito se integra no Centro Espírita, liga-se a ele, não
como um serviçal mas como o próprio serviço. A multiplicidade dos serviços do
Centro adquire em sua consciência a mesma unidade conquistada por está. Ao
mesmo tempo, a visão da unidade existencial, em que todos os serviços se fundem
no serviço único da Humanidade, desperta nele o sentimento e a compreensão do
seu dever único – servir a Deus no serviço do próximo.
Tudo
o que ele fizer, dali por diante, será um fazer universal, não ligado a ele ou
ao Centro, não confinado na sua pessoa e no seu grupo, nem mesmo restrito ao
meio espírita, mas naturalmente extensivo a toda a Humanidade. Os pioneiros do
Espiritismo, a partir de Kardec, todas as grandes figuras que souberam dar-se
ao Espiritismo ao invés de apossar-se dele, fizeram essa caminhada redentora,
passaram por gigantesca odisseia espiritual, temperando-se nas encarnações
sucessivas para reimplantar na Terra a semeadura do Cristo, na ressurreição do
seu Evangelho, da sua Boa Nova em “espírito e verdade”.
Como
se vê, o Centro Espírita é realmente um centro de convergência de toda a
dinâmica doutrinária. Nele iniciam-se os neófitos, revelam-se os médiuns,
comunicam-se os Espíritos, educam-se crianças e adultos, libertam-se os
obsedados, estuda-se a Doutrina em seus aspectos teóricos e práticos promove-se
a assistência social a todos os necessitados, sem imposições e discriminações,
cultiva-se a fraternidade pura que abre os portais do Futuro.
A
coordenação das atividades de um Centro Espírita bem orientado é praticamente
automática, resultando do clima fraterno em que todos se sentem como em
família, ajudando-se mutuamente. Ë nessa comunhão de esforços que os espíritas
podem antecipar as realizações mais fecundas. Mas se no Centro se infiltra o
espírito mesquinho das intrigas, das pretensões descabidas, das aversões
inferiores, os dirigentes necessitam de muita paciência e tolerância para
quebrar as arestas e restabelecer a atmosfera espiritual.
Nunca,
porém, deverão renunciar aos seus deveres, o que seria uma deserção, a menos
que o façam reconhecendo humildemente os seus erros e continuando no Centro
para servir melhor, em cargos inferiores ou mesmo sem cargos. Nada mais triste
do que um Centro Espírita em que alguns se julgam mestres dos outros, quando na
verdade ninguém sabe nada e todos deviam colocar-se na posição exata de
aprendizes. Os serviços mais urgentes de cada Centro são os de instrução
doutrinária de velhos e novos adeptos, tanto uns como outros carentes de conhecimento
doutrinário. Bem executado esse serviço, todos os demais serão feitos com mais
facilidade.
O Centro Espírita, de Herculano Pires
INTRODUÇÃO
Dizia
o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas
espíritas: “Não compareço a reuniões de espíritas rezadores! E tinha razão,
porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu
ajuda.
Ninguém
estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do
igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara
em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma
espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos
pedintes o caminho do Céu. A caridade material, fácil e barata, substituiu as
gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada do Céu!
Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em
grupos de rezadores pedinchões.
Jesus
ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade,
mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida,
disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas
ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno.
Para
restabelecemos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a
uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina
Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para
deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados
em face das exigências da lei superior da Evolução Humana.
O
vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não
devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.
I – FUNÇÃO E SIGNIFICAÇÃO
Sem
Kardec não há Espiritismo, há apenas mediunismo desorientado, formas do
sincretismo religioso afro-brasileiro, confusões determinadas por teorias
pessoais de pretensos mestres.
Opiniões
pessoais, palpites de pessoas pretensiosas, livros mediúnicos ou não de
conteúdo mistificador, cheios de absurdos ridículos - seja o autor quem for –
não têm nenhum valor para um verdadeiro Centro Espírita.
Cada Centro Espírita tem os seus protetores e
guias espirituais que comprovam a sua autenticidade pelos serviços prestados,
pelas manifestações oportunas e cautelosas , pela dedicação aos princípios
kardecianos.
Funções de um Centro Espírita, 2ª parte - Copyright by Grupo Espírita Apóstolo Paulo
Colocaremos abaixo 10 das principais funções
que devem ser praticadas dentro de um verdadeiro Centro Espírita. A prática
correta ou não destas atividades vai variar de acordo com o conhecimento do
grupo que dirigir a casa. E a melhor maneira de sabermos se os trabalhos estão
sendo feitos dentro dos preceitos de Allan Kardec, é analisarmos os resultados
obtidos na orientação e tratamento dos problemas materiais e espirituais dos
que buscam ajuda no Centro Espírita.
Passes: os passes são transmissões de fluidos
de um ser para outro. Os fluidos são energias que fazem parte da estrutura
material e espiritual dos seres. Nos centros espíritas é aconselhável que os
médiuns passistas tenham uma vida regrada, sem os vícios já citados no item
"Reuniões mediúnicas". Afinal, se seus fluidos estiverem contaminados
por maus pensamentos ou atitudes indevidas poderão prejudicar ao invés de
auxiliar quem os recebe.
O
passe é aplicado apenas com a imposição das mãos do passista sobre a fronte do
indivíduo. Não é necessário tocá-lo.
No
momento do passe, o passista busca sintonia com os Espíritos superiores,
geralmente através de uma prece feita de pensamento. Com isso, estes amigos
espirituais poderão ajuntar seus fluidos aos fluidos do médium, favorecendo
ainda mais quem está recebendo. A pessoa após o passe irá se sentir fortalecida
e mais disposta frente aos problemas por quais passa.
Importante: o
passe é um complemente espiritual, e não a solução. Para que o indivíduo possa
melhorar é necessário que busque constantemente a libertação de suas
imperfeições. Aqueles que buscam a Casa Espírita apenas para receber o passe
devem ser orientados sobre a necessidade do esclarecimento através das
palestras e das boas leituras.
Livro de preces:
muitas pessoas que vêm ao centro têm parentes e amigos que não podem
acompanhá-los por variados motivos: doença, viagem, trabalho ou mesmo
ignorância sobre o que é a Doutrina Espírita. Outras há que gostariam que seus
entes desencarnados recebessem boas vibrações através de orações feitas no
núcleo. O livro de preces serve para isso. As pessoas deixam lá os nomes, idade
e endereço dos que elas gostariam que fossem beneficiados pela prece. Um
trabalhador da casa pode ficar responsável por anotar os dados, que posteriormente
serão levados para a reunião mediúnica. Assim, em determinada parte do
trabalho, será feita uma prece a Jesus e aos bons Espíritos, pedindo que possam
interceder junto àqueles que ali estão anotados.
Importante:
sempre que possível, orientar ao público que embora as preces à distância
possam levar ajuda, o ideal é a presença da pessoa na Casa Espírita, onde o
amparo será mais direto e os resultados melhores.
Estudo doutrinário: é
indispensável ao bom funcionamento do Centro Espírita o estudo semanal da Obras
Básicas da Doutrina Espírita. Para os trabalhadores em geral, é aconselhável a
leitura de "O Livro dos Espíritos" e de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo". Quanto aos que trabalham na mediunidade, a leitura de
"O Livro dos Médiuns" torna-se obrigatória para o bom desenvolvimento
de suas faculdades.
Se
a Casa Espírita fica sem estudo torna-se presa fácil de Espíritos atrasados que
vez por outra tentam atrapalhar o bom andamento dos trabalhos em nome de Jesus.
Conhecendo as Obras Básicas da Doutrina, as orientações de Kardec e os
conselhos dos Espíritos superiores os trabalhadores do centro estarão mais
atentos para saberem se estão ou não fazendo da casa um núcleo espírita sério.
As
obras acessórias que existem no movimento espírita, psicografadas (escritas
através de médiuns influenciados por Espíritos) por Chico Xavier, Divaldo
Pereira Franco e tantos outros médiuns de renome também podem ser estudadas,
desde que não sejam o alvo principal dos estudos. O trabalhador precisa estudar
e revisar constantemente as obras de Kardec para poder separar o joio do trigo
existente nas obras acessórias.
Importante: Para os que estão ingressando ou
querendo ingressar nos trabalhos da casa, é importante que o centro tenha um
curso para iniciantes.
Há vários cursos deste tipo no movimento espírita, que trazem um resumo da Doutrina e de sua história. É aconselhável que diferente dos trabalhadores, que devem estudar sempre, os iniciantes tenham um curso de curta duração (no máximo 5 meses, com aulas semanais). Caso contrário, poderão desanimar antes de conhecerem mais a fundo o Espiritismo.
Há vários cursos deste tipo no movimento espírita, que trazem um resumo da Doutrina e de sua história. É aconselhável que diferente dos trabalhadores, que devem estudar sempre, os iniciantes tenham um curso de curta duração (no máximo 5 meses, com aulas semanais). Caso contrário, poderão desanimar antes de conhecerem mais a fundo o Espiritismo.
Assistência material: a
caridade material deve fazer parte de toda Casa Espírita. Se ficarmos apenas na
teoria, sem colocar "a mão na massa", o centro corre o risco de
tornar-se apenas um núcleo de muita conversa e pouco serviço.
Trabalhos
assistenciais a serem desenvolvidos não faltam: visitas a enfermos em
hospitais, manicômios, orfanatos, asilos; distribuição de cestas de alimento,
de roupas, de comida; desenvolvimento de escolas profissionalizantes, cursos de
gestantes, e evangelização infantil em favelas e muitas outras formas de
auxílio aos carentes do pão material.
Todo
trabalhador do Centro Espírita deve buscar ao menos um tipo de caridade
material por semana. Isso desenvolverá dentro dele o sentimento de compaixão ao
próximo, que lhe será muito útil em sua vida, dentro e fora da Casa Espírita.
Divulgação doutrinária: a
Doutrina Espírita precisa ser bem divulgada para que diminuam as confusões
existentes entre ela e cultos espiritualistas ou afro-brasileiros. Ter uma
biblioteca na casa é de extrema importância. O centro poderá comprar ou receber
em doações uma série de livros doutrinários que possam esclarecer o leitor
sobre as bases do Espiritismo e do mundo espiritual.
Estas
obras devem ser emprestadas ao público que terá cerca de vinte dias para ler e
devolvê-la para a casa. Uma pessoa fica responsável pelo empréstimo e anotação
do nome, endereço e telefone do locatário. Com isso, se caso houver uma demora
na devolução, o bibliotecário poderá contatar o leitor e lembrá-lo de devolver
a obra para que outras pessoas possam usufruí-la também.
Outra forma importante de divulgação são os folhetos ou jornais doutrinários que podem ser confeccionados pelo grupo.
Outra forma importante de divulgação são os folhetos ou jornais doutrinários que podem ser confeccionados pelo grupo.
O
teor das matérias deve ser o esclarecimento das práticas espíritas, a exposição
de temas evangélicos e o comentário de situações e fatos do cotidiano à luz da
Doutrina Espírita.
Estes
veículos de divulgação podem ser entregues aos frequentadores da casa, como
também distribuídos nas redondezas do Centro Espírita, de casa em casa,
servindo como propaganda para o núcleo espírita.
Copyright by Grupo Espírita Apóstolo Paulo
Funções de um Centro Espírita, Copyright by Grupo Espírita Apóstolo Paulo
Colocaremos abaixo 10 das principais funções
que devem ser praticadas dentro de um verdadeiro Centro Espírita. A prática
correta ou não destas atividades vai variar de acordo com o conhecimento do
grupo que dirigir a casa. E a melhor maneira de sabermos se os trabalhos estão
sendo feitos dentro dos preceitos de Allan Kardec, é analisarmos os resultados
obtidos na orientação e tratamento dos problemas materiais e espirituais dos que
buscam ajuda no Centro Espírita.
Vamos dividir em duas partes, para não ficar muito extenso.
AS DEZ PRINCIPAIS
ATIVIDADES DO CENTRO ESPÍRITA
Recepção:
aquele que chega pela primeira vez no Centro Espírita geralmente tem uma série
de dúvidas a respeito do funcionamento da casa. Muitas vezes nem sabe o que irá
encontrar ali, haja visto a grande confusão que há na sociedade sobre o que é e o que não
é Espiritismo. Havendo uma recepção, que pode ser uma
simples mesa ou uma sala, o indivíduo poderá para lá se dirigir e obter as
informações sobre horário de funcionamento da casa, trabalhos desenvolvidos
etc.
É
necessário que a pessoa responsável pela recepção tenha total conhecimento das
atividades da casa e que se mantenha simpática em todos os momentos. Precisamos
lembrar que a recepção é o primeiro contato do visitante com o Centro Espírita.
E quase sempre é a primeira impressão que cativará ou afastará o público do
grupo.
Palestras: é o principal
trabalho de uma Casa Espírita. O ser humano só consegue libertar-se de seus
vícios morais ou materiais quando se esclarece dos malefícios que os mesmos
trazem para sua existência. É através das palestras que os oradores conseguem
levar o conhecimento espiritual existente na Doutrina Espírita.
Porém,
por ser uma atividade de maior seriedade, deve ser entregue a pessoas
preparadas doutrinariamente e experientes em relação à vida cotidiana.
O assistente precisa sentir no palestrante o que a Doutrina chama de força moral. Ou seja, que o expositor esteja falando de algo que conhece e pratica.
O tempo destinado à palestra também é importante. Muito curtas, são superficiais; compridas, tornam-se exaustivas. O ideal são palestras que tenham duração de no mínimo 30 minutos e no máximo 40 minutos.
O assistente precisa sentir no palestrante o que a Doutrina chama de força moral. Ou seja, que o expositor esteja falando de algo que conhece e pratica.
O tempo destinado à palestra também é importante. Muito curtas, são superficiais; compridas, tornam-se exaustivas. O ideal são palestras que tenham duração de no mínimo 30 minutos e no máximo 40 minutos.
Seu
teor deve mesclar os postulados da Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus.
Sempre que possível, relacioná-los com o dia-a-dia da sociedade. Assim, o
ouvinte poderá fazer ligações do que está ouvindo com seus próprios problemas e
dúvidas.
Importante: no
momento da palestra, é aconselhável que as demais atividades da Casa sejam
interrompidas para que todos os trabalhadores e público possam escutá-la.
Lembremos que a palestra será o agente modificador do necessitado e
incentivador dos que prestam assistência no núcleo.
Atendimento
particular: chamado
em alguns centros espíritas de consulta ou entrevista, este trabalho visa
orientar e ajudar espiritualmente pessoas detentoras de problemas mais graves,
e quando necessário, submetê-las a um tratamento espiritual.
Em
uma sala reservada, um atendente e um auxiliar (trabalhadores experientes da
casa) receberão para uma conversa íntima indivíduos desajustados
emocionalmente, desesperados, com dificuldades familiares, amorosas,
financeiras, desiludidos da vida.
A
recepcionista da casa se encarregará de preencher uma ficha com os dados
básicos do atendido (nome, idade, estado civil, endereço), encaminhando-a aos
atendentes. Estes, após conversarem com a pessoa, farão os demais apontamentos
que julgarem necessários para o acompanhamento do caso, como: estado emocional,
religião praticante, se é portador de algum desequilíbrio mental já
diagnosticado por médicos, se está sob efeito de remédios, e outras informações
que poderão ajudá-los em um possível tratamento espiritual.
Casas
que já possuem médiuns devidamente preparados poderão detectar durante a
entrevista ou em uma reunião mediúnica se há ou não uma influência espiritual
atuando junto ao ser, orientando-o após isso sobre as atitudes a serem tomadas.
Caso contrário, o atendente terá seu trabalho limitado, mas poderá orientar o
indivíduo dentro de um posicionamento cristão, ajudando-o a corrigir seus
defeitos e encontrar a paz procurada.
Importante:
a)
Todas as informações prestadas pelo entrevistado ao atendente serão altamente
sigilosas. As fichas que contêm anotações sobre a vida particular da pessoa
deverão ficar em um fichário sob a responsabilidade daqueles que participaram
da entrevista.
b)
Caso haja a utilização de um médium verificando a atividade espiritual ao lado
do atendido, possíveis manifestações de Espíritos nunca devem ocorrer na
presença do necessitado, para evitar possíveis distúrbios psíquicos ou
impressões indesejadas.
Reunião
mediúnica:
trata-se de uma reunião íntima onde apenas participam os médiuns (pessoas com
maior capacidade de sentir a influência dos Espíritos) da casa e algum
trabalhador auxiliar, pois ali muitas vezes serão tratados assuntos que dizem
respeito à vida particular de pessoas que buscaram auxílio no Centro Espírita.
Depois de passarem pela sala de atendimento, e verificado possíveis influências
espirituais (obsessão), os casos serão levados às reuniões mediúnicas, ou de
desobcessão.
Nestas
reuniões, o dirigente da sessão fará o que Allan Kardec denominou de evocação,
ou seja: solicitará a Jesus e aos Espíritos superiores que permitam a
manifestação da entidade espiritual que está acompanhando determinado ser. Ao
se manifestar em um dos médiuns presentes, este Espírito receberá o que o
Espiritismo chama de doutrinação, que nada mais é do que uma conversa franca e
amigável com o Espírito comunicante.
O
trabalhador responsável tentará obter do Espírito o que ele deseja ao lado do
necessitado e tentará convencê-lo a afastar sua influência, com a ajuda dos
Espíritos que dirigem a casa.
A
reunião mediúnica também pode servir para que os bons espíritos dêem
orientações e para que os sofredores manifestem-se, podendo ser ajudados
através da conversa.
Importante: para conseguirem-se bons resultados na
doutrinação dos Espíritos é necessário que médium e doutrinador tenham uma vida
moral sadia. Vícios materiais, como o cigarro, a bebida ou as drogas; e vícios
morais, como o adultério, o orgulho, a sensualidade exagerada e a mentira devem
ser combatidos rapidamente por aqueles que se dispõem a trabalhar em nome de
Jesus em um Centro Espírita.
Assim
como nas palestras, onde o exemplo moral do palestrante é que tocará o
indivíduo que o escuta, na mediunidade o Espírito só será convencido de que
precisa se modificar se sentir que quem o está orientando ou dando-lhe passagem
está esforçando-se também para isso. Caso contrário, a evocação dificilmente
trará benefícios ao sofredor.
Tratamento espiritual:
todo aquele em que foi diagnosticada uma influência espiritual (obsessão)
deverá passar por um tratamento espiritual. Ele consiste na aplicação de passes
semanais, a ingestão de água fluidificada e o acompanhamento das palestras no
Centro Espírita, buscando a análise constante das imperfeições que
possibilitaram à má influência instalar-se ao seu lado, tentando melhorar-se
moralmente a cada dia.
Este
tratamento será complementado nas reuniões mediúnicas, onde os responsáveis
pela ajuda continuarão a evocar a entidade perturbadora no sentido de
orientá-la a seguir outro caminho.
Assim,
atua-se nos dois campos que geram o problema obsessivo: o obsedado,
orientando-o moralmente e auxiliando-o fluidicamente; e o obsessor, alertando-o
de seu estado e encaminhando-o para um melhor estágio espiritual.
Centro Espírita - Universidade da Alma, de Sérgio Biagi Gregório
CONTINUAÇÃO...
6. CRISTIANISMO REDIVIVO
6.1. OS ENSINAMENTOS DE JESUS
Jesus, quando esteve encarnado, deixou-nos a diretriz
evangélica para a nossa caminhada espiritual. Disse-nos que no momento oportuno
nos enviaria o Espírito da verdade, o consolador prometido. Falou-nos das
bem-aventuranças e das recompensas de sofrer em seu nome todo o tipo de agravo.
Em sua trajetória, deu-nos o exemplo da humildade, da solidariedade e da
simplicidade. Morreu na cruz para nos ensinar o caminho da salvação. Contudo,
depois da sua passagem por este mundo, quadro de nosso planeta modificou-se por
completo. Foram criados asilos para abrigar os velhos, as mulheres, tratadas
antes como escravas, foram lentamente conquistando a sua independência. Ele não
se dispôs a ensinar verbalmente; não mandou substituto. Tomou sobre si a
charrua, exemplificando pelo trabalho e obediência ao Pai celestial.
6.2. O CONSOLADOR PROMETIDO
O Espiritismo surgiu na época predita, precisamente
depois que a ciência e a filosofia já tinham desenvolvido uma ferramenta de
análise extraordinária. Sua função precípua foi a de rememorar os ensinamentos
do Cristo. Nesse mister, é ignorância desvincular o Espiritismo do
Cristianismo, pois o Espiritismo nada mais é do que o cristianismo redivivo. A
única diferença, se assim o pudermos expressar, é que os Espíritos superiores propiciaram
mais claridade aos pontos obscuros da Doutrina do Cristo; eles suplantaram o
sentido da letra e forneceram-nos uma melhor compreensão do seu aspecto moral e
espiritual.
O consolador veio para consolar. É daí que tiramos a
força necessária para combater o pessimismo crônico. A sua consolação não é uma
consolação da salvação sem esforço. É um trabalho árduo, que nos faz chegar às
causas mais profundas de nosso sofrimento. Diz-nos, com relação às penas e
gozos futuros, que tudo depende de nossa atuação na presente encarnação. Agindo
em função do bem, teremos como recompensa a extensão do bem; agindo em função
do mal, receberemos obrigatoriamente mais dor e sofrimento.
6.3. PRATICANDO OS ENSINAMENTOS DE CRISTO NO CENTRO
ESPÍRITA
O Centro Espírita é o local ideal para colocarmos em
prática os ensinamentos de Cristo. Dentro dele temos a oportunidade de nos
exercitamos no amor ao próximo, na tolerância às ofensas e no desapego aos bens
materiais. Observe que, ao nos irmanarmos num mesmo objetivo, há uma espécie de
sinergia, onde as nossas forças começam a se multiplicar e conseguimos produzir
coisas, que vão além de nossa expectativa mundana.
A ida ao Centro Espírita merece um comentário. Parece
estamos auxiliando os outros, quando na realidade estamos sendo auxiliados.
Quantas não são as vezes que passamos o dia triste, cabisbaixo e pessimista. À
noite, vamos ao Centro Espírita, participamos de um trabalho de Assistência
Espiritual como médium passista. Posteriormente, sentimo-nos mais aliviado,
mais otimista e mais voluntarioso. Pergunta-se: quem foi o beneficiário maior?
Aquele que recebeu o passe? Ou aquele que doou o seu magnetismo?
7. CONCLUSÃO
Como vemos, um Centro Espírita é a universidade da alma,
porque é no seu interior que temos infinitas oportunidades de servir ao próximo
e, ao mesmo tempo, uma excepcional abertura de nossa mente para captar, como um
todo, a evolução espiritual que necessitamos.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e
Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967. EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A
a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995. São Paulo, 18/01/2004
5. O INDIVÍDUO E O GRUPO DE ESPÍRITAS
A figura do cientista, que sozinho fazia as suas
descobertas, está praticamente descartada das universidades. O que se vê é um
trabalho em grupo, onde cada membro pesquisa uma particularidade do tema
central. Isso não implica na extinção do trabalho individual, mas a grande
ênfase, a alocação de recursos se faz num projeto de equipe. Em vista disso, o
grupo, a organização, a entidade deve ter um peso maior, quando comparado ao
indivíduo, membro desse grupo. A Casa Espírita não foge à regra. É aí que mais
devemos aprender a trabalhar em contato com outras pessoas. Para discutir este
tópico, refletiremos sobre os relacionamentos, a responsabilidade e a lei de
cooperação.
5.1. RELACIONAMENTOS
A dinâmica da vida está no relacionamento. Somos um
"Eu" que tem interdependência com outros "Eus". É tendo em
mente a noção de interdependência que cada um dos colaboradores deve procurar
servir o próximo, pois nossas ações estão sempre influenciando aqueles que têm
contato conosco. Podemos dizer que existe uma relação da pessoa com a própria
pessoa, da pessoa com sua família, da pessoa com os seus vizinhos e da pessoa
com a sociedade. O relacionamento implica também a convivência com os
contrários. Quer dizer, eu sou A e você é B, mas tanto eu quanto você
pertencemos ao mesmo dicionário, que é a espécie humana.
Tomemos um Centro Espírita. Qual o seu objetivo? É um
pronto socorro? É uma escola? Uma vez intuído esse objetivo, todas as nossas
ações devem tender para esse fim, sem dele se desviar. Como dissemos
anteriormente, um Centro Espírita é composto pela área de Ensino Doutrinário,
pela área da Assistência Espiritual e pela área da Assistência Social. Todas
essas áreas devem trabalhar de comum acordo, no sentido de prestar os melhores
serviços a todos os que procuram a Casa, tanto para questões materiais como
para questões espirituais. Muitas vezes o nosso egoísmo fala mais alto: damos
demasiada importância ao nosso setor de trabalho. É um erro crasso. Tanto é
importante o serviço da faxineira quanto o do presidente.
5.2. RESPONSABILIDADE
Em filosofia, diz-se da situação de um agente consciente
com relação aos atos que ele pratica voluntariamente. Assim sendo, cada qual
dever responder por seus próprios atos. O que adianta delegar responsabilidade
a uma pessoa, se ela não se julga responsável por tal encargo? Numa Casa
Espírita, onde o trabalho é voluntário, a responsabilidade deve ser absorvida
com muita seriedade, pois embora tenhamos o livre-arbítrio, a Doutrina Espírita
deve ser veiculada na sua maior pureza. Pergunta-se: que tipo de influência
estamos gerando naqueles que nos rodeiam? Somos um mensageiro fiel da Doutrina,
ou estamos transmitindo pseudoconhecimento? Estamos clareando ou confundindo
ainda mais as mentes dos frequentadores?
A Diretoria de uma Casa Espírita deve tornar público toda
a informação, quer seja financeira ou não, a fim de que todos os seus frequentadores
tenham elementos comuns para tirarem as suas próprias conclusões.
Na sociedade, o que permite o erro é tão irresponsável
quanto aquele que o comete. Observe o médico que, na ficha do paciente, anota
uma operação que não tenha feito. O paciente, que sabe disso e o permite, é tão
culpado quanto o médico.
5.3. LEI DE COOPERAÇÃO
A lei de cooperação, apregoada pela Doutrina Espírita,
difere radicalmente da lei de competição da sociedade moderna. Na primeira,
todos têm oportunidade de trabalho; na segunda, somente os mais fortes. A lei
de cooperação exige que tomemos para o nosso encargo aquilo que ficou por fazer;
aquilo que foi rejeitado por todos. Não é procurar ser o primeiro, pisando os
demais. A lei de cooperação pede que saibamos nos doar em favor dos demais. Um
exemplo: se somos bons expositores e o nosso colega precisa falar, devemos nos
abster do discurso, a fim de ouvi-lo com toda a atenção.
O Centro Espírita, como universidade da alma, implica
numa mudança radical das nossas atitudes com relação ao nosso próximo. Em vista
disso, a responsabilidade dos seus dirigentes é grandiosa. Estes devem estar
sempre refletindo sobre a organização, no sentido de dar oportunidade a todos,
sem preferência de cor, raça ou posição social. O que importa é abrir caminhos
para que as potencialidades de seus frequentadores sejam atualizadas.
Sérgio Biagi Gregório
4. SESSÃO ESPÍRITA
4.1. NOSSO PONTO DE PARTIDA
A Sessão Espírita é o ponto de partida de nosso
estudo, pois todas as atividades emergem dela. Podemos defini-la como toda a
sessão, mediúnica ou não, que se realiza numa Casa Espírita. As diversas
reuniões, para que realmente expressem a rubrica "espírita", devem
estar alicerçadas na Doutrina dos Espíritos. Sem essa base, o edifício do
Centro fica comprometido, e é quando vemos a inserção de conteúdos e práticas
de outros credos e religiões.
4.2. SESSÕES PRIORITÁRIAS E SESSÕES SECUNDÁRIAS
As sessões espíritas podem ser vistas sob dois ângulos: prioritárias
e secundárias. As sessões prioritárias dizem respeito ao estudo e
aprendizado da Doutrina. São os cursos, as palestras e as preleções. As secundárias
dizem respeito à Assistência Espiritual, à Assistência Social e às Sessões de
Desenvolvimento Mediúnico.
O ensino pode ser feito através de cursos ou não cursos.
Os cursos têm a vantagem de transmitir o conhecimento – passando do simples
para o complexo ou do conhecido para o desconhecido – de forma ordenada, sem
que haja quebra de continuidade. Um tema puxa o outro, este o seguinte, de modo
que ao longo de um ano letivo teremos o encadeamento de vários assuntos úteis à
nossa formação espiritual.
4.3. OBJETIVO CENTRAL DE UMA SESSÃO ESPÍRITA
O Espiritismo, sendo uma filosofia espiritualista,
procura mudar o estado da alma dos seus adeptos. É sobre este ponto que se deve
concentrar todo o objetivo de uma reunião, quer seja mediúnica ou não. Além
disso, ela deve retratar a simplicidade das reuniões que Jesus realizava na
época em que esteve encarnado. Nada de preces e vibrações longas; apenas as
palavras necessárias para podermos nos adaptar ao ambiente que os Espíritos nos
prepararam para a realização de nossas reuniões.
1. INTRODUÇÃO
Para que possamos entender as razões pelas quais um
Centro Espírita torna-se uma universidade da alma, dividimos o nosso estudo em
sessão espírita, trabalho em grupo e Cristianismo redivivo.
2. CONCEITO
Centro Espírita
- "Local onde os espíritas se reúnem
para trabalhos e estudos doutrinários".
- "Unidade
fundamental do movimento espírita";
- "É
escola de formação espiritual e moral".
- "Deve
ser núcleo de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho com base no
Evangelho de Jesus, à luz da Doutrina Espírita".
- "Uma
grande família, onde as crianças, os jovens, os adultos e os mais idosos tenham
oportunidade de conviver, estudar e trabalhar".
- "Deve
caracterizar-se pela simplicidade própria das primeiras casas do Cristianismo
nascente".
- "É
o oásis de paz e esperança onde esperam encontrar Jesus de braços abertos, para
a doce e suave comunhão da fraternidade e alegria".
- "É
um ponto do Planeta onde a fé raciocinada estuda as leis universais, mormente
no que se reporta à consciência e justiça, à edificação do destino e à
imortalidade dos ser".
- "Lar
de esclarecimento e consolo, renovação e solidariedade, em cujo equilíbrio cada
coração que lhe compõe a estrutura moral se assemelha a peça viva de amor na
sustentação da obra em si". (Equipe da FEB, 1995)
Universidade – Do latim universitas,
termo que dá ideia de um centro (unus), voltado (versus), para a
pluralidade de objetos. Uma ideia, pois, de unidade na pluralidade. O termo se
refere hoje a instituições de ensino superior, congregando de modo integrado,
mais de uma unidade aplicada a determinado ramo do saber. Tais unidades são
chamadas Faculdades ou Escolas Superiores. (Pequena Enciclopédia de Moral e
Civismo)
Alma – Princípio independente da matéria,
que dirige o corpo.
3. ASPECTOS GERAIS
Para que um Centro Espírita exista, há necessidade de
estruturá-lo física, legal e espiritualmente. No âmbito físico, convém prover
as condições de higiene satisfatórias, farta ventilação e fácil fluxo das
pessoas. Legalmente, deve-se prezar pelo cumprimento da lei humana no que diz
respeito à formação de uma sociedade civil, mantendo-se em dia os livros
contábeis e as atas das reuniões. Espiritualmente, motivar as pessoas para o
perfeito equilíbrio no campo das emoções e na mudança de comportamento.
Uma vez registrado o Estatuto nos órgãos competentes, o
Centro Espírita está legalmente apto para começar a funcionar. Para tanto, deve
eleger uma Diretoria Executiva, a qual será responsável pelos destinos da
entidade durante um determinado período de tempo. O desempenho de suas
atividades é facilitado pela confecção dos Regimentos Internos.
A maioria dos Centros Espíritas desenvolve suas
atividades através dos quatro departamentos, a saber: Departamento de
Assistência Espiritual, Departamento de Ensino Doutrinário; Departamento de
Infância, Juventude e Mocidade e Departamento de Assistência Social. Para que
haja um perfeito entrosamento destes com a Diretoria Executiva, faz-se
necessário, muitas vezes, que cada um destes setores renuncie algo de si em
favor de todos.
Questão que se levanta: como fazer com que
um Centro Espírita se torne realmente uma universidade da alma? É o que
pretendemos elaborar a seguir.
O CENTRO ESPÍRITA
Perguntaram ao Richard
Simonetti
1 – O que é o Centro Espírita?
Simonetti - É
o local onde as pessoas se congregam para tratar de assuntos relacionados com a
Doutrina Espírita.
2 – Por que “Centro”?
Simonetti - Como
ocorre com frequência na língua portuguesa, esse termo tem vários significados.
Em se tratando de Doutrina Espírita, podemos considerá-lo sinônimo de
sociedade, expressão mais adequada, que vem sendo usada com frequência na
denominação das instituições doutrinárias espíritas. Mais exatamente, seria
associação, já que, de acordo com o novo código civil, a expressão sociedade
deve ser reservada a empresas de caráter comercial.
3 – Como poderíamos definir as atividades do Centro Espírita?
Simonetti
- São várias, às quais as pessoas têm acesso à medida que se integram. Num
primeiro momento o Centro Espírita tem sido para a maior parte dos que chegam
um hospital para tratamento de males do corpo e da alma.
4 – Quais os recursos mobilizados nesse “hospital”?
Simonetti - Envolvem
passes magnéticos, entrevistas fraternas, trabalhos de vibração, reuniões de
desobsessão… Considere-se, entretanto, que esses recursos são de superfície.
Cuidam de efeitos, envolvendo a visão que as pessoas têm da vida e sua maneira
de viver. Para que tenham efeito duradouro é preciso que os interessados
busquem um segundo estágio.
5 – Qual seria?
Simonetti - A
escola, onde frequentarão cursos de Espiritismo para uma visão objetiva dos
porquês da existência e, sobretudo, das origens de seus problemas de saúde. A
doença é sempre um espelho da alma, mostrando-nos que algo não vai bem em
nossas concepções de vida, em nossa maneira de viver. O aprendizado espírita
faculta-nos esse entendimento.
6 – As pessoas buscam ajuda e aprendem que é preciso que ajudem a si
mesmas?
Simonetti - Isso
é elementar em Espiritismo. Não existe um destino pontuado, em que as coisas
acontecem porque está escrito. Vivemos num regime de causa e efeito em que,
permanentemente, colhemos o que semeamos, envolvendo causas próximas ou remotas,
de hoje, de ontem, do ano passado, de existências pretéritas… Se quisermos que
nosso futuro seja diferente, devemos mudar nosso presente, buscando um
comportamento compatível com a moral evangélica, que resume o que Deus espera
de nós.
7 – Hospital e Escola. Algo mais?
Simonetti - Num
terceiro estágio, o Centro Espírita é abençoada oficina de trabalho onde, pelo
empenho de servir, neutralizamos o grande mal de nossa personalidade – o
egoísmo. É a partir do comportamento voltado unicamente para os interesses
pessoais, que resvalamos para a inconsequência, a desonestidade, o vício, a
agressividade, e tudo o mais que nos compromete.
8 – E a comunhão com Deus? O Centro Espírita não funciona também
como um templo divino?
Simonetti - Templo
é o Universo, a casa de Deus. Vivemos nela. O Centro Espírita é a
escola/oficina, que nos permite, com as iniciativas que sugere, um padrão
vibratório que nos faculte a comunhão com o Pai Celeste. Esse programa
renovador está maravilhosamente definido por Léon Denis, ao proclamar: Tende
por templo o Universo; por imagem, Deus; por lei, a Caridade; por altar, a
Consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário